Brigas de trabalhadores na Ceasa-RJ se tornam viral, gerando debates sobre segurança e ética. Veja mais!

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DE na Ceasa? Vídeos expõem brigas de trabalhadores com torcida e até apostas no Rio

Página viraliza com imagens de lutas ‘organizadas’ no maior centro de abastecimento do RJ: ‘90% das brigas são no calor do momento. Depois, estão todos trabalhando normalmente’, diz o perfil. Ceasa diz que são episódios isolados e que o mercado é seguro para frequentadores.

Trabalhadores transformam o centro de abastecimento do Rio de Janeiro em arena de combate

Um perfil no Instagram chamado UFC Ceasa RJ tem viralizado ao reunir dezenas de vídeos de brigas entre trabalhadores da Ceasa, a maior central de abastecimento do estado do Rio de Janeiro, que fica em Irajá, na Zona Norte da capital.

Com mais de 75 mil seguidores e 191 publicações até a noite de quinta-feira (9), a página que brinca com a sigla da liga de vale-tudo mais conhecida no mundo (Ultimate Fighting Championship) mostra cenas de confrontos físicos que ocorrem em diferentes áreas do mercado.

As brigas ocorrem no meio das mercadorias à venda, entre carrinhos de carga, no estacionamento, na peixaria, na lanchonete e entre as caixas de frutas, legumes e verduras. A maior parte das lutas é entre homens, mas também há vídeos de mulheres brigando

O roteiro lembra o do filme “Clube da Luta”, sucesso de 1999 do diretor David Fincher, estrelado por Brad Pitt e Edward Norton. Os combates também são em áreas delimitadas, com trabalhadores em volta assistindo, torcendo e até apostando.

Em alguns casos, o público precisa separar os brigões quando alguém está “vencendo” o combate – evitando ferimentos mais graves. Por vezes, até os seguranças da Ceasa atuam para conter os ânimos e colocando ponto final no duelo.

‘TODOS OS DIAS, UMA LUTA DIFERENTE’

A descrição da página resume o espírito do conteúdo: “Todos os dias, uma luta diferente. 90% das brigas são no calor do momento. Depois, estão todos trabalhando normalmente”.

MOTIVOS BANAIS

Em anonimato, um trabalhador da Ceasa contou como é esse cotidiano no mercado e explicou que os motivos das brigas são quase sempre banais. “As brigas são quase sempre entre os carregadores e acontece nos corredores. Um vem com o carrinho cheio e o outro com o carrinho vazio e não quer deixar passar. Aí, o pau quebra”, disse o trabalhador.

‘TE PEGO LÁ FORA’: BRIGA COM HORA MARCADA

Ele também citou disputas por clientes e preços como um dos motivos para brigas. “Também tem isso. Um cara tá vendendo laranja e o outro também. Aí, um comprador para em um deles e o outro chama, colocando o preço mais barato. Aí, também dá briga. Às vezes, começa ali uma discussão, mas a briga fica pro fim do expediente”, revelou, lembrando outro filme, “Te Pego Lá Fora” (1987), no qual estudantes agendam um confronto para depois da aula.

Segundo ele, o ambiente na Ceasa é marcado por tensão constante e, por vezes, as brigas são por motivos inusitados, como o sumiço de uma marmita, fofoca, discussão por futebol ou outras desavenças pessoais. “Aqui a galera trabalha muito, trabalho pesado o dia todo, e também é muita testosterona junta. Às vezes, o cara tá cheio de problema em casa e qualquer coisa é motivo pra briga”, explicou.

De acordo com os trabalhadores, às vezes os brigões são punidos com suspensão do trabalho e até demissão, dependendo do setor de atuação (veja no fim da reportagem o que diz a Ceasa).

BRIGAS VIRAM ESPETÁCULO

Os vídeos publicados pelo perfil UFC Ceasa RJ têm gerado milhares de visualizações e centenas de comentários nas redes sociais.

Muitos usuários demonstram curiosidade sobre os motivos das brigas e a frequência dos confrontos. Outros preferem analisar os lutadores e suas técnicas. “Certamente foi um ‘faixa azul’ com sangue nos olhos. Tirou onda. A galera da escolta que tá muito escaldada, não deixou o cara ajustar a posição. Parece que nunca viu alguém dormir no mata leão”, analisou um seguidor, citando termos e golpes de jiu-jítsu.

Outros comentários criticam a situação e cobram melhores condições de trabalho para quem ganha a vida na Ceasa. A maioria trata o tema com humor, mesmo ao criticar. “Pra trabalhar na Ceasa, tem que ter artes marciais”, escreveu um seguidor. Outro comentou: “Muito bom, o único emprego que dá pra fazer mano a mano e o trabalhador não é mandado embora”. Enquanto alguns veem nas brigas uma forma de escape para os trabalhadores, outros apontam o excesso de violência em um ambiente que deveria proteger a saúde dos funcionários.

A legislação trabalhista brasileira estabelece que o empregador tem o dever de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. O artigo 157 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina que cabe à empresa cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho, além de instruir os empregados sobre os riscos e medidas preventivas. Se os confrontos físicos ocorrem dentro do espaço de trabalho e durante o expediente, a Ceasa-RJ — ou as empresas permissionárias que atuam no local — podem ser responsabilizadas administrativamente por omissão ou negligência na proteção da integridade física dos trabalhadores.

Segundo a especialista, mesmo que a agressão parta de um trabalhador contra outro, a responsabilidade da empresa pode surgir pela falta de vigilância, supervisão ou protocolos internos de conduta. “Em locais de grande circulação, como centrais de abastecimento, a necessidade de controle, orientação e presença de segurança é ainda mais relevante”, completou.

Segundo o Código de Conduta Ética e Integridade da Ceasa-RJ, todos os trabalhadores e parceiros comerciais devem atuar com “urbanidade, respeito à dignidade humana e integridade moral”. O documento prevê sanções para comportamentos que atentem contra esses valores, como “censura formal” e encaminhamento para medidas disciplinares em casos graves ou reincidentes.

Embora não mencione diretamente conflitos físicos, o código considera transgressão ética qualquer conduta que “macule a imagem da empresa, prejudique a reputação de colegas ou contrarie os princípios de respeito e profissionalismo”. A Ceasa-RJ também mantém canais de denúncia internos e externos, com garantia de anonimato e proteção contra retaliações, segundo seu Código de Conduta Ética e Integridade.

A Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ) é uma empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura do Rio de Janeiro e atualmente conta com seis unidades no estado, sendo a principal localizada em Irajá. A unidade é a segunda maior central de abastecimento da América Latina, com mais de 700 mil metros quadrados, cerca de 800 empresas instaladas e 2 mil produtores cadastrados. O espaço movimenta toneladas de alimentos diariamente e reúne comerciantes, produtores, carregadores e compradores em uma rotina marcada por jornadas intensas, calor, estresse e informalidade.

Em contrapartida às brigas, Wagner Ferreira, um trabalhador da Ceasa-RJ, é conhecido como influenciador digital, criando vídeos com humor e humanidade sobre a rotina do mercado. Enquanto o perfil ‘UFC Ceasa RJ’ viraliza mostrando as brigas, Wagner destaca o lado mais suave da Ceasa.

Em nota, a Ceasa/RJ informou que “repudia qualquer forma de violência e reitera que não compactua com esse tipo de comportamento dentro de seus espaços”. A empresa destaca que adota medidas preventivas e colabora com as autoridades para garantir a ordem, a segurança e o bem-estar de todos que trabalham e circulam pelo local.

Portanto, as brigas insólitas na Ceasa têm chamado atenção nas redes sociais, causando debates sobre segurança no trabalho e ética profissional, enquanto a empresa busca manter a ordem e o respeito no ambiente de trabalho. É importante garantir que os trabalhadores estejam protegidos e que conflitos sejam resolvidos de forma pacífica, evitando danos e garantindo um ambiente de trabalho seguro e saudável para todos os envolvidos.

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