Que o futebol é dinâmico, o clichê repetido incontáveis vezes já deixou bem claro. O que os botafoguenses não esperavam é que esse dinamismo fosse tão repentino e tão negativo, fazendo o time multicampeão passar a capengar poucos meses após as grandes conquistas de 2024. Com a derrota por 1 a 0 para o Vasco da Gama, ontem, em São Januário, o atual campeão da Libertadores e do Brasileiro acaba o Campeonato Carioca em 9º lugar — junto com 2014, a pior colocação de sua história. Não apenas está fora das semifinais (pelo terceiro ano seguido) como não disputará sequer a consolação da Taça Rio.
Para clubes com grandes pretensões na temporada, o desempenho no torneio estadual muitas vezes deve ser relativizado. Quando o time escolhe, de forma deliberada, que o campeonato vai servir para experimentar jovens jogadores, por exemplo. Ou quando resguarda seu elenco principal para treinamentos, sendo escalado esporadicamente. O Botafogo não deixou nada disso claro, e a impressão é que o time que assombrou o continente demorou apenas cerca de três meses para começar a desmoronar.
Por incrível que pareça, hoje é difícil garantir que o Botafogo vai reencontrar o nível técnico e competitivo que lhe caracterizou nas conquistas recentes. Sem técnico há quase dois meses, a equipe perdeu não apenas protagonistas (Luiz Henrique, Almada, Junior Santos), mas também coadjuvantes de luxo que ajudavam a manter um alto patamar de atuação quando exigidos (Eduardo, Tiquinho Soares, Adryelson). A busca pelo novo treinador está centralizada em John Textor, que parece assumir com gosto o risco de esfarelar o trabalho feito no ano passado.
Como o dinheiro jorra em torneiras douradas (e, para Textor, aparentemente é a solução de todos os problemas), é possível que o Botafogo consiga, através de reposições expressivas no elenco, recuperar o desempenho e o espírito vencedor que se tornaram marcas registradas na última temporada. No entanto, é no mínimo imprudente jogar dois meses no lixo, dando espaço para que rivais fortíssimos encurtem (ou eliminem) a distância futebolística que há pouco tempo era gritante. Em poucos meses, o melhor time do país tornou-se um arremedo, sem desempenho, sem técnico e sem norte.
Quando conquistou a Libertadores, em 30 de novembro, mesmo passando a partida inteira com um jogador a mais e ainda sob a herança maldita da reta final do Brasileiro de 2023, o Botafogo (clube, time e torcida) deixou claro que era um time com mentalidade ganhadora. Os traumas passados eram munição inesgotável; e o orgulho botafoguense, combustível permanente. Era instaurado o “tempo de Botafogo”, no fim das contas. Pois bem. O ano de 2025 deveria ser a época de consolidar uma hegemonia — este tempo merecia ser estendido. É justamente este espírito, este veredito anímico, que ameaça se perder já no começo da atual temporada.