BR-290: estrada que liga RS à Argentina tem duplicação inacabada, problemas de
estrutura e mais de 160 mortes
Tragédias e “elefantes brancos” marcam 600 km da estrada. Falta de verba e
projeto inadequado são entraves para duplicação essencial ao Mercosul.
BR-290: estrada tem duplicação inacabada, problemas de estrutura e mais de 160
mortes
A BR-290, no Rio Grande do Sul, revela-se por um cenário de obras inacabadas,
riscos constantes para motoristas e mais de 160 acidentes com morte. Definida
como um eixo de transporte vital, sendo a principal ligação entre a Região
Metropolitana de Porto Alegre e a Argentina, configura-se como uma importante
rota de cargas entre os países do Mercosul.
A rodovia, que se estende até a Ponte Internacional em Uruguaiana, gerencia um
fluxo intenso que inclui mais de 200 mil caminhões e cerca de 1,5 milhão de
turistas argentinos e uruguaios anuais, além de ser um elo que responde por 23%
de todas as mercadorias entre Brasil e Argentina. Cortando o estado de leste a
oeste, ainda garante o escoamento da produção rural, o que impacta o agronegócio
e a safra.
No entanto, o que deveria ser um símbolo de progresso se tornou um retrato do
abandono e da insegurança.
A BR-290 é marcada por uma série de problemas que a caracterizam como “saturada
há muito tempo” por usuários da estrada. Entre eles: número de acidentes,
duplicação inacabada e paralisada, obras abandonadas, problemas de
infraestrutura, manutenção precária, falta de passarelas e instalação de
acostamentos.
A reportagem da DE TV percorreu 630 dos 726 quilômetros de extensão da BR-290.
(confira matérias acima)
Durante o mapeamento, observou que apenas 14 quilômetros estão duplicados, em um
trecho que fica em Pantano Grande. O setor de transporte já reivindica a inclusão da duplicação da BR-290 no Plano Nacional de Logística.
Outro ponto é a existência de viadutos e pontes inacabadas que viraram
verdadeiros ‘elefantes brancos’, ou seja, obras que, em vez de conectar
caminhos, “acabam ligando o nada a lugar nenhum”. Existem pelo menos três
elevadas abandonadas (viadutos) às margens da BR-290.
Enquanto isso, moradores como Joice Duarte, que precisa atravessar a rodovia com
o filho para levá-lo à escola, enfrentam o perigo diariamente. A promessa de uma
nova estrutura ainda não tem data para sair do papel.
Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, desde 2020, foram registradas 167
mortes na BR-290. A falta de duplicação, acostamentos seguros e sinalização
adequada contribuem para o índice de acidentes. Moradores e motoristas relatam
medo constante ao trafegar pela rodovia, onde acidentes são frequentes e fatais.
Além dos riscos à vida, há prejuízos econômicos. O Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT) reconhece os problemas e aponta limitações
orçamentárias como principal entrave.
Desde 2014, foram gastos R$ 373 milhões, mas ainda faltam R$ 828 milhões para
concluir os quatro lotes em andamento. A proposta orçamentária para o próximo
ano prevê R$ 60 milhões para a duplicação e R$ 5 milhões para a segunda ponte
sobre o Guaíba.
A BR-290 também é rota de turistas argentinos e uruguaios que visitam o Brasil. A metade da ponte, em Uruguaiana, é de responsabilidade do governo brasileiro, e
a outra, das autoridades do país vizinho.
O fluxo de turistas que ingressam no Brasil por essa fronteira beira 1,5 milhão
anualmente. O volume de turistas se mistura ao tráfego de cargas, o que agrava a
saturação da via, especialmente nos trechos de pista simples.