Aluna cotista de Medicina barrada por não ser parda é aprovada em outra universidade pública: ‘Já estava sem forças’

aluna-cotista-de-medicina-barrada-por-nao-ser-parda-e-aprovada-em-outra-universidade-publica3A-ja-estava-sem-forcas

Aluna cotista que perdeu vaga em Medicina por não ser considerada parda é
aprovada em outra universidade pública: ‘Já estava sem forças’

Samille Ornelas, de 31 anos, havia sido aprovada pelo Sisu na Universidade
Federal Fluminense, mas comitê de heteroidentificação e Justiça afirmaram que
ela não tinha ‘características fenotípicas’ de parda. Agora, a jovem conquistou
uma vaga, também por cotas, na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

Em agosto deste ano, de contou a história de Samille Ornellas, de 31 anos
— à época, a baiana era aluna cotista do curso de Medicina da Universidade Federal
Fluminense (UFF), mas havia perdido a vaga por não ser considerada parda pela
instituição de ensino (leia mais abaixo os detalhes do caso).

Quase três meses depois, quando procurada pela reportagem, ela disse que
ficaria feliz em contar os últimos desdobramentos do caso. Mas só conseguiria
conversar na manhã seguinte, porque “estava na aula de anatomia”. Teria Samille
recuperado sua vaga na UFF?

“A universidade não teve nenhuma abertura para o diálogo, e o processo segue
aguardando julgamento na Justiça. Mas Deus fez tudo certinho: fui aprovada em
medicina na Universidade Federal do Oeste da Bahia. Eu nem lembrava mais que
tinha me inscrito lá no começo do ano, mas passei agora, na 9ª lista de
aprovados”, conta.

Samille diz que, ao receber o telefonema da UFOB, pensou que fosse um golpe.

> “Toda aquela história me fez acumular traumas. Em 2024, eu ainda fui vítima de
> estelionatários que se passaram por advogados para supostamente me ajudar no
> caso da UFF. Perdi R$ 5,5 mil. Mas, dessa vez, deu certo: meu nome estava na
> convocação.”

‘EU SÓ PEDIA A DEUS, ME TIRE DO LUGAR ONDE ESTOU’

Samille foi aprovada em Medicina na UFOB. Em momento algum, Samille havia desistido de estudar Medicina. Antes de passar
na UFOB, enquanto tentava reverter a situação na Justiça, voltou a estudar para
o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Nesse intervalo, a jovem:
– entrou em depressão profunda;
– desenvolveu estresse pós-traumático e crises frequentes de ansiedade;
– teve queda de cabelo
– teve seu corpo cheio de hematomas e descamações.

Só voltou a se olhar no espelho nesta semana, quando se arrumou e fez até
babyliss para tirar as fotos na nova universidade.

> “Ao mesmo tempo, eu tive ajuda de tanta gente, recebi tantas mensagens de
> apoio… Tem pessoas boas no mundo ainda. Mas eu que estava sem forças. Só pedia
> a Deus: me tire do lugar onde eu estou. Faça algo extraordinário na minha
> vida”

É à fé que Samille atribui ter conseguido, após tantos baques, voltar a estudar
medicina. Tudo pareceu se encaixar: um amigo da jovem havia sido transferido para
Barradas, onde fica a UFOB, e aceitou que morassem juntos. A família toda fez
uma força-tarefa para comprar uma passagem de ônibus e garantir que Samille não
perdesse seu primeiro dia de aula.

Ela matriculou-se na instituição de ensino em setembro deste ano, também por
modalidade de cotas, e passou por todo o processo de verificação: envio de
documentos para comprovar renda e avaliação de bancas de heteroidentificação.
Desta vez, não houve nenhum transtorno ao reconhecerem que ela é, de fato,
parda.

“Quando alguém fala a palavra ‘identificação’ ou entra em assunto de banca, eu
imediatamente tenho crise de ansiedade, mesmo agora. Minhas mãos suam muito”,
diz.

> “Para você ter uma ideia, quando chega qualquer e-mail da universidade, pode
> até ser o cardápio da semana, já fico nervosa, com medo que algo dê errado.
> Ainda preciso superar esse trauma, mas é questão de tempo, se Deus quiser”

‘ESTOU MUITO ANIMADA’

No último ano, Samille perdeu a avó e o pai. Ela os menciona diversas vezes ao
longo da conversa, lamentando que nenhum deles pôde vê-la de jaleco.

De alguma forma, ela quer homenagear sua família. Agora, o foco é pensar no avô,
que morreu há mais tempo, após um infarto — ele não conseguiu ter seus problemas
cardíacos diagnosticados pelos serviços de saúde da região onde morava.

“Aqui na UFOB, eu vou lidar com quem também mora longe de centros urbanos. Nesta
semana, vamos visitar um posto de saúde rural e uma aldeia indígena. Estou muito
animada”, diz.

> “Um dos meus propósitos dentro da medicina é não deixar morrer quem não teve
> acesso limitado a serviços de saúde.”

Box de Notícias Centralizado

🔔 Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram e no WhatsApp