Press "Enter" to skip to content

Atentado em escola paulista relembra massacre há cinco anos em Goiânia 

Última atualização 27/03/2023 | 17:46

O assassinato de uma professora e a agressão contra quatro pessoas em uma escola em São Paulo nesta segunda-feira, 27, relembra a chacina no colégio Goyazes há cinco anos, em Goiânia. Em ambos os casos, os autores eram alunos do oitavo ano e teriam cometido o crime por bullying. Em 2022, aproximadamente 20 massacres foram evitados no estado. Brasil registrou ao menos ataques dentro de escolas em 20 anos.

 

No mês passado, uma estudante de 16 anos levou uma facada na porta de uma escola em Caldas Novas após brigar com uma garota de 18 anos. Gravações feitas por testemunhas mostraram a jovem mais velha com uma faca na mão atingindo a menor. Em seguida, ela é segurada por dois homens e tenta acertar a vítima novamente. A adolescente teve um corte superficial na pele.

 

Além dos massacres realizados, ameaças desse tipo de crime se tornaram mais recorrentes. Um jovem foi apreendido neste mês por ter criado um perfil no Instagram anunciando massacre em escola de Aparecida de Goiânia. Em abril do ano passado, dois adolescentes, de 14 e 16 anos, enviaram áudios prometendo assassinato em série em escola estadual de Goiânia. Em setembro, dois menores agiram da mesma forma em São Francisco de Goiás.

 

A tragédia no colégio Goyazes resultou na morte dos adolescentes João Pedro Calembo e João Vitor Gomes , ferimento de outros quatro, tendo um deles tendo ficado paraplégica. A intervenção da coordenadora da escola acalmando o autor até a chegada da polícia impediu que houvesse mais vítimas. A armas usada para atirar contra os colegas era da mãe dele, uma policial militar. O menor foi apreendido, cumpriu internação de três anos e foi liberado em 2020.

 

Os conselhos tutelares registram, mensalmente, 25 casos dessa natureza. Em alguns casos, os anúncios são trotes para evitar a realização de provas, por exemplo, Foi o que aconteceu no Colégio Santo Agostinho, em Goiânia, em outubro do ano passado. Na ocasião, uma mensagem na porta do banheiro informava que havia um artefato no local que mataria todas as pessoas. 

 

Estudos científicos internacionais feitos com base na análise do perfil de dezenas de atiradores no mundo concluíram que não havia sinal de psicopatia nos atiradores na maioria dos casos. A avaliação é que as experiências de vida, como traumas, abusos ou outros fatores sociais, podem desenvolver um comportamento agressivo em uma pessoa sem sinais de doença mental.

 

Apelo

 

Os massacres podem ser compreendidos como um grito de socorro, segundo a psicóloga Carolina Ribeiro. Ela explica que a ação não é premeditada, mas uma reação a um histórico bastante complexo do adolescente somado a questões de hábitos de vida. O bullying é citado como uma das formas de violência geradoras de tragédias. Uma simples pesquisa na internet revela que se trata de um problema em nível nacional com os mesmos elementos, basicamente.

 

“O outro não se comporta atacando para fazer mal, mas para se proteger, se resguardar. Nem todos são psicopatas. É necessário avaliar o meio social, os traumas, como é a relação familiar, possíveis transtornos não tratados…A ansiedade mesmo pode desencadear fobia social e comportamento agressivo e impulsivo. Nesse contexto, qualquer situação pode ser uma ‘gatilho’, como uma simples brincadeira de um colega em que um passa a xingar o outro. Há todo um histórico por trás. Isso não acontece ‘do nada’”, diz.

 

Carolina destaca que o isolamento promovido por jogos online, internet e demais telas rodeando o adolescente precisam ser levados em consideração. Os comentários da família sobre ele também pesam muito porque, em vez de acolher, podem afastar a pessoa quando passa a ser taxada como estranha, problemática ou esquisita. A estratégia mais indicada seria usufruir de um tempo de qualidade para criar vínculos de relacionamento. Essa aproximação, de acordo com a especialista, gera confiança e o menor pode ser sentir confortável para desabafar sobre o que o aflige.

 

“Não basta beijar, abraçar e dizer que ama. Os pais ou responsáveis podem simplesmente se sentar juntos aos filhos e conversarem, sem outras distrações. Ele vai se sentir amado. É o momento propício para criar espaço entre os envolvidos e ouvir antes de possíveis situações de conflito. Por isso, os adolescentes e as famílias precisam de psicoterapia. Só assim saberão lidar com a situação até porque não há cura e sim controle”, pontua.

 

Relembre alguns massacres em escolas brasileiras:

 

1-Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral, no Espírito Santo (25 de novembro de 2022):  três mortos e outros 13 feridos 

2- Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral, no Ceará (5 de outubro de 2022): três estudantes feridos

3- Escola de Barreiras, Bahia (26 de setembro de 2022): uma aluna foi morta

4-Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro (6 de maio de 2022): três foram esfaqueados

5-Escola Aquarela, em Saudades, Santa Catarina ( 4 de maio de 2021): três crianças e duas funcionárias morreram

6-Escola Estadual Orlando Tavares, em Minas Gerais (7 de novembro de 2019): dois alunos ficaram feridos 

7-Colégio Estadual João Manoel Mondrone, Paraná (28 de setembro de 2019): dois alunos ficaram feridos e um outro foi atingido de raspão em uma das pernas por um disparo de arma de fogo

8-Centro Educacional Unificado Aricanduva, em São Paulo ( 19 de setembro de 2019): um professor foi esfaqueado 

9-Escola Estadual Raul Brasil, em São Paulo (13 de março de 2019): cinco alunos e duas funcionárias foram mortos

10-Colégio Goyazes, em Goiânia (20 de outubro de 2017): dois estudantes morreram e outros quatro ficaram feridos 

11- Escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro (7 de abril de 2011): 12 crianças foram mortas

Isso vai fechar em 0 segundos