Bruce Dickinson conta como será show solo no The Town: ‘Vai ser uma celebração’
Vocalista do Iron Maiden se apresenta neste domingo (7) no festival em SP. Ele relembrou quando cortou a cabeça com a guitarra em show da banda no Rock in Rio 1985.
The Town: Jornal da Globo conversa com Bruce Dickinson
“Oi, pode me chamar de Bruce. Já me chamaram de coisa pior”, avisa Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden que se apresenta como artista solo neste domingo (7) de The Town.
Bem-humorado, de sorriso aberto, boné e camisa florida, Bruce Dickinson parecia prestes a entrar em férias. Mas, na verdade, o vocalista do Iron Maiden está cheio de trabalho. Além de cantor e compositor, ele também é escritor, piloto de avião e empresário.
Na música, Bruce vive dois momentos ao mesmo tempo: participa da turnê que celebra os 50 anos do Iron Maiden e revisita o álbum solo “Balls to Picasso” (1994), relançado como “More Balls to Picasso” e com releituras produzidas com músicos brasileiros.
O DE conversou com Bruce Dickinson sobre o novo álbum, o show que fará no The Town neste domingo (7) e os 40 anos da primeira passagem do Iron Maiden pelo Brasil.
Bruce Dickinson apresenta The Mandrake Project no show em Ribeirão Preto (SP) em 2024 — Foto: Érico Andrade/g1
DE – Por que voltar a Balls to Picasso? Você regravou o álbum inteiro?
Bruce Dickinson – Ah, não, não se mexe em algo que já está bom. Eu sempre quis que ele fosse mais pesado do que ele virou. A ideia era adicionar algumas guitarras, atualizar o som.
Então, chegou meu amigo brasileiro Antonio Teoli. Ele disse: “Ei, e se colocássemos uns instrumentos indígenas do Brasil, da Amazônia, em Gods of War?”. E eu: “Ótima ideia!”. Depois, ele sugeriu orquestra em Tears of the Dragon. Eu disse: “Claro, vá fundo!”.
Depois, ele disse: “Que tal uns instrumentos de sopro em Shoot All The Clowns?”. Eu sempre quis isso! Aí ele falou de cordas em Change of Heart. De repente, o disco não foi reexaminado, revigorado.
O Philip, que está na minha banda solo e vai tocar no Brasil, gravou guitarras base modernas e pesadas. A alma do disco não mudou. Não regravei nenhum vocal. Mas, com técnicas modernas, tudo parece como um carro abandonado por 20 anos que você limpa e percebe: “Nossa, como ele é incrível”.
Foi surpreendente. Sacred Cowboys está brutal. Shoot All The Clowns com sopros e guitarras novas ficou ótima. Tivemos três professores da Berklee College, tocando trombone, trompete e saxofone, que se ofereceram para gravar.
Nosso produtor Brendan Duffey remixou tudo. Ele morou em São Paulo por anos. Está fazendo também meu álbum novo, que vou gravar em 2026 e espero lançar em 2027. Mas, enquanto isso, temos Balls to Picasso.
O álbum inteiro está incrível. Cyclops está brutal! Eu estou tão entusiasmado. Meu filho ouviu esses dias e disse: “Meu Deus, pai! Eu nunca tinha percebido o quão bom o álbum é”. Obrigado, filho…
DE – Como conheceu Antonio Teoli?
Bruce Dickinson – Foi graças ao Brendan Duffey (engenheiro de som). Estávamos em Los Angeles há um ano, um ano e meio, fazendo a mixagem Atmos do material já lançado. O Brendan disse: “Ei, meu amigo Antonio está na cidade. Tudo bem se ele vier?”.
Ele apareceu, começamos a conversar. Pediu para tentar algo de orquestração. Depois, mexeu em Shoot All The Clowns. Perguntou: “O que eu não devo fazer?”. Eu disse: “Faça o que sentir”.
Um tempo depois, ele voltou preocupado se tinha exagerado. Eu disse: “Não, não o suficiente. Faça mais!”. Foi fantástico. Ele é um cara muito legal. Amei trabalhar com ele.
Bruce Dickinson durante show do Iron Maiden no palco Mundo do Rock in Rio 2019 — Foto: Marcelo Brandt/G1
DE – Artistas costumam priorizar o maior número possível de hits em shows de festivais, que geralmente são mais curtos. Você e o Iron Maiden não seguem muito essa lógica. Como será no The Town?
Bruce Dickinson – Vai ser uma celebração. Tem o More Balls to Picasso sendo lançado, então tem que ter Gods of War. Nós já fazemos Laughing in the Hiding Bush, que soa absurdamente pesada na nova versão.
Se eu não cantasse Tears of the Dragon, eu teria que me matar. É daquelas que todos cantam junto comigo. Vou cantar uma música do Iron Maiden: a mesma que tocamos há 40 anos, quando cortei a cabeça com a guitarra no Rock in Rio 1985. Foi durante Revelations.
Não vou cortar a cabeça desta vez. Já disse à banda que gostaria de tocar Revelations, talvez com pequenas mudanças, porque não somos uma banda de karaokê do Iron Maiden.
Também teremos algo do Mandrake Project. Eu tocaria por duas horas, tentem me parar. Esse é o 40º aniversário da primeira vez do Iron Maiden no Brasil.
A banda não estará aqui desta vez, então vocês terão que me aguentar. Mas é uma celebração dos 40 anos do nosso “descobrimento” da América do Sul: Brasil, Argentina, Chile… tudo começou no Rock in Rio.
DE – O Reino Unido teve um verão histórico, com despedida de Ozzy Osbourne e volta do Oasis. Você vê uma nova onda de entusiasmo com o rock?
Bruce Dickinson – Eu só posso falar pelo público que vejo diante de mim toda noite. E essa é a maior turnê que o Iron Maiden já fez. Esgotamos estádios na Europa.
Mas não será a maior. No ano que vem, voltaremos à América do Sul. Não posso dizer quando, mas será a maior. Eu tenho 67 anos, mas o público não é só da minha idade. Tem jovens e pessoas que seguem a banda há 40 anos.
É uma situação única. O público continua crescendo. Isso significa que, sem comprometer o que fazemos, chegamos perto do mainstream.
Eu não me importo em estar no mainstream, desde que façamos do nosso jeito. Se o mundo vai nessa direção, ótimo. Amo que tudo isso seja uma celebração da música. São as canções que dão vida a artistas e bandas. Tenho muitas histórias para contar com o Iron Maiden. E não vamos parar tão cedo.