Press "Enter" to skip to content

Autismo: inclusão exige aprimoramento de recursos humanos e materiais

Última atualização 24/04/2023 | 08:19

Um dos grandes desafios para as famílias de crianças autistas é a inclusão escolar. Muitas instituições da rede privada reconhecem a dificuldade ou mesmo inabilidade em lidar com pessoas nesta condição e orientam a realização da matrícula no ensino público. Em Goiânia, 1.121 estudantes diagnosticados com o transtorno estão matriculados nas unidades de ensino do município. O número de alunos com autismo tem crescido anualmente: em 2017, eles eram 77 mil  e em 2021 já somavam 300 mil, de acordo com o  Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

 

A advogada Tatiana Takeda é mãe de Theo Luiz Takeda, de 11 anos, que é uma criança autista. “A busca por inclusão escolar é a meta que todas as instituições de ensino devem ter. A legislação é clara e, a partir do momento que a escola recebe a concessão pública que lhe autoriza a funcionar, ela também deve observar e cumprir o que rege o sistema educacional brasileiro que se pauta nas considerações da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, que prima pelo respeito às individualidades de cada estudante”, destaca. 

 

Para ela, não há uma “receita de bolo” para a escola se adaptar, apenas é preciso entender que cada aluno com autismo tem sua singularidade. Na capital, os estudantes da rede pública municipal são acompanhados pelas equipes multidisciplinares da Secretaria de Educação de Goiânia (SME). Além do acolhimento nas escolas, o Atendimento Educacional Especializado é ofertado em dois Centros Municipal de Apoio a Inclusão (CMAI), Centros de Atendimento Educacional Especializado (CAEE), CAE Renascer, Corae e Apae.  Além disso,  os alunos dispõem de 43 Salas de Recursos Multifuncionais , que atendem a faixa etária de 3 anos até a Escola de Jovens e Adultos (EJA).

 

O esforço e acompanhamentos multidisciplinares devem fazer parte da rotina das crianças com autismo. Tatiana afirma que o filho cursa o 6º ano em uma escola particular e recebe o suporte necessário para o desenvolvimento. Contudo, ela avalia que ainda há muitas barreiras a serem transpostas. “Destaco a discriminação, o bullying e o capacitismo. Nós temos que enfrentá-las para que nossos autistas, que são pessoas com deficiência para todos os fins legais, possam concorrer com as demais, com isonomia nas oportunidades. A partir do momento que você retira as barreiras atitudinais impostas pela sociedade e oferece as ferramentas de inclusão, você proporciona condições de inserção e participação”, aponta.

 

De acordo com o orientador educacional do Colégio Integrado, Welton Siqueira, a instituição escolar precisa estar sensível para a determinação do apoio que deverá ser concedido ao estudante neurodivergente. “Os alunos precisam ser acompanhados de perto para que a equipe pedagógica possa identificar e entender qual é a necessidade de auxílio que eles necessitam, independentemente do grau de suporte determinado pelo diagnóstico de TEA [Transtorno de Espectro Autista]. Somente assim conseguimos adaptar as atividades, de forma que esses alunos sejam incluídos dentro do contexto da sala de aula, nas atividades regulares”, pontua o educador, que junto a uma equipe multiprofissional do Integrado, orienta a formação de 17 crianças e adolescentes com TEA.

 

Entenda

 

A ciência ainda não tem um consenso sobre detalhes do autismo. O TEA é considerado o resultado de multifatores que podem afetar o cérebro e desencadear problemas de socialização, problemas de comunicação e comportamentos repetitivos. Alguns sinais podem ser percebidos ainda quando a criança é bebê ao não acompanhar o olhar para onde se aponta e com o atraso na linguagem, mas o diagnóstico final depende da avaliação de um neuropediatra ou fonoaudiólogo com especialização em linguagem infantil.

 

Embora aparentemente tenham aumentado os casos, os estudiosos indicam outras razões para o “fenômeno”:  maior acesso da população aos serviços de diagnóstico, formação de profissionais capazes de detectar o transtorno, famílias e profissionais de saúde e de educação mais informados. Há ainda a compreensão da interferência de fatores ambientais, como idade avançada do pai e/ou da mãe, uso de alguns tipos de medicamentos durante a gestação  e o estresse gestacional.