Acima de 70 anos, lúcidos, de baixa renda e com filhos: quem eram os idosos internados em asilos clandestinos no interior de SP
Todas as 36 pessoas que viviam nas casas de repouso foram resgatadas e acolhidas por outras instituições desde que Eva Maria de Lima, responsável pelo Meu Doce Lar, foi presa no domingo (2). Ela estava impedida pela Justiça de manter os locais em funcionamento.
Famílias pagavam R$ 2,5 mil por mês para asilos clandestinos em Ribeirão Preto
De baixa renda, com idades entre 72 e 85 anos e com família. Este é o perfil dos 36 idosos que eram mantidos nas três casas de repouso que funcionavam de maneira clandestina em Ribeirão Preto (SP).
Todos eles foram resgatados e acolhidos por outras instituições desde que Eva Maria de Lima, responsável pelo Meu Doce Lar, foi presa no domingo (2).
Os asilos mantidos por ela estavam impedidos de funcionar por determinação judicial desde abril deste ano, mas Eva descumpriu todas as liminares e mantinha as casas abertas, inclusive, para novos moradores.
A mensalidade cobrada por ela chegava a R$ 2,5 mil e, segundo o promotor de Justiça da Pessoa Idosa, Carlos Cezar Barbosa, muitas das famílias utilizavam o benefício de prestação continuada para deixar o idoso em um destes locais.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à fome, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), é a garantia de um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual ou superior a 65 anos. O BPC não é aposentadoria e, para ter direito, não é preciso ter contribuído para o INSS.
“Todos [os moradores que viviam nos asilos clandestinos] são pessoas pobres, todos são pessoas pobres, que, talvez, fossem o perfil de Assistência Social, de instituição filantrópica. Não tenho a menor dúvida disso, porque, pelo valor que ela cobrava desses idosos, em torno de R$ 2 mil, acolhia um idoso em troca do benefício de prestação continuada, que é um salário mínimo”.
Ainda segundo o promotor, em alguns casos, a família pode, inclusive ter complementado o valor do BPC para conseguir manter a mensalidade.
“A defesa de Eva nega todas as acusações e afirma que, enquanto as casas estavam sob administração dela, sempre houve zelo, respeito e dedicação para dar qualidade de vida aos idosos assistidos, todos de baixa renda e muitos abandonados pelas famílias.
Outro ponto que chamou a atenção do Ministério Público é que os idosos resgatados dos lares de repouso Meu Doce Lar têm certa autonomia e são lúcidos.
Ao DE, Barbosa informou que eles apresentam até grau 2 na escala de dependência que avalia o desempenho de uma pessoa com mais de 60 anos para realização de atividades diárias.
“Não tenho notícia de que tivesse alguém de grau 3. Acho que era mais grau 1 e grau 2. Não vejo nenhuma condição de ela [Eva] manter alguém de grau 3, porque grau 3 se alimenta por sonda e necessita de troca de fraldas periodicamente durante o dia”.
Ao todo, 36 idosos foram resgatados no último domingo. Sete deles estavam em uma casa no bairro Parque Ribeirão, na zona Oeste da cidade, e foram encaminhados a unidades de saúde, onde foram internados.
Os outros 29 foram encaminhados para instituições no Centro e no bairro Alto da Boa Vista sob cuidados de equipes da Prefeitura de Ribeirão Preto, que assumiu os locais emergencialmente.




