Campinas (SP) abriga 96 etnias e 26 línguas indígenas: desafios e avanços na valorização da identidade.

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Campinas (SP) abriga 96 etnias e registra 26 línguas indígenas faladas, segundo dados do Censo 2022 do IBGE, divulgados nesta sexta-feira (24). Porém, no ambiente doméstico, o português e a Língua Brasileira de Sinais (Libras) predominam: 98,27% da população indígena declarou usar essas línguas, enquanto 94,22% informou não falar nenhuma língua indígena. Especialistas apontam que esse cenário representa um processo de recuperação da identidade e valorização das lideranças indígenas.

A antropóloga e demógrafa Marta Azevedo, professora e pesquisadora aposentada do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó (Nepo) da Unicamp, destaca a importância desse movimento de retomada da identidade indígena. Junto a isso, a docente do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Lilian Abram dos Santos, ressalta que o apagamento histórico das línguas indígenas está ligado a preconceitos e interrupções na transmissão linguística ao longo dos anos.

A população indígena de Campinas cresceu 50,33% em 12 anos, passando de 1.043 pessoas em 2010 para 1.568 em 2022, conforme dados do IBGE. Dentre os indígenas na cidade, foram identificadas 96 etnias diferentes e 26 línguas indígenas faladas. No entanto, a maioria das pessoas afirmou não falar nenhuma dessas línguas em casa, com a predominância do uso do português ou Libras. Essa realidade aponta para um desafio em reverter as perdas linguísticas históricas e resgatar o patrimônio cultural dos povos originários.

Lilian Abram dos Santos destaca que ser indígena não necessariamente está atrelado ao uso de uma língua indígena, evidenciando a complexidade da questão identitária. A falta de transmissão linguística ao longo dos anos, motivada por preconceitos e até mesmo proteção familiar, contribui para esse cenário. O processo de recuperação da identidade indígena passa, em grande parte, pela valorização e resgate das línguas ancestrais, porém ainda não foi observado de forma expressiva em Campinas.

Para Marta Azevedo, o aumento da população indígena na cidade pode estar relacionado à autoidentificação e ao fortalecimento da consciência identitária, especialmente em ambientes urbanos. A valorização das raízes e a possibilidade de reconectar-se com a herança cultural têm impulsionado esse movimento de afirmação indígena. O resgate da identidade é um processo contínuo e fundamental para a preservação da diversidade étnica e linguística presente em Campinas.

Desmistificar estigmas e valorizar as narrativas indígenas são iniciativas essenciais para promover a inclusão e o respeito à diversidade cultural. A compreensão da importância das línguas indígenas como patrimônio imaterial do Brasil, aliada à promoção do diálogo intercultural, contribui para a construção de uma sociedade mais plural e igualitária. O reconhecimento das identidades e vivências dos povos originários é fundamental para construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos os brasileiros, independentemente de sua origem étnica.

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