O índice S&P Merval, principal referência da bolsa de Buenos Aires, registrou queda de quase 6% nesta segunda-feira, 17, após a polêmica envolvendo o presidente da Argentina, Javier Milei, e a criptomoeda $Libra, que sofreu forte desvalorização logo depois de ser elogiada por ele.

Diante do caso, a juíza federal Maria Servini foi designada para conduzir uma investigação, após a Justiça argentina receber mais de 100 denúncias. O objetivo é apurar se Milei cometeu crimes como fraude, associação ilícita e descumprimento de deveres como funcionário público.

O Observatório de Direito da Cidade, que lidera uma das ações, acusa Milei de integrar uma fraude envolvendo a $Libra, resultando em perdas para mais de 40 mil pessoas, totalizando prejuízo superior a US$ 4 bilhões. A denúncia também inclui Julián Peh, CEO da Kip Network e KIP Protocol, responsáveis pelo desenvolvimento do token, além de Martín Menem, presidente da Câmara dos Deputados, que compartilhou a postagem de Milei sobre a criptomoeda na rede social X.

O documento judicial argumenta que a promoção da moeda digital por Milei e outros membros de seu partido conferiu credibilidade ao projeto, levando investidores a confiar na iniciativa. Entre as medidas solicitadas à Justiça estão buscas e apreensões na residência presidencial de Olivos e a coleta de dispositivos eletrônicos.

O episódio foi classificado por especialistas do setor fintech como um possível caso de “rug pull”, golpe no qual desenvolvedores impulsionam artificialmente o valor de um ativo digital e depois retiram seus fundos, deixando investidores com tokens sem valor.

A criptomoeda foi lançada na plataforma Meteora, a mesma que, em janeiro, disponibilizou a moeda meme $Trump, que teve rápida valorização antes de entrar em colapso. O cofundador da Meteora, Ben Chow, negou envolvimento direto no lançamento da $Libra, afirmando que sua equipe apenas forneceu suporte técnico.

Diante do impacto da crise, parlamentares da União pela Pátria (peronismo) anunciaram que pedirão o impeachment de Milei. Outras forças políticas pedem a criação de uma comissão investigativa e sua convocação para esclarecimentos. No entanto, analistas avaliam que a oposição não tem votos suficientes para avançar com o processo.

Nas redes sociais, investidores relataram prejuízos e acusaram Milei de enganá-los, enquanto apoiadores do presidente defendem que ele é alvo de ataques políticos. A ONG Bitcoin Argentina criticou a promoção irresponsável de ativos financeiros e reforçou a necessidade de transparência no setor.

Milei, por sua vez, reagiu às críticas em tom desafiador. Em publicação na sexta-feira, afirmou ter apagado sua postagem original sobre a criptomoeda e atacou seus opositores, chamando-os de “ratos imundos da casta política” e reforçando sua intenção de removê-los do poder.