Após quatro décadas, aranponga volta a ser registrada em cidade que recebeu nome
da ave
Observadores fotografaram um jovem e um adulto da espécie em um assentamento
agrário, no município de Arapongas, no norte do Paraná.
Ave foi fotografada em um assentamento agrário, no município de Arapongas
(PR) — Foto: Marcílio José Garbelini
Ave foi fotografada em um assentamento agrário, no município de Arapongas (PR) —
Foto: Marcílio José Garbelini
“Pulei com o carro ainda em movimento, enquanto meu amigo estacionava, corri
para fazer a foto”, descreve empolgado, Emerson Alher, ou, Bilizinho, como é
conhecido o observador de aves que junto com o colega, Marcílio José Garbelini,
o Zé do Mel; fizeram o único registro oficial de uma araponga (Procnias
nudicollis), para a cidade que fica no Norte do Paraná e leva o nome do pássaro.
O sol ainda estava forte, era por volta das duas horas da tarde, quando os dois
amigos ouviram o som potente e inconfundível da Mata Atlântica. Na sequência,
eles avistaram um jovem macho da espécie, que ainda não tinha as penas
totalmente brancas.
A ave estava se alimentando em um pé de palmeira juçara no assentamento
Dorcelina Folador, que fica no município de Arapongas. “Há uns 20 dias recebemos
a informação de que o pássaro tinha sido visto por lá, pegamos o carro e fomos
conferir. Quando chegamos, já ouvimos a ave cantar à uns 200 metros de distância
e logo ela apareceu. Enquanto, fotografávamos uma, escutávamos outra cantando
ali perto. Nesse dia não conseguimos avistar esse outro indivíduo”, explica Zé
do Mel.
No dia seguinte, Bilizinho, voltou ao assentamento sozinho e fez o registro de
um macho adulto da espécie. “A araponga estava em um pé de cereja, comendo
frutinhas. Era um galho baixo e a ave nem se incomodou comigo, filmei com o
celular. Foram registros emocionantes, não dá nem para acreditar”, conta
Bilizinho, que mora em Aricanduva, cidade que faz divisa com Arapongas.
Palavra araponga vem do tupi e significa “ave sonante” — Foto: Marcílio
José Garbelini
Palavra araponga vem do tupi e significa “ave sonante” — Foto: Marcílio José
Garbelini
A ave foi flagrada em árvores frutíferas no assentamento, perto de casas e áreas
de produção, sendo que a mata mais próxima fica há dois quilômetros de onde
foram feitos os registros. “Acredito que elas estavam procurando comida fora da
floresta. Foi um flagrante em um lugar bem incomum, diferente de onde a espécie
costuma viver, que geralmente são áreas de Mata Atlântica fechada e bem
preservadas”, explica Zé do Mel.
QUANDO DE, UM DOS PRINCIPAIS SITES DE CIÊNCIA CIDADÃ DO BRASIL, FOI
FUNDADO HÁ 16 ANOS, JÁ NÃO EXISTIAM RELATOS DA ESPÉCIE NO MUNICÍPIO DE
ARAPONGAS, POR ISSO ELA NÃO CONSTAVA NA PLATAFORMA. “A ARAPONGA ERA UM PÁSSARO
BEM COMUM NA REGIÃO ATÉ O FIM DA DÉCADA DE 1980. DEPOIS DISSO, ELA DESAPARECEU,
NUNCA MAIS SE VIU COM FREQUÊNCIA NA CIDADE”, EXPLICA O HISTORIADOR GEAN CARLO
CEREIA.
O DESMATAMENTO É UM DOS PRINCIPAIS MOTIVOS PARA O DESAPARECIMENTO DA ESPÉCIE,
QUE É UMA IMPORTANTE DISPERSORA DE SEMENTES.
Indivíduo adulto da espécie — Foto: Marcílio José Garbelini
Indivíduo adulto da espécie — Foto: Marcílio José Garbelini
A palavra araponga vem do tupi e significa “ave sonante”, o nome tem tudo a ver
com o canto metálico e potente que pode ser ouvido a um quilômetro de distância.
Somente o macho canta, para atrair a fêmea, ou, defender território. Ele tem uma
plumagem branca, mas na garganta e em parte da cabeça, a espécie não tem penas;
o que se destaca é uma “pele” de cor marcante: verde-jade.
ORIGEM DO NOME
o nome do município fundado em 1947 é no plural, Arapongas. O motivo
está relacionado à quantidade de aves da espécie que existia na região onde foi
criado o município.
“A origem do nome, está ligada com Elizabeth Thomas, uma das fundadoras do
município, que se depara com uma imensa quantidade de aves cantando e fica
curiosa: ‘Que aves são essas?’ Quando ela descobriu, sugeriu colocar o nome de
‘Arapongas’, claro, na época ainda era uma vila, um distrito e a paisagem era
bem diferente, a mata era alta e fechada, própria para essa espécie”, explica o
historiador Gean Carlo Cereia. Outra curiosidade é que todas as 1600 ruas de Arapongas têm nome de aves. “Em
1964, seu Liberto Mantovani, que era funcionário público, fez uma proposta, um
projeto de lei, para colocar nomes de pássaros em todas as ruas e em 1967 todos
os endereços passaram a ter nomes de aves”, completa o historiador.
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