Ao menos 63%, cerca 32 milhões, de crianças vivem em situação de pobreza no Brasil. Os números revelam também que o percentual de menores de idade vivendo em famílias com renda abaixo da linha de pobreza extrema alcançou em 2021 o menor nível dos últimos cinco anos: cerca de: 16,1%. O dado foi divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Em relação ao número de crianças e adolescentes privados de uma alimentação adequada, o número passou de 9,8 milhões para 13,7 milhões, resultando em um aumento de 39 milhões.
Para reverter este quadro, a Ação da Cidadania lançou pelo terceiro ano consecutivo a campanha Brasil sem Fome, com o objetivo de arrecadar e distribuir alimentos para famílias em todo o país. O projeto tem como forma de assegurar o direito à alimentação adequada, principalmente na primeira infância, para famílias mais pobres.
“Betinho [idealizador da campanha, que começou em 2002] já dizia que a democracia é incompatível com a miséria. Enquanto houver o desafio de superar a fome no país, não há como garantir que outros direitos sejam cumpridos. Se um cérebro saudável usa 20% da energia do corpo e essa energia vem dos alimentos, como uma criança com fome será capaz de aprender e ter bom rendimento escolar? Um corpo funciona em sua plenitude quando está nutrido. E o crescimento saudável só é possível com um Brasil sem fome”, ressalta Rodrigo Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
Fome pelo Brasil
Segundo dados da Sociedade de Pediatria (SBP), cerca de 11 crianças menores de cinco anos são internadas por desnutrição no Brasil todos os dias. Este dado se torna mais agravante na região Norte do país, onde 40% das casas com moradores nesta faixa de idade sofrem com a falta de alimentos, e no Nordeste, onde famílias também passam por situações parecidas, com 36% da concentração de casos.
“A falta de dinheiro para comprar alimentos e a diminuição da qualidade do que é consumido são fatores que confirmam a desigualdade social. Ainda que mães e pais deixem de comer ou tenham a alimentação reduzida para que os filhos sejam beneficiados, a associação entre desenvolvimento infantil e efeitos da nutrição irregular podem resultar em menor escolaridade e, consequentemente, menos oportunidades de trabalho, menor produtividade e salários mais baixos. Deixar que a fome impeça a realização de sonhos é uma violação da dignidade humana”, diz Afonso.
O Brasil chegou a deixar o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, voltando novamente em 2022. De acordo com a organização, a prevalência da insegurança alimentar grave atingiu 15,4 milhões de brasileiros, ou seja, 7,3% da população, entre os anos de 2019 e 2021.