Burocracia dificulta reencontro de adolescentes afegãos refugiados em abrigo em SP com suas famílias

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Adolescentes afegãos refugiados em abrigo em SP aguardam há 2 anos burocracia
para rever a família

Primos de 17 anos fugiram sozinhos do Afeganistão em 2023 e estão sob tutela do
Estado. Pais não conseguem entrar no Brasil após mudança em regras de visto
humanitário. Defensoria Pública recorreu, mas Ministério das Relações Exteriores
negou pedido.

Mudança na regra de acolhimento de afegãos no Brasil dificulta reencontro de
adolescentes com as famílias [https://s04.video.glbimg.com/x240/13926351.jpg]

Dois adolescentes afegãos, ambos de 17 anos, vivem em um abrigo no estado de São
Paulo e aguardam há quase dois anos o reencontro com suas famílias.

Refugiados, os garotos são primos e chegaram sozinhos ao Brasil em 2023, fugindo
da violência, perseguições e crise humanitária no Afeganistão.

Os pais também deixaram o país, mas seguiram para o Irã, onde enfrentam
dificuldades crescentes para permanecer. Eles não conseguem vir ao Brasil por
causa de barreiras burocráticas — em especial, após a edição de uma nova
portaria do governo federal que endureceu as regras para concessão de vistos
humanitários.

De acordo com a Defensoria Pública da União (DPU), que acompanha o caso, os
meninos têm apresentado sinais de abalo emocional diante da incerteza e da
demora.

As entrevistas com os adolescentes foram autorizadas pela Justiça sob a condição
de não revelação da identidade nem da cidade onde vivem. Um tradutor afegão
participou da conversa.

Um dos garotos contou que deixou Cabul, capital afegã, em agosto de 2023 e que,
por ser menor de idade, foi levado a um abrigo no Brasil, como determina a lei.
Desde então, espera pelo reencontro com seus parentes.

> “Pai, mãe, três irmãos”, disse o adolescente, segundo o tradutor.

O primo dele chegou em dezembro do mesmo ano e vive na mesma situação. “[Ele] só
tá pedindo ajuda pra trazer a mãe dele”, disse o tradutor.

Os dois mantêm contato com a família por celular ou computador, quando a
internet e a segurança permitem. Atualmente, os parentes vivem em Isfahan, no
centro do Irã, e relatam dificuldades crescentes: perseguição policial contra
afegãos, proibição para trabalhar e risco de expulsão.

A DPU afirma que tenta há um ano regularizar a entrada das famílias no Brasil.
Em abril deste ano, porém, o Ministério das Relações Exteriores negou os
pedidos.

Segundo a pasta, uma portaria criou novas exigências: agora, a concessão do
visto humanitário está condicionada à apresentação de uma carta convite emitida
por entidades da sociedade civil previamente habilitadas para o acolhimento. Os
pais dos adolescentes não têm essa carta.

O defensor público federal Murillo Ribeiro Martins explicou que, como os
familiares dos dois adolescentes não constam das listas dessas entidades,
tiveram os pedidos rejeitados.

> “A negativa tem impactado diretamente a saúde mental deles. Recebemos relatos
> de que um dos meninos entrou em estado depressivo, em razão da preocupação e
> da incerteza sobre o reencontro com a família”, disse o defensor.

Dados do Unicef mostram que a migração de crianças desacompanhadas atingiu
níveis recordes na América Latina e no Caribe em 2023. No Brasil, mais de 300
crianças e adolescentes chegaram sozinhos por mês no ano passado, em razão de
guerras, perseguições ou fome.

No guia de boas práticas elaborado pela agência da ONU, o direito ao reencontro
familiar está entre as prioridades para a proteção de menores de idade
migrantes.

Enquanto aguardam uma decisão sobre os vistos, os adolescentes tentam seguir a
rotina: frequentam a escola, sonham em ser jogadores de futebol ou chefs de
cozinha, e dizem que se sentem acolhidos no país.

“Por mais que a equipe do abrigo seja profissional e garanta escola, alimentação
e roupas, é diferente de crescer ao lado da família — ainda mais quando ela
corre risco onde está”, afirmou o defensor.

Os pais dos meninos, que seguem no Irã, dizem que ainda mantêm a esperança de se
reunir com os filhos no Brasil. “Escolhemos o Brasil porque é um país acolhedor,
e as pessoas são muito gentis”, disse a mãe, em mensagem enviada ao Jornal Hoje,
da TV DE.

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