Após protesto contra guerra em telejornal, jornalista russa é levada ao tribunal

A jornalista russa Marina Ovsyannikova foi conduzida a um tribunal de Moscou no começo na tarde desta terça-feira, 15, um dia após invadir um estúdio da emissora estatal Canal 1 para protestar contra a guerra na Ucrânia.

Em um desafio à mordaça estabelecida pelo Kremlin à manifestações contrárias à guerra, Ovsyannikova invadiu a transmissão do telejornal noturno da emissora na segunda-feira, 14, pedindo o fim da guerra e denunciando a “propaganda” do governo russo.

Produtora da emissora, a jornalista foi presa logo após a divulgação das imagens, e grupos de direitos humanos afirmaram que não conseguiram contato com ela por mais de 12 horas. De acordo com a BBC News, a jornalista não foi processada com base na nova lei russa – que pode resultar em até 15 anos de prisão -, mas por uma denúncia administrativa sobre “organizar um evento público não autorizado”, o que pode resultar em prisão de 10 dias e multa de até 30 mil rublos (cerca de R$ 1.400).

“No war. Acabem com a guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui eles estão mentindo para você. Russians against war (Russos contra a guerra)”, dizia a faixa que a jornalista empunhava, segundo a agência de notícias russa Sputnik. Outras imagens passaram a ser exibidas após a jornalista aparecer em frente as câmeras, mas ela continuou a gritar frases como “parem a guerra” e “não à guerra” durante a transmissão.

Antes de invadir o set da emissora, Ovsyannikova gravou uma mensagem em vídeo na qual disse que seu pai é ucraniano e sua mãe é russa. Ela descreveu a guerra na Ucrânia como um “crime” e pediu ao povo russo que se manifestasse publicamente.

“Infelizmente, tenho trabalhado no Channel One nos últimos anos, trabalhando na propaganda do Kremlin”, disse. “E agora estou muito envergonhada. Estou envergonhada por ter permitido que as mentiras fossem ditas nas telas de TV. Estou envergonhada por ter deixado o povo russo ser ‘zumbificado’.”

Durante uma coletiva de imprensa na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou as ações da produtora de TV como “hooliganismo” e disse que a emissora, não o Kremlin, estava “lidando com isso”.

O protesto da jornalista foi saudado em todo o mundo como um ato de resistência. O presidente ucraniano Volodmir Zelenski agradeceu pessoalmente “a mulher que entrou no estúdio do Channel One” em uma de suas atualizações regulares de vídeo para a nação, postadas no Telegram.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a França está oferecendo proteção da embaixada francesa e asilo à ativista antiguerra. Macron condenou qualquer detenção de jornalistas e espera que a situação de Ovsiannikova seja esclarecida “o mais rápido possível”.

James Cleverly, um ministro júnior do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, disse à BBC nesta terça que o país estava “preocupado” com sua segurança. “Esses atos de desafio dentro da Rússia… são incrivelmente importantes”, disse ele. “Isso mostra um enorme grau de bravura para esses indivíduos protestarem no que é, sabemos, um estado autoritário opressivo ”

“É muito importante que o povo russo entenda o que está sendo feito em seu nome”, disse Cleverly.

Kira Yarmish, porta-voz do líder da oposição russa preso Alexei Navalny, elogiou Ovsyannikova, compartilhando o vídeo em sua conta no Twitter.

Milhares de pessoas que se manifestaram contra o conflito foram presas na Rússia, de acordo com a OVD-Info, que diz que a invasão e suas consequências “mudou irrevogavelmente” a sociedade russa. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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Tribunal Penal Internacional emite mandado de prisão contra Netanyahu e líder do Hamas por crimes de guerra

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu, nesta quinta-feira, 21, mandados de prisão internacional para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o ex-ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e o líder do Hamas, Mohammed Deif, por supostos crimes de guerra e contra a humanidade.
 
Os mandados foram expedidos após o procurador do TPI, Karim Khan, ter solicitado a prisão deles em maio, citando crimes relacionados aos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e à resposta militar israelense em Gaza. O TPI afirmou ter encontrado “motivos razoáveis” para acreditar que Netanyahu e Gallant têm responsabilidade criminal por crimes de guerra, incluindo a “fome como método de guerra” e os “crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos”.
 
Netanyahu e Gallant são acusados de terem privado intencionalmente a população civil de Gaza de bens essenciais à sua sobrevivência, como alimentos, água, medicamentos, combustível e eletricidade, entre outubro de 2023 e maio de 2024. Essas ações resultaram em consequências graves, incluindo a morte de civis, especialmente crianças, devido à desnutrição e desidratação.
 
Mohammed Deif, líder militar do Hamas, também foi alvo de um mandado de prisão. O TPI encontrou “motivos razoáveis” para acreditar que Deif é responsável por “crimes contra a humanidade, incluindo assassinato, extermínio, tortura, estupro e outras formas de violência sexual, bem como crimes de guerra de assassinato, tratamento cruel, tortura, tomada de reféns, ultrajes à dignidade pessoal, estupro e outras formas de violência sexual”.
 
Os mandados de prisão foram emitidos para todos os 124 países signatários do TPI, incluindo o Brasil, o que significa que os governos desses países se comprometem a cumprir a sentença e prender qualquer um dos condenados caso eles entrem em territórios nacionais.
O governo israelense rejeitou a decisão do TPI, questionando a jurisdição do tribunal sobre o caso. No entanto, os juízes rejeitaram o recurso por unanimidade e emitiram os mandados. O gabinete de Netanyahu classificou a sentença de “antissemita” e “mentiras absurdas”, enquanto o líder da oposição, Yair Lapid, a chamou de “uma recompensa ao terrorismo”. O ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett também criticou a decisão, considerando-a uma “vergonha” para o TPI.
O conflito na Faixa de Gaza, que se arrasta há mais de um ano, deixou milhares de mortos e devastou a região. A decisão do TPI simboliza um avanço na responsabilização por crimes graves, embora sua eficácia prática seja limitada, dado que Israel e os Estados Unidos não são membros do TPI e não reconhecem sua jurisdição.

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