Caiado pede rigor com responsabilidade na investigação de atos antidemocráticos
Em entrevista ao Jornal da Gente, da Rádio Bandeirantes, na manhã desta terça-feira, 10, o governador Ronaldo Caiado reiterou a necessidade de rigor na apuração dos responsáveis pelos atos antidemocráticos que destruíram prédios e patrimônios públicos em Brasília, no último domingo, 08, porém pediu cautela às lideranças nacionais ao tratar sobre o que chamou de “rotulação do agro”.
“Uma coisa que peço neste momento ao governo federal é que, realmente, levante os responsáveis, mas jamais tente rotular, criminalizar, demonizar a figura do produtor rural no Brasil”, ponderou Caiado.
Para o governador de Goiás, rótulos e generalização podem ser temerários neste momento. “Não podemos medir uma classe por excessos que aconteceram por alguns dentro do setor. Isso não é a radiografia do setor produtivo”, defendeu. “Quero deixar claro que a agropecuária brasileira tem significado, importância e relevância ímpar. É hoje o sustentáculo da economia brasileira”, afirmou ao expressar orgulho de pertencer ao segmento.
Caiado frisa que a segurança e estabilidade da democracia estão balizadas na responsabilidade dos líderes extremistas que protagonizaram a violência em Brasília, sejam eles de direita ou esquerda. Pioneiro na defesa do setor ruralista, com atos realizados desde 1986, Caiado lembrou que as mobilizações sociais jamais chegaram ao patamar visto no último domingo. “Nós lutamos pelo direito de propriedade na Constituição. Cabe ao líder não dar espaço às pessoas extremadas”.
O governador falou com a Rádio Bandeirantes remotamente do Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, onde se recupera de cirurgia cardíaca realizada no último dia 8 de dezembro. Caiado lembrou que os atos extremistas cresceram quando o sistema eleitoral brasileiro foi colocado em xeque, posição adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e apoiadores que, para ele, foi o “fator mais nocivo” neste processo que culminou na vandalização dos prédios da Praça dos Três Poderes.
“É uma regra normal ganhar e perder. Aquilo que assistimos no domingo foi uma barbárie, expõe o Brasil internacionalmente. Foi criminoso, inadmissível”, afirmou. “O ponto que alimentou a tese de que pudesse ter uma prática criminosa na apuração dos votos levou a essa insurgência maior vista não só do setor [rural], mas de outras profissões também e de vários segmentos da sociedade”, completou.
Jovem baleada por agentes da PRF continua em estado grave no hospital
A jovem Juliana Leite Rangel, 26 anos, permanece em estado grave, no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN),em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ela foi internada na unidade, às 21h12, de terça-feira, 24, após ser atingida por um tiro de fuzil na cabeça por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na Rodovia Washington Luís (BR-040), também naquele município.
Por meio da Secretaria Municipal de Saúde e da direção do HMAPN, a Prefeitura de Duque de Caxias informou que a jovem foi levada para a unidade pela PRF. “A direção do HMAPN informa que a paciente, atingida por arma de fogo (PAF) em crânio, foi entubada e encaminhada diretamente para o centro cirúrgico, onde passou por procedimento, sem intercorrências. No momento, segue internada no CTI, hemodinamicamente instável, entubada e acompanhada por equipe multidisciplinar. A paciente mantém o quadro gravíssimo”, informou em nota divulgada no início da manhã desta quinta-feira, 26.
Em entrevista ontem no Hospital, a médica intensivista do Adão Pereira Nunes, Juliana Paitach, disse que mesmo em estado grave, Juliana Leite Rangel, tem reagido positivamente aos medicamentos que vem recebendo. “Do que ela chegou para agora não teve piora. Ela se manteve em um grau de gravidade que estabilizou com as drogas que estão entrando com a medicação e não teve piora, ou seja, a pressão se manteve com a medicação que está entrando. É uma paciente jovem, que foi atendida com rapidez e muita eficiência, que tem tudo para evoluir com positividade, mas não tem como a gente saber”, afirmou.
O Ministério Público Federal (MPF) instaurou Procedimento Investigatório Criminal, assinado pelo procurador da República, Eduardo Santos de Oliveira Benones, considerando que, conforme a Constituição de 1988 definiu, o órgão tem a incumbência da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
No texto, o procurador apontou que a jovem de 26 anos seguia de carro na companhia de familiares para comemorar o Natal e sofreu gravíssimos ferimentos. Benones destacou que ela não foi a única vítima, uma vez que o pai dela, Alexandre, também foi baleado.
O procurador determinou que, considerando a necessidade de efetuar diligências, “visando a colheita de informações, documentos e outros elementos aptos a direcionar e definir a linha de atuação deste órgão ministerial no caso aqui apresentado”, a Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, dê informações sobre as providências adotadas. Requisitou ainda à Superintendência da Polícia Rodoviária Federal, também no Rio, a identificação dos policiais rodoviários federais envolvidos na ocorrência e a identificação dos autores dos disparos.
O procurador requereu também o imediato afastamento das funções de policiamento dos policiais envolvidos no caso, além do recolhimento dos veículos “com total preservação de seu estado, conforme verificado após a ocorrência”.
Benones determinou ainda o recolhimento e acautelamento das armas, de qualquer calibre ou alcance, que estavam em poder dos policiais envolvidos, “independentemente de terem sido utilizadas ou não, para realização de perícia”.
Para o HMAPN, o procurador pediu a expedição de um ofício para que o diretor da unidade informe ao MPF o estado de saúde das vítimas, independente de boletins médicos, bem como para o envio, de imediato, dos respectivos Boletins de Atendimento Médico de Juliana e de Alexandre.
Ainda no texto, o procurador determinou à Polícia do Ministério Público Federal que se dirija ao Hospital Adão Pereira Nunes, para apurar o estado de saúde da vítima, com declaração médica, a identidade dos integrantes da equipe médica que prestou os primeiros socorros, bem como da equipe responsável pelo acompanhamento do tratamento”.
Inquérito
A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar a ocorrência da noite desta terça-feira, 24, que envolve policiais rodoviários federais. De acordo com a PF, as apurações começaram após ser acionada pela PRF. Uma equipe esteve na Rodovia Washington Luís (BR-040) para realizar as medidas iniciais, como “a perícia do local, a coleta de depoimentos dos policiais rodoviários federais e das vítimas, além da apreensão das armas para análise pela perícia técnica criminal”, contou em nota divulgada ontem.
Também em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou nesta quarta-feira, 25, que, por determinação da Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal, em Brasília, foi aberto, na manhã de ontem, um procedimento interno para apuração de fatos relacionados aos disparos, na BR-040, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. De acordo com a PRF, “os agentes envolvidos foram afastados preventivamente de todas as atividades operacionais”.
A corporação disse lamentar profundamente o episódio e esclareceu que, por orientação da Direção-Geral, “a Coordenação-Geral de Direitos Humanos acompanha a situação e presta assistência à família da jovem Juliana”.
Quanto às investigações, indicou que colabora com a Polícia Federal no fornecimento de informações que auxiliem nas apurações do caso.
Ministério da Justiça e Segurança Pública
“A polícia não pode combater a criminalidade cometendo crimes. As polícias federais precisam dar o exemplo às demais polícias”, apontou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em nota divulgada pela pasta.
Lewandowski lamentou o incidente, que na visão dele, “demonstra a importância de uma normativa federal que padronize o uso da força pelas polícias em todo o país”.
“O Ministério da Justiça e Segurança Pública lamenta o ocorrido e se solidariza com a vítima e seus familiares. Informa ainda que tem empenhado todos os esforços para que as responsabilidades sejam devidamente apuradas”, completou a nota.