Aumento de 26,3%: Ceará registra 24 casos de feminicídio no 1º semestre de 2025; veja ações de combate aos crimes

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Ceará tem 24 casos de feminicídio no primeiro semestre de 2025; conheça ações de combate aos crimes

O número representa um aumento de 26,3% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 19 feminicídios.

Entenda o que é o crime de feminicídio Vinte e quatro mulheres foram vítimas de feminicídio no Ceará no primeiro semestre de 2025, conforme os dados da Superintendência de Pesquisa e Estratégia (Supesp), disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) nesta segunda-feira (14).

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“O número representa um aumento de 26,3% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 19 feminicídios.”

A quantidade de mulheres assassinadas nos primeiros seis meses deste ano é a maior dos últimos oito anos considerando o mesmo período. Feminicídios no Ceará no primeiro semestre de cada ano De janeiro a junho Fonte: Supesp

Os assassinatos de mulheres no contexto de violência doméstica ou em aversão ao gênero da vítima neste primeiro semestre ocorreram nas cidades de Fortaleza, Tamboril, Aracoiaba, Aquiraz, Parambu, Maracanaú, Sobral, Independência, Viçosa do Ceará, Trairi, Beberibe, Juazeiro do Norte, Várzea Alegre, Meruoca e Canindé.

As vítimas tinham entre 18 e 57 anos. A maioria delas foi assassinada com arma branca, seguida de arma de fogo e outros meios.

MÊS MAIS VIOLENTO Feminicídios no mês de junho De 2018 a 2025 Fonte: Supesp

Junho foi o mês mais violento deste primeiro semestre, com 11 casos de feminicídio nos de municípios de Sobral, Trairi, Beberibe, Juazeiro do Norte, Várzea Alegre, Sobral, Meruoca e Canindé.

O número de mulheres mortas em um único mês é o maior desde 2018, quando a Supesp passou a contabilizar os crimes deste tipo.

Uma das vítimas mortas neste mês é a jovem Lorena Ferreira, de 18 anos, que foi assassinada e teve a cabeça decapitada, na zona rural do município de Trairi. O crime foi cometido por um idoso de 62 anos, que não se conformava com o fato de a jovem não corresponder ao interesse amoroso dele.

O homem que matou Lorena foi preso após sofrer uma tentativa de linchamento por parte de populares. Porém, ele morreu dias depois no hospital em que estava internado.

Rafaela de Lima Almeida, de 29 anos, morreu quatro dias após ser esfaqueada pelo ex-marido em Juazeiro do Norte. — Foto: Reprodução

Outro caso que chamou atenção foi o de Rafaela de Lima Almeida, de 29 anos, esfaqueada pelo ex-companheiro na saída do condomínio em que morava, em Juazeiro do Norte. A jovem chegou a ficar internada, mas morreu quatro dias depois do ataque.

O suspeito do crime, Leandro Augusto de Oliveira, de 34 anos, conhecido como “Galego”, se entregou à polícia. Ele não aceitava o fim do relacionamento.

Paulo Jander Policarpo da Silva, de 37 anos, não aceitava o fim do relacionamento e matou Camile Alves da Silva, de 22 anos, em Sobral. — Foto: Arquivo pessoal

A mesma motivação foi usada pelo agente de saúde Paulo Jander Policarpo da Silva, de 37 anos, para matar a tiros Camile Alves da Silva, de 22 anos, em Sobral. O crime aconteceu na frente do filho da mulher, um garoto de 5 anos, que não ficou ferido.

Após atacar a vítima, o homem tirou a própria vida. Ele tinha passagens por ameaça e lesão corporal no âmbito de violência doméstica.

‘VIOLÊNCIA NORMALIZADA’

Camile Alves, Lorena Ferreira e Rafaela de Lima estão entre as vítimas de feminicídios ocorridos no Ceará no primeiro semestre deste ano. — Foto: Arquivo pessoal

Para a psicanalista e membro da Frente de Mulheres do Cariri, Macedônia Felix, o feminicídio é um crime estrutural, associado à forma como a pessoa se relaciona com o outro, o que vem desde a infância. O crime encontra ainda mais dificuldade de ser combatido por ser normalizado.

> “A violência, ela já está sendo ensinada. Tanto é que crianças testemunham violência dentro de casa, falas agressivas de violência psicológica com a própria criança. Qual é um outro lugar onde está sendo ensinado diferente? Se a gente for pensar na educação infantil, em nenhum outro lugar. Então, a gente está trabalhando para enfrentar um crime que ainda é normalizado, porque o feminicídio, ele é o ápice do ódio ao feminino, é a eliminação da mulher, mas ele começa desde quando a mulher é manipulada, é enganada, é perseguida”, disse Macedônia Felix.

Macedônia destaca que a violência começa com o controle: ciúmes disfarçados de cuidado, manipulação emocional, perseguição.

“Isso ainda é dito que é amor, que é cuidado, mas é controle. E esse controle vai crescendo, vai evoluindo até o assassinato. Essa mulher não é assassinada no início da relação, porque a relação já tem um tempo. Todas essas mulheres que foram assassinadas, ou elas terminaram a relação, ou elas estavam tentando terminar”, falou a psicanalista.

Outro ponto é o medo das vítimas de violência em fazer a denúncia. Pois embora seja um ato essencial, ainda é algo solitário.

“Tem uma solidão muito grande com as mulheres que denunciam. Muitas ficam sem apoio, porque a família do acusado pegava a criança na escola, deixava, ajudava. Quando ela denuncia, ela não tem mais essa ajuda. Não têm um apoio de uma família, de uma amiga, de um amigo, porque a sociedade é machista. Essa mulher, muitas vezes, ainda é questionada por que ela só disse agora”, destacou a ativista.

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA

Ceará tem 11 delegacias especializadas no atendimento a mulheres vítimas de violência. — Foto: Governo do Ceará/ Divulgação

A Secretaria da Segurança Pública informou que tem intensificado esforços para enfrentar o cenário do feminicídio no estado, reforçando ações para segurança das mulheres. Somente em 2025, foram solicitadas 1.431 Medidas Protetivas de Urgência.

Uma dessas iniciativas foi a inauguração da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) em Fortaleza, no Bairro Papicu, em março deste ano. O equipamento é 11ª delegacia do tipo instalada em território cearense, sendo duas localizadas na capital, além das que funcionam em Maracanaú, Caucaia, Pacatuba, Iguatu, Crato, Juazeiro do Norte, Icó, Sobral e Quixadá.

A capital conta ainda com a DDM localizada dentro da Casa da Mulher Brasileira, no Bairro Couto Fernandes, que oferece suporte jurídico, psicológico e social às vítimas.

“Como parte da nova reestruturação das Forças de Segurança do Ceará, sancionada em dezembro de 2024, pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas, a SSPDS, por meio da Coordenadoria de Defesa Social (Codes), responsável pelo fortalecimento dos laços de cooperação entre a sociedade e a segurança pública, criou uma célula de Proteção à Mulher e outra de apoio a Grupos Vulneráveis, além de uma terceira célula relacionada à Integração Comunitária”, disse a Secretaria da Segurança.

O fortalecimento da segurança pública também passa por uma reestruturação institucional. Em dezembro de 2024, o governador Elmano de Freitas sancionou a nova organização da SSPDS, que resultou na criação de três novas células dentro da Coordenadoria de Defesa Social (Codes): a Célula de Proteção à Mulher, a de Apoio a Grupos Vulneráveis e outra voltada à Integração Comunitária.

O órgão destacou ainda que, buscando fortalecer a rede de atendimento e ampliar o acesso rápido aos serviços de proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, a Polícia Civil, em parceria com a Secretaria das Mulheres (SEM) e a SSPDS, lançou, em agosto de 2023, o sistema de solicitação de medidas protetivas de urgência de forma virtual que podem ser solicitadas pela internet.

Ainda segundo a Secretaria, no âmbito da Polícia Militar, o trabalho de acolhimento é realizado pelo Grupo de Apoio às Vítimas de Violência (Gavv), ligado ao Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac). O grupo realiza, em média, 2.500 atendimentos permanentes por mês, prestando suporte a mulheres e demais integrantes de grupos vulneráveis.

AÇÕES DE COMBATE

Ceará possui atualmente 60 equipamentos de proteção às mulheres. — Foto: Governo do Ceará/ Divulgação

O Governo do Ceará também tem buscado fortalecer a rede de proteção às mulheres e ampliar o acesso a serviços de segurança, com medidas estruturais, tecnológicas e operacionais.

Atualmente o Estado conta com 60 equipamentos de proteção às mulheres, entre Casa da Mulher Brasileira, Casas da Mulher Cearense e Casas da Mulher Municipal, Delegacias de Defesa da Mulher e Salas Lilás, que já realizaram mais de 9 mil atendimentos somente no primeiro semestre deste ano.

“Acreditamos que a melhor forma de combater a violência contra a mulher no Estado do Ceará é ampliando a rede de acolhimento e proteção a essas mulheres em situação de vulnerabilidade, por isso, o Governo do Ceará criou o Programa Ceará Por Elas onde Governo do Estado e Municipal firmam uma parceria com o objetivo de ampliar a interiorização dos equipamentos de proteção à mulher”, disse a secretária das Mulheres do Ceará, Lia Gomes.

Além desses, ainda há a previsão que outras três Casas da Mulher Cearense sejam construídas nos municípios de Tauá, Iguatu e Crateús e ocorra a implantação e de mais três Casas da Mulher Brasileira, nos municípios de Itapipoca, São Benedito e Limoeiro do Norte.

“Com equipamentos de acolhimento e proteção espalhados pelo Ceará, as mulheres podem contar com o suporte necessário para romper com ciclos de violência, com atendimento, orientação jurídica e psicológica, além de acessar programas que visam garantir sua segurança, autonomia econômica e fortalecimento da rede de apoio”, disse a secretária das Mulheres do Ceará.

PROJETO OFERECE AUTONOMIA FINANCEIRA A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Em meio ao cenário de vulnerabilidade e altos índices de violência, uma iniciativa vem transformando a vida de centenas de mulheres através de ações que propiciam a autonomia financeira: o projeto Empodera.

A iniciativa, vinculada ao Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PreVio), do Governo do Ceará, já beneficiou 263 mulheres desde seu lançamento, em novembro do ano passado, com ações em Fortaleza e em outros nove municípios.

O projeto tem como objetivo romper o ciclo da violência doméstica e familiar por meio do fortalecimento pessoal e da autonomia financeira da mulher.

De acordo com Gabriela Freitas, gerente do projeto, o Empodera é voltado para mulheres que buscaram ajuda na rede de atendimento à violência doméstica e estão prontas para recomeçar.

“O projeto como um todo é um apoio para essas mulheres que estão no ciclo da violência e que estão nesse caminho do rompimento, dessa libertação. Nossa avaliação é que a gente impacta, contribui justamente dando apoio, assistência e cuidado para que essas mulheres possam atravessar e vencer esse ciclo”, disse Gabriela Freitas.

O Empodera se desenvolve em três etapas ao longo de dez meses. A primeira é o empoderamento pessoal, com encontros semanais que tratam de saúde mental, autoestima, racismo e reconhecimento dos potenciais do território onde vivem.

“É um espaço de cuidado, um espaço de fortalecimento da autoestima, de redescoberta dessas mulheres como protagonistas da própria vida”, falou Gabriela.

Na segunda fase, o foco se volta para o empoderamento econômico. Com orientação de especialistas, as participantes aprendem a estruturar seus próprios negócios. Ao fim dessa etapa, todas que entregam um plano de negócios recebem um “Capital Semente”, de R$ 2 mil, para iniciar seu empreendimento.

“Esse valor de 2 mil reais é um fomento financeiro para que elas possam investir em insumos, fazer pequenas reformas nos locais que elas estão projetando para ser o espaço delas. […] É importante destacar que essa medida de repasse de fomento com o acompanhamento técnico, cotidiano, ele é inédito”, destacou a gerente do Empodera.

A terceira fase, chamada “incubadora”, dura três meses e oferece orientações para garantir a sustentabilidade e o sucesso dos empreendimentos iniciados.

“A gente percebe um impacto na família dessas mulheres. Mulheres que têm a sua autoestima reconstruída, mulheres que começam a ter sua independência financeira, que servem de apoio para outras pessoas da família, mas que passam a servir de inspiração, seja para os filhos, para as filhas, para esse contexto familiar, assim como um impacto na comunidade”, falou Gabriela.

DENÚNCIAS

Casos de violência podem ser comunicados por meio do Disque 190, da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), que conta com atendimento especializado via Grupo de Despacho do Copac (GD-Copac). O serviço garante um atendimento diferenciado já na ligação.

Outro canal de denúncias é o número 180, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

As denúncias podem ser feitas ainda para o número 181, o Disque-Denúncia da SSPDS, ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia ou ainda via “e-denúncia”, o site do serviço 181, por meio do endereço eletrônico.

O QUE É FEMINICÍDIO

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