O dia 21 de setembro é dedicado à luta das pessoas com deficiência no Brasil. O registro é importante, mas ainda há muitos desafios, principlamente no ingresso desse público. A conquista do emprego geralmente é repleta de dificuldades, que são ainda maiores para candidatos com algum tipo de limitação. Problemas infraestruturais e culturais das empresas costumam ser os principais entraves para a entrada desses candidatos, apesar de corresponderem a 24% da população brasileira ou 46 milhões de pessoas, conforme o Censo 2010.
Empresas e candidatos reclamam de pontos que parecem não encaixar com os interesses de ambos. Uma lei criada há mais de 30 anos obriga o preenchimento de 2% a 5% dos postos de trabalho com reabilitados e pessoas com deficiência (PcD) nas corporações com mais de cem funcionários. Apesar disso, a democratização dos espaços não costuma ocorrer de forma ampla.
Fernanda Gomes, de 42 anos, teve paralisia cerebral ao nascer e se locomove com ajuda de uma cadeira de rodas. Somente há dez anos teve a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Ela enfrentou muito preconceito e se deparou com muitas portas fechadas quando os empregadores se davam conta que ela apresentava limitações físicas.
“Sempre que me viam na entrevista diziam que a vaga já tinha sido preenchida e que naquele momento para determinada função, geralmente eram de auxiliar administrativo. Escutei com frequência, assim como colegas ainda escutam. Nenhuma outra empresa me aceitou. Por causa da questão infraestrutural, fica mais complicado, apesar de muita coisa já ter mudado para melhor”, destaca.
Um convênio entre o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran) e a Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (Adfego) foi a chance que ela precisava para ter a experiência no mercado de trabalho e para garantir renda. Fernanda havia encaminhado um currículo para a instituição de apoio a PcD, que foi redirecionado para a demanda de call center.
Desde então, ela trabalha seis horas por dia prestando atendimento aos usuários da autarquia na própria Adfego devido ao espaço físico disponível estar adaptado. A coordenadora do departamento de seleção da Adfego, Ana Rosa, confirma o relato compartilhado por Fernanda.
“As empresas afirmam que não encontram candidatos capacitados para algumas funções. Percebemos que as instituições realmente interessadas e decididas a contratar pessoas com deficiência conseguem. Um exemplo disso é a própria Adfego, que é uma prestadora de serviço e sempre fechamos nossas vagas”, diz.
Libras
Na Associação dos Surdos de Goiânia, a assistente social Marilza Parreira lida com um problema aparentemente simples, mas complicado para resolver em curto prazo. Os envolvidos não falam a mesma língua. Ela afirma que os pretendentes às vagas possuem as competências necessárias, porém os gestores não consegue orientar essas pessoas na equipe por não falarem na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
“A meu ver a dificuldade já se apresenta na contratação. Muitos profissionais de Recursos Humanos das empresas perguntam se temos pessoas para preencher determinada vaga, mas pedem que ‘ouçam um pouco’. Alegam que conseguiriam se comunicar com o candidato. Eu respondo ressaltando que trabalhamos com pessoas com deficiência auditiva”, esclarece.
A limitação das vagas surge como mais um empecilho para os trabalhadores com deficiência. As opções costumam se restringir a áreas administrativas e call centers ou serviços gerais e almoxarifado. Para Ana Rosa, da Adfego, essas funções são consideradas pelas empresas mais acessíveis a esse público.
No entanto, Marilza entende que seria uma espécie de preconceito. “Pensam que eles só conseguem desempenhar essas tarefas, mas sabemos que todos tem um potencial incrível”, pontua, ressaltando que se trata de uma chance para contribuir para a inclusão social, ganhar em diversidade e vivenciar novas experiências.
Incentivo
Um evento nesta quarta-feira, 21, promete colaborar para estreitar o caminho entre quem quer contratar PcD e quem se encaixa nesse perfil e quer trabalhar. A sexta edição do Fórum Goiano de Inclusão no Mercado de Trabalho das Pessoas com Deficiência e dos Reabilitados pelo INSS (FIMTPODER) promove um Dia D voltado para debate sobre superações e desafios no mercado de trabalho.
A iniciativa pretende incluir essa parcela da população no mercado de trabalho goiano por meio de uma série de ações permanentes, como capacitações, oferta de vagas e apoio às empresas na preparação para a empregabilidade.