Última atualização 27/08/2022 | 10:17
O cheque é coisa do passado para a maioria das pessoas, mas o pagamento pela ‘folhinha de papel’ resiste às inovações digitais. Costume, fuga de golpes modernos, relutância em arcar com taxas de máquinas de cartões ou ainda independência em relação a falhas nos sistemas de aplicativos ou Internet são apontados como as principais causas de os talões resistirem ao tempo. Um levantamento recente apontou que 2022 registrou a maior queda dessa modalidade nos últimos 15 anos, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Na borracharia de Eli José de Moura, localizada no Setor Garavelo, em Goiânia, os cheques são aceitos há 20 anos ininterruptamente. Apesar disso, ele permite a quitação dos serviços pelo método tradicional somente para os nomes inseridos em uma lista de clientes. A estratégia tem dado certo porque, segundo o empresário, já são dois anos sem a dor de cabeça de lidar com cheques sem fundo.
“Eu até prefiro o cheque porque não pago juros ou aqueles 5% de retorno para as operadoras de cartão. Quem costuma usar ainda são pessoas acima dos 40 anos. Por incrível que pareça, muita gente dessa faixa não saber fazer pix”, diz.
Ele explica ainda, que muitos clientes repassam cheques que receberam de terceiros. Alguns são pré-datados para 30, 60 ou 90 dias. O problema da falta de fundos costumava ocorrer mesmo quando eram entregues por pessoas “cadastradas” há pelo menos 10 anos.
Mas, nesses casos, bastava uma ligação para o conhecido, que resolvia a pendência por depósito bancário ou pix. Desde quando aderiu a essa forma de pagamento, já foram cerca de R$ 100 mil em cheques “voadores”, como são conhecidos quando voltam por falta de dinheiro na conta bancária, quase todos resolvidos.
No interior do estado, a prática de usar cheque é comum. De acordo com o representante comercial de cosméticos e utilidades, Marcus Vinícius Gama Rotondano, alguns pagam e recebem com as folhas mesmo se valendo também de boletos. O cuidado é o mesmo de qualquer empresa: avaliação do ‘nome’ do cliente na praça, se há alguma pendência ou restrição de crédito e consulta o CNPJ.
“Recebo muito de supermercado, empresa…Quando acontece de ‘voltar’, o que é raro, eu fotografo a folha, envio para o cliente, ele faz um pix ou depósito e espera eu devolver para ele por sedex ou quando passar pela cidade novamente”, ressalta.
Em 2021, o número de cheques compensados no Brasil caiu para 218,9 milhões, uma redução de 93,4% em relação ao ano de 1995, início da série histórica, quando foram compensados 3,3 bilhões de cheques.
Na comparação com 2020, a queda foi de 23,7% – naquele ano, foram compensados 287,1 milhões de documentos em todo o país. Não há dados regionais, de acordo com a Febraban. As estatísticas têm como base a Compe – Serviço de Compensação de Cheques.