Se faz bem para a saúde e ajuda a ter melhor qualidade de vida, só pode ser um…amigo. Pesquisas científicas sugerem que ter laços fortes com alguém para ter apoio em momentos de alegria ou de tristeza ajudam na saúde mental e a lidar com as dificuldades. Mas, o que fazer para ter um amigo com tanto trabalho e compromissos ocupando o tempo? Alugar um pode ser uma excelente opção. O chamado personal friend é uma atividade, e, apesar do termo parecer novo, já faz parte da vida de alguns goianos. No Dia da Amizade, comemorado nesta quarta-feira, 20, vamos conhecer um pouco sobre essa outra faceta dentro do relacionamento.
Uma das precursoras desse ramo no país, Renata Cruz atua como amiga de aluguel há 20 anos. Ela começou despretensiosamente em Portugal quando uma amiga que trabalhava com isso não conseguia atender a demanda e a convidou para ajudá-la. Inicialmente, o serviço era gratuito. A cobrança teve início somente quando os compromissos profissionais passaram a atrapalhar outras áreas da vida. Com o tempo, ela se aprimorou na área de coaching e desenvolvimento pessoal.
Atualmente, a profissional gerencia a atividade com outros trabalhos. O valor cobrado por hora presencial ou online varia justamente por esse motivo, ou seja, se houver necessidade de um atendimento urgente ou em horário não comercial, o preço é maior, sendo de R$ 60 a R$ 150. Cruz é bastante requisitada durante crises pessoais e para atividades aparentemente simples, como uma simples conversa. Durante o encontro, ela escuta, fala com jeitinho e manifesta opiniões quando solicitadas. As únicas proibições são encontros em lugares privados, como residência, e sem câmera, por precaução de segurança.
“O assunto predominante são relacionamentos amorosos tanto para homens quanto para mulheres. Muitas vezes, as pessoas querem apenas conselhos. Há uma diferença muito grande entre falar com cliente e com um amigo. Parece simples, mas eu preciso ter muita responsabilidade e empatia. Uma vez o rapaz me disse que era crossdresser, que se vestia de mulher e ninguém mais sabia. Nem sempre querem conversar com um psicólogo. Se eu perceber algo anormal, comparo o cuidado com o corpo ao da mente e sugiro que procure um especialista”, afirma a personal friend.
Amigo em extinção?
A necessidade de se relacionar faz parte da natureza humana, mas a confiança para ser leal é considerada extinta por muitas pessoas. Quase metade dos entrevistados em uma pesquisa realizada em 26 países afirma não ter amigos “de verdade” e 77% deles já acreditava em conexões emocionais mais frágeis em 2019, antes do isolamento social pela Covid, segundo um relatório publicado pela rede de agências de publicidade McCann Worldgroup em parceria com a revista online norte-americana SELF Magazine.
De acordo com Renata, os clientes não são pessoas solitárias. Alguns prezam a solitude, estar só voluntariamente, sem a sensação de vazio, dor ou tristeza por essa condição. Ela frisa que eles têm seus próprios amigos, embora as pessoas pareçam ter perdido o jeitinho de conquistar amizades. Uma simples pesquisa na internet pela palavra amigo gera resultados como “como fazer para encontrar um amigo?, “como encontrar amigos na Internet?”e “quais perguntas fazer a um amigo?. Assim, apostar em um personal friend, nesses casos, não é uma loucura.
“Existem crenças limitantes sobre o amigo de aluguel. É o maior desafio na cabeça das pessoas. Sou acionada porque, por exemplo, querem confidenciar sobre o término de um relacionamento e gostariam de um ponto de vista diferente sobre a história. Nessa fase, muita gente fala o nome do ex com frequência e o taxam como chato, os amigos e familiares não estão dispostos a ouvir ou o cliente não quer preocupar ninguém. Muitas vezes esses pontos de apoio também estão ocupados com seus afazeres”, explica.
Cultivar amizades
Um estudo divulgado nesta semana revelou o número de adolescentes que se dizem sem amigos em todo o País. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta o problema entre 3,2% dos jovens de escolas públicas e particulares brasileiras. A maior parte são meninas. A situação pode ser reflexo do excesso e vício em tecnologia e serve de alerta para as famílias em relação aos cuidados com a saúde mental dos menores de idade.