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Brasil é o país que mais discute violência contra a mulher nas redes sociais

Última atualização 25/03/2023 | 15:59

A população brasileira produziu mais de 750 mil publicações sobre violência contra a mulher nas redes sociais durante o ano de 2022. A constatação é de um levantamento feito pela Ipsos, em parceria com a ONU Mulheres, em diversas nações da América Latina. O país é o que mais produz conteúdo digital sobre o assunto, enquanto o México, segundo colocado, registrou aproximadamente 640 mil publicações no mesmo período.

Com auxílio de recursos de inteligência artificial, foram mapeadas discussões online sobre feminicídio e outras práticas de violência contra mulheres e meninas no Brasil em plataformas como Twitter, Instagram, Facebook, Reddit e YouTube, por exemplo. A partir deste estudo, foi possível identificar o perfil das pessoas que mais conversam sobre o assunto nas plataformas de mídias sociais. Além de Brasil e México, foram mapeadas publicações de Honduras, El Salvador e Guatemala.

Os dados dos países pesquisados, porém, apresentam uma grande queda. Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, o Brasil atingiu 2,6 milhões publicações sobre violência contra a mulher nas redes sociais durante o ano. Já em 2021, esse número caiu para aproximadamente 860 mil.

“A queda nas conversas on-line não significa que haja desinteresse do público, mas sim que a pauta tem sido pouco estimulada – vide o crescimento do engajamento quando o tema é mencionado. É muito importante que imprensa, empresas privadas e instituições continuem dando visibilidade a este tema”, avalia Helena Junqueira, gerente sênior de Social Intelligence Analytics da Ipsos no Brasil e uma das coordenadoras do levantamento.

Entre os brasileiros que publicam esse tipo de conteúdo nas redes, a maioria é homem (56% contra 44%), tem entre 25 e 34 anos (63%) e expressa, principalmente, sentimentos de pena, tristeza e raiva em suas mensagens sobre o tema. Os tipos de violência contra a mulher mais discutidos entre os brasileiros na internet são misoginia e regulamentação da gravidez por estupro.

A cultura de massa tem se mostrado um forte indutor para as conversas sobre violência contra mulheres. Reality shows como Big Brother Brasil e A Fazenda têm despertado discussões on-line sobre relações abusivas e violência física e psicológica. O mesmo acontece quando celebridades compartilham suas experiências pessoais de abuso.

“As redes sociais têm o papel de gerar visibilidade para o assunto, provendo informação para mulheres que estejam sofrendo algum tipo de violência hoje ou que venham a sofrer no futuro. Além de existir um falso mito de que a violência está mais presente em determinadas classes econômicas, etnias ou regiões, é muito comum que as vítimas demorem a perceber a gravidade do que estão sofrendo, ou ainda tenham medo e vergonha de denunciar seus agressores. Quanto mais se fala sobre o assunto na internet, mais informação e acolhimento nós mulheres vamos encontrar”, afirma Junqueira.

“Trabalhar na conscientização masculina é essencial. Na onda anterior desse estudo, fizemos uma análise das buscas no Google, que mostrou que muitos homens estão buscando informação para entender se estão sendo abusivos com suas parceiras. Hoje há grupos de apoio masculinos trabalhando na prevenção e na redução de reincidência, com ótimos resultados. É importante que os homens consigam enxergar seu papel na cultura machista e que tenham ferramentas para participar dessa transformação.”