Até que ponto aplicativos podem ser usados na saúde; veja respostas

A relação entre o digital e a saúde é cada vez mais próxima e não está apenas no ambiente de um hospital. Com poucos cliques, aplicativos prometem ajudar alguém a seguir uma dieta, saber de que produtos a pele precisa e até fazer o diagnóstico de problemas neurológicos, por exemplo.

No início do mês de maio, cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, anunciaram a criação de um aplicativo que pode rastrear doenças ou transtornos como Alzheimer e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

O aplicativo usa a câmera dos celulares mais modernos, que têm tecnologia infravermelha, para reconhecer o rosto do usuário. O dispositivo observa mudanças no tamanho da pupila do paciente. Esta variação no olho pode estar ligada a funções neurológicas.

O neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Delson da Silva, experiente em casos de Alzheimer, explica que não existe um único exame responsável por chegar ao diagnóstico da doença. “Temos exames complementares, como a ressonância magnética, que ajudam. Mas o diagnóstico é clínico, feito pelo médico, ao observar o histórico do paciente, por exemplo”, explica.

Para o especialista, o estudo dos cientistas é bom e pode ser promissor. Por outro lado, ele avalia que ainda não é possível dizer que o aplicativo poderia ser usado com confiança. “O trabalho tem relevância muito grande, mas ainda é muito cedo, do ponto de vista prático, para usá-lo como algo capaz de afirmar categoricamente sobre qualquer doença do sistema nervoso central. Mas é uma ferramenta de pesquisa que pode se tornar útil”, opina.

O especialista lembra ainda que variações na pupila, usadas pelo aplicativo para perceber os possíveis sinais de TDAH e Alzheimer, são comuns. “Se estamos emocionados ou apaixonados, a pupila dilata. Medicamentos também podem influenciar. Tudo isso pode induzir o aplicativo ao erro. A ferramenta pode vir a ser usada como fator para o diagnóstico, mas não pode ser o único instrumento para diagnosticar”, conclui.

Alimentação

Em uma única pesquisa na internet, a busca por aplicativos que “ajudam a fazer dieta” resulta em listas com diversos nomes. O nutricionista Dário Damando Filho explica que as plataformas podem ajudar e trazer vantagens se forem utilizados da forma certa. “Desde que seja usado por nutricionista que tenha feito a consulta e entendido o paciente, o aplicativo pode ajudar no cálculo dietético”, afirma.

Segundo o especialista, existem aplicativos em que o nutricionista cria a dieta e, só depois disso, o paciente tem acesso às informações. “Isso pode facilitar e tirar o engessamento daquele planejamento impresso ou por PDF. No aplicativo, o paciente consegue ter acesso à variedade de opções de alimentos e receitas, de acordo com a individualidade e seguindo o que foi proposto a ele. Nesse caso, o paciente só consegue conferir as informações do aplicativo se tiver passado por uma consulta”, detalha.

Por outro lado, sem a orientação profissional, o uso traz riscos. “Se não funcionar dessa forma – que dê acesso a cálculos, calorias, formas de planejar uma alimentação, formas de calcular uma prescrição nutricional – isso já não é um aplicativo de confiança porque o único profissional capacitado para isso é o nutricionista”, conclui.

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