Ano após compra, terreno do estádio Flamengo no Gasômetro segue incerto

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Um ano após a compra, terreno do estádio do Flamengo no Gasômetro vive indefinições

Duas das três empresas contratadas já entregaram relatório ao clube, mas análise de solo e acordo definitivo com a Caixa ainda são pendências; veja imagens atuais

No dia 31 de julho de 2024, o Flamengo [https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/] arrematou o terreno do Gasômetro por R$ 138,1 milhões. Localizado em região central do Rio de Janeiro, o local de pouco mais de 88 mil metros quadrados virou peça de propaganda de lançamentos imobiliários na região e materializou o sonhado estádio rubro-negro. Um ano depois, no entanto, sob nova gestão no clube, a área vive indefinições.

O terreno foi comprado no fim da gestão do então presidente do Flamengo, Rodolfo Landim. Mas o candidato de oposição, Luiz Eduardo Baptista, o BAP, venceu a eleição em dezembro e adotou cautela sobre o local, vizinho ao Terminal Gentileza e à Rodoviária Novo Rio. Atualmente, poucas alterações são vistas no terreno, conforme fotos aéreas da semana passada feitas por André Durão, fotógrafo do ge, que também havia registrado as imagens no ano passado. A única mudança notável é a derrubada de algumas edificações do terreno em volta de uma torre.

Em abril deste ano, o Flamengo anunciou a contratação de três empresas para análises técnicas do solo e revisão completa do que BAP chamou de “estudos preliminares” feitos na gestão Landim. A coordenação dos trabalhos é da Arena E+V, a mesma empresa contratada por Landim. O ex-presidente sempre garantiu que o custo total do estádio, entre obra e modificações no entorno, seria abaixo de R$ 2 bilhões. BAP dizia que os números estavam, no mínimo, defasados. O ge apurou que duas empresas já entregaram os relatórios ao Flamengo de BAP. A Soloteste, que fez levantamentos de dados geotécnicos, entregou o trabalho em cerca de 30 dias. Pouco depois, em menos de dois meses completos, a JDS Engenharia de Precisão também enviou as análises topográficas. O trabalho mais elaborado, da AECOM, que deve investigar a contaminação do solo e fazer a avaliação de riscos, deveria ficar pronto em outubro, mas pode ser entregue apenas em 2026.

Em fevereiro, pouco depois de assumir a presidência, BAP afirmou que o estádio custaria muito mais do que o estimado por Landim e citou custos de “R$ 3 bilhões ou mais”. Nem BAP nem Landim nem a Arena responderam ao ge sobre as previsões de orçamento bem dissonantes neste um ano de compra do Gasômetro. Tampouco os estudos foram divulgados ou apresentados. O atual presidente do Flamengo disse em fevereiro que a Fundação Getúlio Vargas pediu 60 dias para entregar o relatório de viabilidade financeira do estádio. Mais de 120 dias depois, o Flamengo também não apresentou o estudo da FGV.

Por orientação da Prefeitura do Rio, a gestão Landim se guiou em estudo já existente para a construção do Terminal Gentileza, vizinho de terreno. Há duas semanas, Landim, em entrevista à CNN Brasil, colocou em dúvida o empenho de BAP para levar adiante o projeto do estádio. O edital do leilão do Gasômetro previa dois prazos na construção do estádio hoje muito distantes de serem cumpridos. Em 18 meses desde o Termo da Promessa de Compra e Venda, assinado em 16 de agosto de 2024, o clube deveria entregar à Prefeitura o projeto básico do estádio – ou seja, até fevereiro do ano que vem. Outro prazo, de 36 meses, prorrogáveis por mais 36 meses, era da execução do projeto. São sete anos e meio ao todo.

A Prefeitura foi questionada pelo ge a respeito dos prazos previstos em edital, mas limitou-se a responder que, “no momento, o Clube de Regatas do Flamengo e a Caixa, antiga proprietária do imóvel, debatem sobre a análise do valor do terreno. A Prefeitura do Rio já concluiu todos os processos administrativos para que o clube utilize o do terreno”. A questão com a Caixa Econômica Federal, administradora do fundo de investimento que detinha o terreno do Gasômetro, é outra indefinição no caso. O edital da Prefeitura era claro no item 4.2.4 ao dizer que “o interessado deverá se responsabilizar por eventuais remanejamentos de redes de gás que se encontrem no terreno”. Ou seja, o Flamengo deveria arcar com estes custos. Mas, na semana passada, o prefeito Eduardo Paes tornou público ofício ao Flamengo em que dizia: a Prefeitura do Rio de Janeiro ficará responsável por esses custos. Os valores desse suposto futuro investimento da Prefeitura foram estimados em cerca de R$ 250 milhões em ação dos advogados da Caixa contra a desapropriação, em agosto do ano passado. A desmobilização ainda levaria dois anos, de acordo com o processo revelado por Fabricio Chicca, no canal Mundo da Bola no YouTube.

Ao mesmo tempo em que passa a bola ao Flamengo, a Prefeitura ainda acena com projeto de lei para o Flamengo vender o potencial construtivo da sede da Gávea. A operação é similar ao caso do Vasco para a reforma de São Januário. Pelo acordo com a Caixa, o Flamengo não utilizaria o Certificado de Potencial Adicional de Construção (CEPAC) e a Caixa seria recompensada com a expansão para São Cristóvão da área de utilização das CEPACs do Porto Maravilha. A Caixa trata o caso ainda como “pré-acordo”, assinado em 3 de outubro de 2024. O documento dizia que o Flamengo pagaria, em cinco parcelas, mais R$ 23,9 milhões para encerrar a ação judicial contra a desapropriação movida pela Caixa. O que ainda não aconteceu. Em nota, a Caixa informou ao ge que “aguarda a manifestação da nova diretoria do clube para assinatura do acordo definitivo, nos termos pré-acordados na mediação”.

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