Câmbio favorável atrai avalanche de argentinos para o Brasil em 2025: recorde de turistas e consumo

Câmbio favorável deve provocar uma “avalanche” de argentinos no Brasil

Mesmo em crise, os argentinos representaram, em 2023, 32% do total de estrangeiros no Brasil, triplicando o número de turistas dos EUA

Todos os anos, os argentinos são os estrangeiros que mais visitam o Brasil, mas, neste verão, as praias brasileiras devem receber uma quantidade que promete ser recorde tanto em quantidade quanto em consumo. A “avalanche” de turistas começa agora, graças a uma combinação entre o peso argentino valorizado e o real desvalorizado, a vantagem cambial mais favorável aos argentinos nos últimos 26 anos.

Este verão de 2025 combina elementos não vistos desde janeiro de 1999, quando o real teve a sua primeira grande desvalorização: naquele 11 de janeiro, o real se desvalorizou repentinamente, quando a maioria dos argentinos já tinha planos de férias.

Desta vez, no entanto, a desvalorização do real aconteceu mais forte no último trimestre de 2024, justamente quando os argentinos decidiam o destino das férias. Por outro lado, enquanto o real se desvalorizava, o peso argentino se valorizava. Ao longo do último ano, a Argentina passou de ser um dos países mais baratos do mundo a um dos mais caros.

Desde a criação do real em 1994, os dois anos nos quais tirar férias no Brasil ficou barato foram 1999 e agora. Segundo um estudo comparativo da Fundação EcoSur, quem tirar duas semanas de férias nas praias da cidade argentina de Mar del Plata, por exemplo, vai gastar o dobro do que duas semanas no Rio de Janeiro.

O engenheiro, Eugenio Forchieri, de 56 anos, um frequente no verão brasileiro, está a ponto de embarcar com a família para Florianópolis. Enquanto fazia a mala com o mínimo necessário para poder voltar cheia de compras do Brasil, Eugenio contou sobre a vantagem de um argentino tirar férias no Brasil nesta temporada.

“Pelos meus cálculos, se eu tirasse férias na costa da Argentina, eu gastaria pelo menos o dobro. Está muito caro por aqui. Eu não via uma situação de câmbio tão favorável para os argentinos desde 1999, quando eu estava no Brasil”, compara Eugenio à RFI.

MOEDAS EM SENTIDOS OPOSTOS

Ao longo de 2024, o peso argentino foi a moeda que mais se valorizou no mundo (+40%), enquanto o real foi uma das que mais perdeu valor, 21,82% ante o dólar Ptax, taxa de referência do mercado para determinadas operações financeiras. O Brasil ficou barato para quem tem moeda estrangeira, enquanto a Argentina ficou cara.

Essa variação faz estragos na temporada de verão na Argentina, onde os hotéis duplicaram o preço da diária em dólares. O litoral argentino que, nos últimos anos, teve ocupação acima de 90%, agora mal passa de 50%.

A funcionária pública, Paz Puente, de 46 anos, está nos últimos preparativos para viajar com a família às praias de Santa Catarina. Nos últimos seis anos, Paz optou pelo Brasil, mas sempre contendo os gastos, equilibrando as contas, esticando o dinheiro. Desta vez, no entanto, as decisões de compra não vão passar pela calculadora.

“Sempre fomos ao Brasil no modo austero. Neste ano, temos a expectativa de ir no modo ‘desfrute’, quer dizer, gastar mais”, sintetiza Paz à RFI, enquanto checa no computador os últimos detalhes da viagem.

ÊXODO ARGENTINO

Mesmo em crise, os argentinos representaram, em 2023, 32% do total de estrangeiros no Brasil, triplicando o número de turistas dos Estados Unidos, em segundo lugar com 11%, de acordo com dados do Ministério do Turismo.

Apesar das medidas de choque do governo de Javier Milei no primeiro trimestre de 2024, entre janeiro e março do ano passado, 982.494 argentinos foram ao Brasil. A tendência é que, neste primeiro trimestre de 2025, esse número aumente em, pelo menos, 50%.

A vantagem cambial agora é tanta que a temporada de 2025 pode até bater o recorde de turistas argentinos de 2017, quando o Brasil recebeu 2,622 milhões de argentinos, sendo metade deles no primeiro trimestre.

Os argentinos costumam tirar férias quinzenais a partir do dia 1º de janeiro. Portanto, os aeroportos do país já estão lotados.

Para atender essa demanda histórica de passageiros, as companhias aéreas aumentaram a frequência de voos da Argentina ao Brasil em 30%, em média. São mais de 820 mil assentos, a maior quantidade desde 2008, quando começaram os registros.

PREVISÕES DO SETOR

Mas o transporte aéreo é menos da metade do fluxo. Um pouco mais da metade dos turistas argentinos que aproveitam as praias brasileiras prefere ir de ônibus ou de carro. A maioria que viaja de carro vai ao litoral de Santa Catarina, onde o governo do Estado prevê um crescimento de quase 70% no turismo estrangeiro.

A comunicadora Candelaria Torres, de 30 anos, preferiu ir de carro com a família rumo a Santa Catarina.

“As praias do Brasil são muito bonitas, mais bonitas do que as da Argentina. Avaliamos viajar ao sul da Argentina, mas os preços no Brasil, o custo do aluguel e a logística inclinaram a balança. E, ao Brasil, temos a opção de ir de carro e de usarmos lá o carro. É um país onde a comida, os aluguéis e as saídas são mais acessíveis do que os preços das coisas aqui na Argentina”, conta Candelaria à RFI, enquanto faz as últimas buscas pelos sites de turismo.

Segundo a Turismocity, uma das empresas líderes entre os buscadores especializados na Argentina, a procura por destinos brasileiros aumentou 500% em relação ao ano passado.

O Brasil é responsável por metade de todas as procuras dos argentinos como destino neste verão, segundo a Despegar, líder no setor.

RECORDE DE CONSUMO

Os argentinos também devem regressar do Brasil com as malas cheias. Um dos maiores objetivos são roupas tanto de vestir como de cama, mesa e banho, itens entre os que impulsionaram a inflação de 2024 que deve fechar em torno de 120%.

Os analistas do setor preveem a volta do “dê-me dois”, quando, nas melhores épocas, os argentinos compravam o dobro de tudo. Desta vez, os comerciantes brasileiros devem viver um “boom” de compras.

“Vamos nos permitir alguns luxos e comprar alguma roupa para toda a família”, prevê Candelaria Torres, rodeada pelas filhas.

Em 2017, o ano recorde até agora, os argentinos gastaram US$ 1,6 bilhão no Brasil. Ficaram em média 11 dias e gastaram cerca de US$ 620 cada um. Esses números também devem ser superados agora nesta temporada. Pode ser até que não variem tanto em dólares, mas certamente em reais, depois da desvalorização da moeda brasileira.

“Nos anos anteriores, era uma caipirinha na praia a cada dois ou três dias. Agora, será todos os dias e até duas por dia. Comer camarão na praia era um por temporada. Neste ano, se não for todos os dias, será um a cada dois dias. E serão férias mais longas, vamos ficar uma semana a mais, quando sempre ficávamos duas”, comemora, ansiosa, Paz Puente.

Eugenio Forchieri também descreve o que implica viajar sem se preocupar tanto com o bolso. “Na prática, que eu tenha mais reais no bolso, serão férias muito mais relaxadas. A gente vai poder sair para jantar, beber uma cervejinha na praia e pedir camarão ou qualquer outra coisa. Vai ser muito mais relaxado”, prevê.

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Prática de atividade física na infância beneficia o coração para toda a vida

Exercitar-se na infância beneficia o coração a vida toda

Pesquisadores analisaram como a prática de atividade física no começo da vida
beneficiou a saúde cardiovascular em adultos de 40 anos

Ter uma infância e uma adolescência ativas proporciona diversos benefícios à
saúde, inclusive a longo prazo. Um estudo liderado por pesquisadores da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no
interior de São Paulo, mostra que suar a camisa nessas fases da vida proporciona
benefícios permanentes ao coração, mesmo que a pessoa não se exercite na idade
adulta.

Na pesquisa, publicada no periódico Sports Medicine – Open, os autores monitoraram os batimentos cardíacos de 242 voluntários, todos com
idade média de 40 anos. Eles usaram sensores presos ao corpo que enviavam para
um relógio as informações obtidas. Também fizeram uso de um acelerômetro,
equipamento preso à cintura que media a quantidade e a intensidade da prática de
atividades físicas, durante uma semana.

Além disso, todos responderam a um questionário sobre sua prática esportiva ao
longo da vida.

Após cruzar todos esses dados, os pesquisadores notaram que aqueles que
praticaram esporte quando jovens apresentaram melhor modulação cardíaca na vida
adulta, que é o controle da frequência cardíaca feita pelo sistema nervoso
autônomo.

Esse mecanismo influencia no aumento e na redução da frequência cardíaca. Para
que o sistema cardiovascular funcione adequadamente, essas duas atividades devem
trabalhar em equilíbrio. Por isso, a
modulação cardíaca é considerada um importante indicador de risco cardiovascular
e mortalidade.

“Um dos possíveis mecanismos que justificam o resultado encontrado é que a
prática esportiva na juventude possa ter contribuído para que esses indivíduos
fossem mais saudáveis ao longo da vida”, afirma Diego Christofaro, professor da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp em Presidente Prudente (SP) e
principal autor do estudo.

“Outro ponto importante é o papel anti-inflamatório que a atividade física tem e
que pode contribuir para melhorar a modulação autonômica cardíaca ao longo do
tempo”, acrescenta.

De acordo com os pesquisadores, o aumento da frequência cardíaca durante a
prática regular de exercícios ao longo da vida leva o organismo a fazer
adaptações para que a modulação cardíaca aconteça de maneira equilibrada. E isso
tem influência no funcionamento do coração na idade adulta, independentemente do
nível de atividade que a pessoa pratique quando mais velha. “Mas ressaltamos a
importância da atividade física ao longo da vida toda, a fim de se potencializar
esses resultados”, diz Christofaro.

Para o profissional de educação física Everton Crivoi do Carmo, responsável pela
preparação física no Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital
Israelita Albert Einstein, o estudo apresenta algumas limitações, já que analisa
dados e relatos do passado.

Mesmo assim, abre um importante caminho para trabalhos sobre o tema e para o
incentivo de políticas públicas que promovam a prática regular de exercícios na
infância e na adolescência, incluindo
maior atenção para a importância da educação física escolar, opina o
especialista, que é doutor em ciências do esporte.

Já se sabe que fazer atividade física no começo da vida oferece diversos
benefícios no futuro, como menor risco de desenvolver hipertensão,
obesidade e osteoporose.

“Além disso, o aumento do repertório motor pode promover o prazer no exercício,
o que facilita a aderência a atividades físicas”, acrescenta o profissional do
Einstein. “E uma criança que vivenciou diferentes modalidades aprende mais
rápido outros esportes na fase adulta.”

Como Estimular uma Criança a se Exercitar

A melhor forma de estimular a prática de exercícios desde cedo é procurar
atividades adequadas para cada faixa etária e torná-las interessantes para os
pequenos. As atividades em grupo são boas opções, pois podem aumentar a
motivação, proporcionar um ambiente social agradável e desenvolver habilidades
de trabalho em equipe.

Para obter esses benefícios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que
crianças e adolescentes de 5 a 17 anos pratiquem pelo menos 60 minutos de
atividade física moderada a vigorosa por dia. Além disso, devem brincar e evitar
longos períodos em frente a telas, como computador e celular. “A prática três
vezes por semana já é um ótimo começo e é recomendado estimular sempre que eles
participem das aulas de educação física na escola”, destaca Christofaro.

“Uma infância ativa também contribui para o bem-estar mental e emocional dos
pequenos, ajudando a construir autoestima, disciplina e resiliência — e até o
desempenho acadêmico”, observa Crivoi.

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