“Canindé lotado traz esperança para Portuguesa na Série D: a chave para os mata-matas”

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Opinião: Canindé cheio vira chave e dá o tom para “finais” da Lusa na Série D

A última rodada da fase de grupos transcorre como deveria: vitória tranquila por 3 a 0 sobre o Boavista-RJ, pendurados poupados, G4 geral e enfim sinergia com a torcida.

O estádio do Canindé se viu cheio, colorido e pulsante pela primeira vez nesta Série D de Campeonato Brasileiro. Isso aconteceu no momento certo, na última rodada da primeira fase, ou seja, na véspera de a Portuguesa encarar o primeiro mata-mata.

O barulho da promoção com ingresso de graça, via adesão a um plano gratuito do sócio-torcedor da Lusa, foi bastante grande. A repercussão fez com que não só lusitanos afastados voltassem, mas também atraiu amantes de futebol de uma forma geral.

Neste sábado (26), não foi raro encontrar pessoas acostumadas a passar pela Marginal Tietê de carro e ver o Canindé, sem nunca ter entrado. Outras que têm carinho pela Portuguesa. Famílias que ali se sentiram seguras para levar crianças ao estádio.

Foi ainda mais comum encontrar antigos amigos, afastados da Lusa pelos anos de derrocada, gente que há tempos não pisava no clube. Lusitanos levando avô, pai, tio, primo, mulher, avó, mãe, tia, prima, marido. Enfim, reaproximando-se.

Mais do que qualquer conquista esportiva, essa vitória sobre o Boavista-RJ por 3 a 0 serviu para mudar o foco, virar a chave, transformar o clima. Eram necessários tanto um fato novo quanto uma bandeira branca por parte da SAF. A promoção foi isso.

A Portuguesa vinha chegando ao final da primeira fase com desconfianças justificadas da torcida em relação ao apresentado em campo, cobrança enorme sobre o técnico Cauan de Almeida e descontentamento com algumas ações da SAF no campeonato.

Ter o ingresso mais caro de toda a Série D, tirar a promoção de levar um acompanhante grátis na reta final da fase de grupos e ter o presidente Alex Bourgeois batendo boca com torcedores nas redes sociais haviam azedado a relação de modo generalizado.

Quem acompanha esse espaço de opinião leu, nas últimas crônicas, que uma mudança precisava ocorrer. E, como a torcida não é uma persona, mensagens obrigatoriamente tinham de partir da SAF. A tão necessária bandeira branca foi hasteada na promoção.

Mais que o valor, a mensagem. Estender os braços a uma torcida tão castigada, maltratada, traumatizada. Mostrar que quer a torcida ao lado, provar que todos estão no mesmo barco, sinalizar que de fato houve erros, corrigir a rota para daqui em diante.

A última semana foi uma pequena mostra. O clima mudou. O ambiente pesado deu lugar a um ar mais leve. A desconfiança foi substituída pelo apoio. O medo se converteu em ansiedade por estar no Canindé, expectativa pelo mata-mata, para jogar junto.

É uma ação que joga uma responsabilidade enorme sobre a SAF, convenhamos. Além de todos aguardarem algo parecido no mata-mata, os investidores arcaram com um prejuízo para ter o Canindé lotado. Não há ingresso grátis. O menor valor autorizado pela CBF é de R$10,00. Os ingressos são subsidiados. Taxas e impostos seguem.

Só que, ao contrário do que muitos podem pensar, não é uma ação desconectada da visão empresarial que uma SAF precisa ter. O que vale mais? Recolher alguns poucos tostões e ter de jogar a Série D de novo ou investir em uma mudança de clima, em uma aproximação da torcida e ampliar as chances de estar na Série C no ano que vem?

Foi um dia perfeito. Além de o Canindé ter estado lindo, colorido em verde e vermelho, pulsando e cantando, em ambiente de festa e apoio, todos os objetivos esportivos foram cumpridos. Um deles era poupar os jogadores com dois cartões amarelos, para não haver o risco de perder algum deles no primeiro jogo do mata-mata.

A maioria nem relacionada foi. Os poucos que estiveram em campo não foram punidos. Ou seja, todos os dez pendurados estão agora com cartões zerados. Assim como os dois membros da comissão: o auxiliar Léo Cherede e o preparador físico Léo Almeida.

A Lusa foi a campo bem mexida: Rafael Pascoal no gol; Carlos Eduardo na lateral direita e Pedro Henrique na esquerda; Gustavo Henrique e Robson no miolo de zaga; Matheus Nunes, Portuga e Cristiano no meio; Igor Torres, Keven e De Paula na frente.

Carlos Eduardo, Gustavo Henrique, Portuga e Cristiano são os únicos que vinham jogando como titulares. Falta de entrosamento? Haveria e houve. Só que do outro lado havia um Boavista-RJ já eliminado e em desmonte, até com comissão do sub-20.

Foi com tranquilidade, domínio e imposição que a Portuguesa resolveu o jogo ainda no primeiro tempo. Cristiano abriu o placar aos 27 minutos com um belo gol da entrada da área. Ele próprio ampliou aos 36 de pênalti, após uma mão na bola dentro da área.

Era até para a Portuguesa ter ido ao intervalo em maior vantagem. Aos 46 minutos, Keven teria marcado o terceiro gol se o árbitro não tivesse cometido uma enorme falha. O goleiro Rafael Mariano tirou a bola de dentro do gol. Já havia passado da linha.

As imagens da transmissão são claras, mas não há VAR. O árbitro Eleniel Benedito da Silva, de Mato Grosso, achou que a bola não entrou. Um pecado, afinal, Keven merecia ter marcado o dele. O jovem oriundo do sub-20 protagonizou uma das melhores atuações da Lusa no jogo e teve ainda pelo menos três chances. Estava encantado.

De todo modo, no segundo tempo, mesmo após uma natural redução de ritmo, a Portuguesa deu números finais ao placar aos 18 minutos com um gol do meia Denis, que havia acabado de entrar, em chute de fora da área, com falha de Rafael Mariano.

Vitória que, além de poupar pendurados, ainda deu rodagem a reservas, e confiança ao elenco como um todo. Rafael Pascoal teve a primeira chance do ano, Robson vai voltando a ganhar ritmo e sendo importantíssima liderança, Portuga teve uma atuação consistente, Cristiano enfim tornou a jogar bem e ser protagonista, Keven vai se mostrando uma grata esperança, com bastante potencial e personalidade.

A vitória fez a Lusa fechar a primeira fase como quarta colocada na classificação geral da Série D, com 30 pontos, atrás apenas de Aparecidense-GO (32), ASA-AL (31) e Inter de Limeira (30, mas com saldo de gols superior ao rubro-verde: 19×14).

Isso é fundamental para tentar decidir todos os mata-matas em casa. Lembrando que a Portuguesa não só está invicta no Canindé nesta Série D, como fechou a fase de grupos com 100% de aproveitamento. Percebe a importância de encher o estádio agora?

Por ter encerrado essa etapa como líder do Grupo A6, a Portuguesa enfrenta na segunda fase o quarto colocado do Grupo A5, que é o Mixto-MT. O primeiro confronto será em Cuiabá, no estádio Dutrinha, e o segundo será em São Paulo, no Canindé.

Quem passar desse embate pega o vencedor da partida entre Cianorte-PR e Joinville-SC. A ida será em Santa Catarina e a volta será no Paraná. Os mandos da terceira fase seguem a classificação geral. O mais bem colocado, claro, decide em casa.

Portanto, já é possível cravar que, se conseguir ir à terceira fase, a Portuguesa decidirá no Canindé. Isso porque, nem no melhor cenário de paranaenses e catarinenses, e no pior cenário rubro-verde, Cianorte-PR ou Joinville-SC ultrapassam a Lusa em pontos.

Aí se vê a importância de ter vencido essa última rodada da fase de grupos e ter ficado no G4 geral. Aliás, vale destacar que, nas quartas de final, a CBF ranqueia todos que passarem da terceira fase, de 1º a 8º, de acordo com a somatória da primeira fase e dos dois mata-matas seguintes. Aí é chaveamento olímpico: 1º x 8º, 2º x 7º, etc.

A partir de agora, portanto, qualquer clube da Série D precisa superar três mata-matas para estar garantido na Série C. De outro modo, pode-se dizer que os quatro semifinalistas estarão na terceira divisão do Campeonato Brasileiro em 2026.

Um desafio e tanto. É, recorrendo ao chavão, outro campeonato. Quem acompanha futebol sabe que competição assim, que vira mata-mata no meio, costuma mostrar vantagem a quem termina bem a fase de pontos corridos. Momento é algo chave.

A Lusa, líder do grupo e classificada com bastante antecedência, caminhava para iniciar o mata-mata em um clima péssimo. Estádio vazio, torcida desconfiada, críticas ao nível técnico, atritos com a comissão técnica e revolta diante de ações da SAF.

No entanto, essa última rodada da primeira fase cumpriu o papel dela. Faz com que a Portuguesa chegue ao mata-mata no clima necessário. Torcida feliz, confiante e em apoio. Comissão técnica e elenco leves, também confiantes, em clima de decisão.

Nada, porém, está vencido. Muito longe disso. É preciso pés no chão, seriedade e trabalho. O Mixto-MT é um clube extremamente tradicional, tem torcida, vem motivado. E, da porta para dentro, a Lusa tem de admitir e corrigir problemas.

Que venha o mata-mata da Série D e a luta por um sonho de anos: reconstruir o trajeto de volta ao lugar da Portuguesa no cenário nacional. O primeiro passo, que é subir para a Série C, será árduo e difícil. Só que não impossível. Impossível seria sem a torcida ao lado. Agora, com a torcida, a gente sabe que muita coisa pode ser diferente.

*Luiz Nascimento, 33, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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