Brasileiros vítimas de tráfico humano em Mianmar chegam ao Brasil
Phelipe Ferreira e Luckas Santos aceitaram promessas falsas de emprego e acabaram vítimas de tráfico humano de uma máfia em 2024. Os dois embarcaram na tarde desta terça-feira (18) em Bangkok, Tailândia, e chegaram ao Aeroporto Internacional de Guarulhos nesta quarta-feira (19).
Os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, que foram mantidos reféns por três meses por uma máfia de golpes cibernéticos em Mianmar, no Sudeste Asiático, chegaram ao Brasil nesta quarta-feira (19).
Os dois embarcaram na tarde de terça-feira (18) em Bangkok, Tailândia, e desembarcaram por volta das 16h no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Eles foram recepcionados pelas famílias, que choraram durante o reencontro.
“Estou gelada de tanta emoção. Foram dias, meses de sofrimento. Acabou hoje”, afirmou Cleide Viana, mãe de Luckas.
Phelipe e Luckas aceitaram promessas falsas de emprego em 2024 e acabaram sendo vítimas de tráfico humano em KK Park, Mianmar. O local é considerado uma “fábrica de golpes online”. Os dois conseguiram fugir ao lado de centenas de imigrantes. Eles foram resgatados com a ajuda da ONG “The Exodus Road” no dia 9.
Jovens escravizados em Mianmar eram obrigados a dar golpes pela internet em brasileiros
Na segunda-feira (17), Phelipe Ferreira contou ao De sobre a rotina de escravidão em KK Park. Segundo ele, havia um roteiro a ser seguido.
“Nesse script, a gente perguntava ao cliente, no primeiro dia, informações como nome, idade, país onde morava, se era solteiro, casado, viúvo, com o que trabalhava e o salário. Já no quarto dia, a gente pedia uma ajuda. Falava que trabalhava numa plataforma online chamada Wish e, se ele ajudasse, ganharia uma comissão de 30 dólares”, contou.
No outro dia, eles voltavam a pedir ajuda. O cliente ganhava a comissão, só que, dessa vez, tinha que terminar algumas tarefas na plataforma e, para isso, precisava fazer recargas.
Era aí que a gente começava a tirar o dinheiro do cliente. A primeira recarga era de 150 dólares, a segunda, 500 dólares… até completar o valor de 5 mil dólares.
Phelipe viu outros reféns sofrendo agressões e pensou que uma hora seria morto. No quarto dele, havia um homem de outra nacionalidade que tentou escapar sozinho e, ao ser pego, foi espancado durante 20 dias, levou eletrochoque e foi preso. Segundo ele, o homem depois ficou preso à cama de ferro com os pés amarrados.
Amizade com outro brasileiro
Dias após chegar no local, Phelipe soube que havia outro brasileiro ali, mas que estava preso. Apesar de proibidos de se comunicarem por serem da mesma nacionalidade, Luckas e Phelipe se aproximaram e planejaram de fugir juntos.
A fuga
A fuga foi combinada pelos reféns, que conseguiram avisar parentes e ativistas sem que fossem descobertos pelos mafiosos. Após fugirem, eles foram detidos por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista) e levados a um centro de detenção. Três dias depois, foram transferidos para a Tailândia, onde aguardaram a embaixada brasileira.
Futuro
Agora, Phelipe só pensa em voltar para casa e esquecer o que viveu. O jovem alerta ainda sobre os cuidados necessários para que outras pessoas não caiam em armadilhas e virem vítimas de tráfico humano. “Vim para cá com um sonho, que foi destruído. O alerta que tenho para dar é sempre procurar saber mais sobre a empresa que você vai trabalhar e se é realmente legalizada”.
A fuga
A fuga foi combinada pelos reféns, que conseguiram avisar parentes e ativistas sem que fossem descobertos pelos mafiosos. Após fugirem, eles foram detidos por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista) e levados a um centro de detenção. Três dias depois, foram transferidos para a Tailândia, onde aguardaram a embaixada brasileira.