Até quando? Órfão do feminicídio, relato de menino de 5 anos ajudou a polícia
a esclarecer a morte da mãe, diz avô
Crianças de 2 e 5 anos viram a mãe ser morta pelo pai e colocada na geladeira.
Menino passou a detalhar tudo que tinha visto, do início ao fim. A pena do
assassino, portanto, deve ser aumentada.
Até quando? A dor dos órfãos do feminicídio
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Até quando? A dor dos órfãos do feminicídio
Os dois filhos de Millena Vitória, a jovem de 22 anos que foi morta na frente
das crianças pelo ex-marido
[https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/11/04/jovem-e-morta-na-zona-oeste-do-rio.ghtml],
Marcos Vinícius, passam por tratamento psicológico atualmente. Eles se enquadram
no que se chama de “órfãos do feminicídio” – filhos deixados em situação
vulnerável por conta da perda brutal da mãe.
No caso da família de Millena, o trauma é mais profundo: as duas crianças, de 2
e 5 anos, viram a mãe ser morta esganada e esfaqueada. Depois, ainda
presenciaram o pai ocultar o corpo dentro de uma geladeira.
> “Ele quis criar um monstro no meu neto, porque uma criança assistir a tudo
> isso, qualquer pessoa… Só por ele fazer isso, já não é um ser humano, ainda
> mais na frente de duas crianças”, diz a avó, Fabiana Garcia.
Esse é um dos assuntos abordados na série especial do DE “Até quando?”. As
reportagens contam histórias de vítimas, o luto de suas famílias e os
desdobramentos que as suas mortes ocasionam, como os órfãos do feminicídio.
A família relata que Marcos buscou o filho, de 5 anos, na sexta-feira pensando
que levaria o menino para ver a avó paterna e passear. O casal estava separado
havia 20 dias, e Millena permitiu que a criança fosse com ele. Horas depois, ele
passou a enviar mensagens dizendo que ela não veria mais o filho.
“Ela falou: ‘Mãe, ele ainda não trouxe o menino’, e eu falei para ela que se até
ao dia seguinte ele não trouxesse, que a gente ia na delegacia. Quando foi
segunda de manhã, ele chegou na casa dela, ela abriu o portão para receber o
filho, ele entrou e fez essa covardia com a minha filha”, relata a mãe.
Marcos Vinícius se entregou à polícia poucas horas depois de matar Millena. Ele
responde por feminicídio e ocultação de cadáver.
Série ‘Até quando’:
RJ teve quase 9 feminicídios e 32 tentativas por mês em 2024
‘Você não vai viver longe de mim’, disse ex antes de matar a mulher na frente
dos filhos de 2 e 5 anos
TRAUMA
Depois de cometer o crime, o homem pegou as crianças e levou para a casa da irmã
dele. Foi ela quem telefonou para os pais de Milena com a notícia de que ela
tinha sido morta, depois que o homem confessou para a família. Leia o relato
aqui.
“Ela me ligou novamente perguntando se tinha sido isso mesmo que tinha
acontecido. Meu esposo confirmou, e ela disse: ‘Olha, pode vir buscar as
crianças porque eu não tenho condições de ficar com eles’. Fomos no mesmo dia,
eu queria meus netos comigo”, relembra.
Millena Vitória foi morta pelo ex-marido – Foto: Arquivo pessoal
Vivendo o luto pela perda da filha, o casal não sabia o que esperar da reação
das crianças. O menino, que compreendia um pouco mais o que tinha acontecido,
estava em silêncio e em estado de choque. Quando voltou a falar, passou a
relatar, com detalhes, tudo que tinha visto, do início ao fim.
A família viveu a agonia de ouvir e reviver a cena durante toda a madrugada
daquele dia. Depois, a criança não conseguia entender a morte da mãe e passou a
pedir aos familiares que a retirassem da geladeira e a colocassem na cama, com
cobertor.
> “Ele falou para o meu filho: ‘Vai lá chamar minha mãe para dormir aqui na
> cama’. E o meu filho disse: ‘Sua mãe agora está morando com Jesus no céu’, e
> ele respondeu: ‘Não, ela está lá na geladeira’”, conta o avô.