Bebês reborn geram disputa judicial e viram alvo de projetos de lei no Congresso

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Um dos temas mais comentados nas redes sociais nesta semana foram os bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam com precisão a aparência e o comportamento de recém-nascidos. O assunto saiu do mundo virtual e já envolve disputas judiciais, propostas legislativas e discussões sobre o uso indevido de benefícios destinados a mães com filhos pequenos.

Disputa na Justiça pela guarda de uma boneca

A advogada e influenciadora Suzana Ferreira relatou em seu perfil no Instagram o caso inusitado de um casal que disputa na Justiça a guarda de uma bebê reborn. Segundo ela, além da posse da boneca, os ex-companheiros brigam pela administração de perfis nas redes sociais que geram engajamento e renda com publicidade.

“A bebê reborn tem um Instagram, e a outra parte também quer ser administradora da conta, que já gera monetização. A conta é considerada um ativo digital e, portanto, um patrimônio”, explicou Suzana. A cliente que a procurou queria, inclusive, regulamentar o direito de convivência com a boneca e impedir que a ex-companheira tivesse acesso à “filha reborn”. O processo também envolve a divisão de custos e enxoval do brinquedo.

“Não é meme”, escreveu a advogada. “São demandas reais que mostram como a loucura da sociedade impacta diretamente na nossa profissão.”

Propostas de lei querem restringir uso de bonecas em espaços públicos

Diante da crescente popularidade das bonecas reborn, parlamentares já protocolaram ao menos três projetos de lei para restringir seu uso. As propostas preveem proibição de atendimentos em unidades de saúde, acesso a filas preferenciais e outros benefícios voltados a mães com filhos de colo.

Em Minas Gerais, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) apresentou uma proposta que proíbe tentativas de atendimento hospitalar para simulações com bonecas. Já o deputado federal Zacharias Calil (União Brasil-GO) quer classificar como infração administrativa o uso de bonecos ou objetos que simulem crianças para obter vantagens indevidas. O projeto prevê multas de cinco a vinte salários mínimos, podendo dobrar em caso de reincidência. Os recursos seriam direcionados a políticas públicas voltadas à primeira infância.

Arte reborn ganha espaço nas redes e no entretenimento

Apesar da recente polêmica, a arte reborn existe há mais de duas décadas. Artesãs conhecidas como “cegonhas” produzem bonecas sob medida, com detalhes extremamente realistas — desde tom de pele e veias até manchas e vincos.

Influenciadoras como Nane Reborns compartilham seu dia a dia com suas coleções nas redes sociais. Nane, por exemplo, soma mais de 36 mil seguidores no Instagram e ultrapassa 240 mil no TikTok. Os vídeos simulam momentos da rotina com bebês reais, como choros, mamadas e consultas médicas.

Celebridades também aderiram à tendência. O padre Fábio de Melo recentemente “adotou” um bebê reborn com síndrome de Down, enquanto Nicole Bahls apresentou suas bonecas Maria Maria e Rainha Matos. No cinema, o filme “Uma Família Feliz”, estrelado por Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, aborda o tema. A obra é baseada no livro de Raphael Montes, autor de “Bom Dia, Verônica”.

Como são produzidas as bonecas reborn

A produção das bonecas envolve várias etapas. Sara Gomes, artesã de 55 anos que trabalha com reborns desde 2002, explica que o processo começa com um kit de partes em vinil ou silicone — cabeça, braços, pernas e tronco — que passa por limpeza, neutralização e definição de características como sexo, idade e tom de pele.

“Utilizo técnicas de pintura com sombreamento, esponjas e tintas especiais para criar detalhes como veias, manchas e unhas. É um trabalho minucioso, feito à mão, que tem ajudado muitas pessoas ao longo dos anos”, diz Sara, que descobriu a arte enquanto trabalhava na área de Recursos Humanos.

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