Campeã do Drag Race Brasil defende arte drag como profissão: ‘Paguem por nosso trabalho, nos respeitem’
A DE, Ruby Nox falou sobre influências nordestinas e sua visão sobre cultura drag no Brasil. Final da versão brasileira do reality RuPaul’s Drag Race foi ao ar no dia 11 de setembro.
Drag pernambucana Ruby Nox vence a 2ª temporada do ‘Drag Race Brasil’
Uma drag de família sertaneja, que se define como “criança do sertão”, venceu a 2ª temporada do Drag Race Brasil. Ruby Nox foi coroada no dia 11 de setembro, em evento em São Paulo que reuniu as participantes, a apresentadora Grag Queen, os jurados Dudu Bertholini e Bruna Braga e convidados.
Quem dá vida a Ruby é o ator e performer Anderson Braz, de 31 anos, natural de Carnaíba (PE). Durante a exibição, desfilou abraçado com a mãe e a bandeira do seu estado natal (veja momento no vídeo acima).
> “Mesmo sendo uma criança do sertão, mesmo a gente sendo uma família sertaneja com tantas questões, a gente terminou lá, na frente de todo mundo, para o Brasil inteiro, para o mundo inteiro ver”, contou ao DE.
“Estar ao lado da minha mãe ali foi maravilhoso, não só para mim, mas para tantas outras pessoas, porque acabou virando mesmo um símbolo do que essa história significa. De amor, de afeto, de carinho”, disse.
Na competição, as dez drag queens convidadas passam por provas de dança, costura, canto, desfile e batalhas de “Lip Sync” para se consagrar a próxima grande drag queen. A versão brasileira da clássica competição RuPaul’s Drag Race é exibida pela plataforma de streaming WOW Presents Plus.
Como prêmio, Ruby Nox leva para casa R$ 150 mil, um ano de produtos da Anastácia Cosmetics, além de um cetro e a coroa de “Drag Superstar”.
CARREIRA E INFLUÊNCIAS
Com 12 anos de carreira, Ruby Nox conta que começou a se montar inspirada pela franquia americana Drag Race.
“Mas, diferente de muitas, eu queria conhecer de verdade a cena brasileira e, principalmente, a pernambucana. Fui pesquisar quem fazia parte desse movimento e descobri, por exemplo, o Vivencial Diversiones, grupo teatral LGBT que atuou nos anos 1970 e 1980 na região. Nomes como Sharlene Esse, Salário Mínimo e Raquel Simpson foram e continuam sendo grandes referências para mim”, explica.
Na criação da personagem, Ruby também buscou influências da cultura popular nordestina — elementos presentes nos figurinos que apresentou ao longo da edição.
A inspiração para o nome veio de outras influências: “Rubi”, da novela mexicana homônima, e “Nox”, em referência ao “número de oxidação”, uma herança de quando Anderson foi estudante de Ciências Biológicas na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
O IMPACTO DE DRAG RACE E A “CENA DRAG” NO BRASIL
Para Ruby, o Drag Race Brasil contribuiu para que a cena brasileira de drag queens desenvolvesse um olhar mais voltado para a cultura nacional.
“A gente não tem uma tradição muito grande de trabalhar com música nacional — acabamos usando mais músicas internacionais. Então acho que o programa está nos forçando a enxergar a música brasileira como potência performática, e eu acho isso incrível, afirma.
Ruby também acredita que, para a arte drag crescer ainda mais no país, é preciso que as pessoas vejam o trabalho das drag queens como profissão, e não apenas como hobby.
“Existe essa necessidade de enxergar e valorizar o que fazemos, para que as pessoas realmente nos olhem de forma profissional, que paguem pelo nosso trabalho e nos respeitem por isso”, afirma.
“Meu ser artístico demanda tempo e criatividade. A gente não consegue desligar da performance, então isso gera um desgaste emocional às vezes, só de pensar em algo. Às vezes, para criar uma única apresentação que as pessoas podem achar simples — uma performance de cinco minutos —, é necessário muito trabalho. Demanda tempo, às vezes mais de uma semana, para pensar em cada detalhe do look e da performance”.
Após o fim do programa, Ruby Nox fará turnês pelo Brasil e no exterior. Ela também planeja levar o “Cabaré da Rubi”, projeto de drag queens recifenses, para outros estados.