Uma série de áudios enviados pelo chefe da Receita Federal no governo de Jair Bolsonaro, Júlio César Vieira Gomes, revelam insistência para liberação de joias de R$ 16,5 milhões apreendidos pelo órgão por não terem sido declarados como itens pessoais do ex-presidente. O servidor chegou a acionar um funcionário que estava de folga para burlar o procedimento adotado para evitar o pagamento de impostos. O presente valioso tornou o político alvo de investigações e foi obrigado a devolver os itens, que são de patrimônio público.
“Bota todo mundo para trabalhar de forma que a gente consiga cumprir isso daí. Disponibiliza amanhã às 5 horas da tarde, tá?”, pressionou Gomes em uma gravação enviada para o superintendente da Receita em São Paulo, José Roberto Mazarin.
Diversos “mensageiros” teriam enviado emails com ofícios que justificariam a regularização. O pedido foi feito pouco mais de um ano após a chegada da comitiva de Bolsonaro da Árábia Saudita ao Brasil. À época do desembarque, a isenção de cobrança de quaisquer taxas poderia ter ocorrido se as peças de luxo tivessem sido identificadas como presente para o Estado porque ficariam com a União. A intervenção de Gomes teria gerado bastante desconforto entre os servidores da Receita, considerando que as solicitações estavam em desacordo com os trâmites administrativos e legais.
Mazarin havia esclarecido que faltavam documentações, mas os constantes pedidos de liberação das joias o fez se consultar com o superior hierárquico, subsecretário-geral da Receita, José de Assis. Ele reconheceu que havia problemas burocráticos e seria necessário a comprovação e encaminhamento para a União e não ao acervo privado de Bolsonaro. O ex-presidente declarou em depoimento à Polícia Federal (PF) que realmente pediu a Gomes que conversasse com o então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, para solucionar o caso.
Ao todo, teriam ocorrido oito tentativas de reaver um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes da marca suíça Chopard. Bolsonaro disse que as joias foram um presente do governo saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O terceiro estojo com os presentes valiosos foram entregues no início deste mês; o segundo e o primeiro foram enviados à Caixa Econômica Federal (CEF) em março.
Confira o áudio:
Confira quais os presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro:
Primeiro pacote: coleção feminina com colar de R$ 16,5 milhões presentado pelo governo saudita;
Segundo pacote: joias masculinas, como relógio, abotoaduras, caneta, rosário árabe da marca Chopard;
Terceiro pacote: relógio de luxo e joias da marca Rolex.