Grafiteiro usa impressora 3D e faz mural sensorial para cegos no interior de SP:
‘Sentir a arte’
Mural sensorial foi grafitado no Instituto Jundiaiense Luiz Braille, que oferece atendimento oftalmológico via SUS em Jundiaí (SP).
Grafiteiro faz arte com texturas para ser ‘visível’ para pessoas cegas em Jundiaí
A arte underground do graffiti tornou-se literalmente palpável em Jundiaí, no interior de São Paulo. Por meio da impressão 3D de peças que montam um “quebra-cabeça”, um artista grafitou um muro no Instituto Jundiaiense Luiz Braille para que pessoas cegas ou com alguma dificuldade visual possam sentir a arte com as mãos.
O projeto, chamado “Graffiti Pra Cego Ver” leva acessibilidade multissensorial para pessoas com deficiência visual em diversas regiões com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC). A iniciativa foi desenvolvida por uma produtora inclusiva, com uma direção composta por pessoas com deficiência, como baixa visão, autismo e encurtamento de membros. O grupo já organizou murais sensoriais no Beco do Batman e outros locais do Centro de São Paulo, em parceria com diferentes grafiteiros.
A proposta do graffiti sensorial, segundo a produtora, é poder transformar a arte de rua em algo acessível, além de permitir que a obra seja interpretada, tocada, ouvida e sentida por todos, por meio de texturas, inscrições em braille e QR codes com áudios descritivos.
Ao DE, André Fernandes de Oliveira, de 41 anos, conhecido pelo nome artístico “O Estranho”, assim como no filme “O Estranho Mundo de Jack”, contou que o projeto em três dimensões foi feito com a impressão de peças em uma impressora 3D com uma resina específica, que foram montadas em um painel acoplado à parede.
Inicialmente, o desenho foi feito pelo artista, de forma digital, e o projeto foi transformado em um arquivo de texturas para ser impresso e montado como se fosse um quebra-cabeças pela equipe da produtora.
O artista destacou que trabalhou com graffiti em impressão 3D pela primeira vez, mas que a experiência foi única em poder fazer este público “sentir a arte”. Um exemplo da mudança de texturas pode ser observada na touca do personagem, em que tentou fazer algo que fosse semelhante a pontos de tricô de uma touca de lã. A estratégia é uma forma de permitir que pessoas cegas ou de baixa visão percebam as trocas de cores apenas com o toque.
PRESENTE PARA AS PESSOAS
O psicólogo do setor de reabilitação do instituto, Gilson Modesto, é cego e elogiou a iniciativa. Ao DE, o especialista, que já foi assistido pela instituição, contou que a obra foi um presente para as pessoas com cegueira ou baixa visão, que mostrou que o Braille é necessário, mesmo com a chegada da tecnologia.
Segundo José Carlos de Lima, presidente do Instituto Luiz Braille, que oferece atendimento oftalmológico via SUS no município, a obra é uma “forma de trazer a arte para perto dos assistidos, que vai ajudar nas terapias realizadas pela reabilitação”.
DA CAPITAL PARA JUNDIAÍ
O Estranho nasceu na capital, mas desenvolveu suas habilidades no graffiti ainda na adolescência, quando se mudou para o interior. Foi em Jundiaí que André teve contato com artistas locais e aprendeu diferentes técnicas de se expressar por meio da arte. Entre suas inspirações estão grafiteiros como Insano, Esgoto, Imortal e Acne.
As obras de André podem ser vistas em diversas cidades na região do interior de São Paulo, em bairros e vielas como em Campinas, Valinhos, Indaiatuba ou Caieiras, mas também estão em países como o México e Austrália.
Além deste trabalho à convite da equipe da produtora, O Estranho também fez artes esculpidas em madeira, que de certa forma também podem ser apreciadas de forma sensorial, apesar de não terem sido feitas com esta finalidade.