Avanço do mar e erosão costeira ameaçam cidades do Ceará: moradores buscam soluções

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Avanço do mar e erosão costeira preocupam moradores de diferentes cidades do Ceará

A Universidade Federal do Ceará monitorou por satélite os 573 quilômetros de
litoral do Ceará. O resultado mostrou que 47% do tem algum tipo de erosão.

Avanço do mar coloca cidades em risco no Ceará

Morar à beira-mar era um privilégio, até virar prejuízo. Em diferentes cidades
litorâneas do Ceará, moradores com imóveis próximos às praias têm visto seus
patrimônios ameaçados pelo avanço do mar e a erosão costeira.

“Nós tínhamos uma margem de areia enorme. Nós tínhamos duna, atravessava dunas,
tinham restaurantes na lateral esquerda”, relembra o professor Antônio Augusto
Rocha Leite, que vive em um condomínio na praia do Icaraí, uma das mais afetadas
do Ceará.

A praia do Icaraí, localizada no município de Caucaia, na Grande Fortaleza,
perdeu quase 110 metros de faixa de areia entre os anos de 1984 e 2020, de
acordo com estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A UFC monitorou por satélite os 573 quilômetros de litoral do Ceará. O resultado
mostrou que 47% do tem algum tipo de erosão. Em muitos trechos, nem há mais
faixa de areia.

Mar avança há anos na orla do Icaraí, em Caucaia — Foto: Fabiane de
Paula/SVM

A erosão costeira, como a que atinge a praia do Icaraí, acontece quando um
trecho de praia perde sedimentos (como areia) e estes sedimentos não são
repostos na mesma quantidade. Um dos fatores apontados como motivo para esse
desequilíbrio é o barramento de rios para construção de açudes.

Isso porque boa parte dos sedimentos que alimentam as praias, isto é, que
“abastecem” as praias de areia, chegam até ao litoral através dos rios que
desaguam no mar. Ou seja, são sedimentos que são carregados do interior, do
continente, até o mar, e acabam compondo a faixa de areia.

Como são uma região constantemente varrida pelo vento e banhada pelo mar, as
praias todos os dias perdem areia e ganham areia. Quando há um desequilíbrio,
por exemplo, nos mecanismos que garantem o “abastecimento” de areia para as
praias – como os rios barrados -, os processos de erosão se aceleram.

Há mais de 220 quilômetros de Caucaia, outro local que vive um cenário parecido
é a praia da Peroba, no município de Icapuí, na divisa com o Rio Grande do
Norte. Na Peroba, o mar avança, em média, um metro e meio por ano.

Avanço do mar destrói casas e comércios da praia da Peroba, em Icapuí. —
Foto: Kilvia Muniz/Sistema Verdes Mares

Desde a década passada, o município cearense tem registrado episódios cada vez
mais frequentes e mais fortes de destruição causada pela força do mar. Das 14
praias de Icapuí, pelo menos 6 possuem estágios avançados de erosão que
obrigaram moradores e poder público a realizar obras de emergência para conter o
avanço do mar.

A lista de prejuízos é extensa. Há casas danificadas, pescadores impedidos de
zarpar, pousadas fechadas e hospedagens canceladas. Dezenas de famílias foram
obrigadas a se mudar, e até mesmo uma escola precisou ser demolida após o mar
avançar sobre o prédio.

A TV Verdes Mares esteve no local e conversou com moradores e empresários. O
proprietário de uma pousada contou ter feito oito obras de contenção da água,
que já levou parte do terreno do seu estabelecimento.

Após uma batalha judicial, teve início uma obra de construção de um espigão na
Praia da Peroba. A estrutura avança pela água para desviar o fluxo da maré e
reter areia na costa. A esperança dos moradores é que o espigão mude o cenário e
permita um retorno à normalidade.

“Hoje a maré alta bate na porta. A gente espera recuperar esse espaço. Acho que
agora, com essa intervenção, a gente pode voltar a ter o nosso sossego”, afirmou
o jornalista Luiz Viana, que tem uma casa no local.

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