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Blogueiro bolsonarista goiano critica questão de lista de exercícios e professor é demitido

Última atualização 30/06/2022 | 16:59

Um dos colégios mais caros e respeitados de Goiânia teria demitido um professor de Sociologia devido a uma suposta doutrinação em lista de recuperação para alunos do Ensino Médio. Na questão, ele usa duas tirinhas para questionar os alunos sobre polícia, estado e governo. A repercussão negativa começou após um retuíte do blogueiro bolsonarista Gustavo Gayer, com a imagem do teste na terça-feira, 27. Os alunos se manifestaram em favor do professor e contra a demissão realizada pelo colégio Visão. 

O próprio autor da tirinha usada nos exercícios, André Dahmer, comentou o caso e rebateu a acusação de ideologização política do material. “Meu trabalho aparece com frequência em concursos públicos e vestibulares. Em 2011, um dos meus quadrinhos foi tema de redação do Enem”, afirmou pelo Twitter. O assunto tratado pelos candidatos à época foi “Viver em redes no século 21: limites entre o público e o privado”.

Nesta quinta-feira, 30, Gayer usou o perfil pessoal no Instagram para reclamar de críticas por ser contra ideologização de gênero, contra legalização das drogas, contra o aborto, por ser cristão e da aceitação do discurso contra a polícia. 

Na publicação original de uma seguidora dele, a mulher diz que o tio de uma adolescente havia entrado em contato com ela indignado com o teor da prova porque a jovem respondeu em uma das questões que “a polícia mata mesmo”.  Ela afirma que o docente foi desligado da instituição. Gayer chegou a alertar os seguidores no Instagram antes de repostar a imagem no Twitter.

“Um aviso para os ‘agentes revolucionários’ travestidos de professores: nossos filhos não são massa de manobra para sua ideologia. Durante muito tempo vocês fizeram isso sem que houvesse nenhuma reação, mas isso acabou”, comentou Gayer em seu perfil no Instagram antes de repostar a imagem da lista de exercícios no Twitter pessoal dele.

Na questão 11, a pergunta é “Qual o elemento do Estado que está sendo retratado na tira abaixo?”. Na imagem, um personagem diz “Mais um assalto em São Paulo. Ainda bem que temos a polícia para combater a violência em prol…da barbárie”.  A pergunta 16 da lista pede que os alunos diferenciem Estado de Governo também a partir de uma tirinha. Nela, o personagem afirma que “Eles querem se eleger usando o nome de Deus, gente! Em um Estado laico, voto pelo continuismo. Deus deve ficar no governo…do Reino dos Céus”.

Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o professor de Sociologia Osvaldo Machado explicou que a confusão começou após a publicação de um vídeo de Gayer associando as perguntas do exame à doutrinação. Ele afirma que as questões foram aplicadas para apenas seis alunos e que já no dia seguinte percebeu algo estranho ao chegar na escola para trabalhar. O docente está indeciso sobre um processo contra escola, mas garante que levará as acusações do blogueiro aos tribunais.

“Esse vídeo produziu enorme desconforto. A questão na prova, com a utilização da tirinha, não era sobre polícia ou bandido, mas sobre o aspecto do estado. A diretora me chamou e, depois da aula, quando me apresentei, fui surpreendido com o anúncio da demissão. Considerei o motivo desproporcional”, destaca Machado, que leciona em outra escola particular onde afirma ter sido bem acolhido após o episódio.

A Constituição Federal assegura aos professores o princípio da liberdade de cátedra também chamada liberdade de ensino que assegura a possibilidade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber e ainda o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

A reportagem do Diário do Estado entrou em contato com o colégio Visão para confirmar se as perguntas realmente foram consideradas doutrinadoras e se algum pai ou responsável chegou a reclamar do teor das perguntas do teste. A assessoria respondeu apenas que “a escola possui um Código de Conduta que veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar. A direção do Colégio mantém um canal de diálogo aberto com alunos e familiares, sempre pautando suas ações no Código de Conduta.”