Os imponentes edifícios do Rio de Janeiro escondem um segredo histórico por debaixo de suas fundações. Mais de 30 abrigos antiaéreos construídos durante a Segunda Guerra Mundial se encontram espalhados pela cidade, revelando como o conflito internacional influenciou não apenas a rotina, mas também a arquitetura local. Essas estruturas subterrâneas, heranças do período de tensão vivido pelo Brasil, permanecem ocultas em locais inusitados, como lanchonetes e prédios comerciais, onde os transeuntes passam sem perceber a história que pisam.
A arquiteta Isabella Cavallero, formada pela UFRJ, é a responsável por identificar esses bunkers esquecidos, que, apesar de terem sido construídos há quase 80 anos, ainda mantêm suas características originais. A partir de uma pesquisa minuciosa, Isabella identificou pelo menos 33 endereços na cidade que abrigam essas estruturas de proteção contra ataques aéreos. Embora alguns desses bunkers sejam conhecidos, como os localizados na Praça dos Expedicionários e na Galeria Menescal, a arquiteta continua em busca de novas descobertas, com a colaboração do público.
O contexto histórico que levou à construção desses abrigos remonta à década de 1940, quando o Brasil se viu envolvido na Segunda Guerra Mundial e adotou medidas de proteção civil sob o governo de Getúlio Vargas. A partir do Decreto-Lei 4.098, edifícios com determinadas características passaram a ser obrigados a conter abrigos antiaéreos, transformando garagens e porões em refúgios subterrâneos. Mesmo após o fim do conflito, essas estruturas permaneceram e foram adaptadas para diferentes usos, como estacionamentos, depósitos e até residências.
O interesse de Isabella Cavallero pelos bunkers cariocas foi despertado durante a pandemia, quando a arquiteta se mudou para Berlim e se aprofundou no estilo brutalista, marcado pelo uso do concreto aparente e pela funcionalidade. Essa imersão a levou a investigar a presença dessas estruturas em endereços específicos do Rio de Janeiro, resultando na identificação de locais antes desconhecidos. O trabalho de pesquisa da arquiteta, aliado à colaboração do público, tem revelado novas informações sobre a presença desses abrigos antiaéreos pela cidade.
A importância histórica desses bunkers vai além da sua função original, refletindo a complexidade e os desafios enfrentados pelo Rio de Janeiro durante a Segunda Guerra Mundial. O legado dessas estruturas revela não apenas a capacidade de adaptação e engenhosidade do povo carioca, mas também a memória de um período conturbado da história mundial. Com novas descobertas e pesquisas em andamento, a arquiteta Isabella Cavallero e seu trabalho se tornam vitais para preservar e divulgar esse patrimônio histórico pouco conhecido, mas de grande relevância para a cidade.