Amazonas é o 2º estado do Norte com mais chacinas entre 1988 e 2023, aponta
pesquisa
Com registro de 29 casos, o Amazonas fica atrás apenas do Pará, que lidera a
Região Norte com 69 chacinas. Acre e Rondônia têm 16 casos cada, e o Tocantins,
nove.
Amazonas é o 2º estado do Norte com o maior número de chacinas entre 1988
e 2023, diz pesquisa — Foto: Divulgação/SEAP
O Amazonas é o 2º estado da Região Norte com o maior número de chacinas entre
1988 e 2023, segundo o Mapa de Chacinas Norte e Nordeste. O levantamento foi
realizado em parceria entre a Rede Liberdade e o grupo de pesquisa e extensão
Clínica de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e
Pesquisa (IDP). A pesquisa foi divulgada com exclusividade pelo DE.
Ao todo, mais de duas mil mortes em 489 chacinas foram mapeadas nas duas regiões
no período. A Bahia soma o maior número de casos documentados: 103 chacinas.
Na Região Norte, o Pará lidera com 69 chacinas, seguido do Amazonas, com 29. A
lista traz, ainda, o Acre e Rondônia, com 16, cada, e o Tocantins, com nove.
De acordo com o levantamento, os casos registrados no Amazonas representam 5,93%
do total de chacinas registradas no país durante o período. Os episódios
ocorreram em Manaus, Beruri, Iranduba, Itacoatiara, Nova Olinda do Norte e Tabatinga, na região de fronteira.
Integrante da equipe da pesquisa, o cientista de dados Alexandre Kakuhama
apontou que um dos obstáculos enfrentados foi a ausência de dados sistematizados
sobre chacinas. Sendo assim, a saída encontrada pelos pesquisadores foi a
análise de reportagens que noticiaram esses crimes.
“Acessamos em portais de notícias, fizemos levantamento de quantas vezes foram
noticiadas chacinas nesses números do Norte e Nordeste ao longo de diversos
anos. E, depois de alguns tratamentos, de algumas filtragens, a gente chegou
nesses números”, descreveu.
O levantamento identificou que as 489 chacinas registradas entre 1988 e 2023
resultaram em 2.117 mortes. Desse total, 339 ocorrências foram na região
Nordeste e levaram a 1.291 mortes. No Norte do país, foram 150 chacinas com 826
vítimas.
Segundo a pesquisa, 2015 foi o ano com o maior número de casos: 64. No entanto,
em 2017 houve o maior número de mortes, 384 no total.
Apesar de não haver um perfil racial, a pesquisa mostra que as chacinas atingem
comunidades negras, quilombolas e indígenas de forma desproporcional, o que
acaba sendo intensificado pela falta de monitoramento e responsabilização dos
autores.
Para o historiador e especialista em Segurança Pública Dudu Ribeiro, as chacinas
estão dentro de uma lógica interna de guerra, e que se pode sim caracterizar
como um massacre racial. Além disso, fazem parte do repertório de um tipo de
policiamento pautado em uma lógica da violência, da ocupação violenta dos
territórios e do inimigo interno pensado como a população negra e periférica do
país.
> “Em grande parte está relacionado com a chamada guerra às drogas, que não é
> uma guerra contra substâncias, mas sim uma guerra contra pessoas e
> determinadas pessoas e seus territórios”, apontou.
Dentro desse contexto, ele problematiza o entendimento que se consolidou de que
operações especiais de alta letalidade estão relacionadas à eficácia e
eficiência. Fato que vai de encontro ao que deveria ser o papel das forças de
segurança, cujo papel é de proteger vidas.
Decisões políticas e de gestão contribuíram para que o estado tivesse destaque
negativo no tema segurança pública, mas não só elas, acredita Dudu. Para ele,
não é uma crise de gestão que acontece na Bahia, mas sim uma crise do modelo
adotado no estado “baseado na lógica da guerra”. Diante disso, ele vê a
necessidade de repensar a lógica da segurança pública.
“Um modelo baseado no militarismo que é construído em todos os lugares do mundo
para a eliminação do inimigo e a proteção do território e não com a prioridade
da proteção da vida”, criticou.