Cannabis: Uso medicinal pode ajudar na saúde do coração

Pesquisa mostra que canabidiol auxiliou na redução de tumor cerebral grave

O número de óbitos por doenças cardiovasculares é um dos maiores ao redor de todo o mundo, em comparação com outras condições. No Brasil, somente neste ano foram quase 300 mil mortes que se relacionam à saúde do coração, segundo dados do Cardiômetro. O indicador foi criado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Pensando nisso, pesquisas buscam cada vez mais formas de evitar, postergar e prevenir cardiopatias a partir de medidas terapêuticas e tratamentos alternativos. Entre eles, por exemplo, estão os estudos sobre os efeitos da Cannabis na saúde do coração.

“Hoje em dia, já sabemos que a cannabis protege endotélio vascular de condições como aumento de colesterol e diabetes. Ela é vaso dilatadora, então também ajuda a controlar níveis de pressão; tem efeito inotrópico positivo, que melhora a contração do coração para tratar casos de insuficiência cardíaca, por exemplo, ao melhorar o bombeamento do sangue e a oxigenação de tecidos periféricos”, explica a Dra. Maria Teresa Jacob, membro da International Association for Canabinoid Medicines (IACM).

Pesquisa

Segundo a médica, as pesquisas sobre os efeitos da cannabis na saúde do coração vêm sendo desenvolvidas e sugerem que o uso da substância pode contribuir para o bom funcionamento do sistema cardiovascular. Recentemente, por exemplo, um estudo publicado pela revista norte-americana Neuropsychopharmacology apontou que usuários de cannabis têm menor risco de sofrer um AVC, graças à melhora do fluxo de sangue e oxigênio.

“Sabe-se que ela também melhora a motilidade do coração e a contratura do miocárdio, já que promove uma vasodilatação periférica”, conta.

No Brasil, estudos semelhantes também estão sendo realizados, como um do Instituto do Coração (InCor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Com apoio da empresa canadense Verdemed, a pesquisa vai durar dois anos e acompanhar 105 pacientes do InCor que sofrem de insuficiência cardíaca, dos quais metade receberá canabidiol (CBD) e a outra metade receberá placebo. O objetivo é investigar os impactos positivos do CBD na qualidade de vida e verificar se o quadro clínico sofre alterações.

“Nos EUA, o estudo foi observacional, com usuários que já faziam uso recreativo da maconha. Agora, os estudo brasileiro quer observar diretamente a eficácia da cannabis em pacientes que já sofrem com insuficiência cardíaca”, esclarece a médica.

Cannabis x Maconha

Para ela, existe uma diferenciação importante entre os termos maconha e cannabis, especialmente quando se fala dos efeitos das substâncias na saúde do coração. De forma geral, Cannabis é um gênero de plantas originárias da Ásia, sendo a maconha uma de suas variantes. A planta, porém, é considerada droga ilícita em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, por conta do alto teor de THC.

“É o THC que dá os efeitos buscados para quem usa por diversão, com várias cepas já existentes. Já as cepas medicinais possuem concentração bem menores, quando necessário, ou até nenhum THC na composição”, comenta.

De acordo com a médica, é importante reconhecer a diferença porque o consumo recreativo de substâncias com THC pode representar risco em algumas condições de saúde cardiovascular.

“Se o paciente tiver arritmia, por exemplo, não pode usar THC, porque isso pode piorar a condição não controlada”.

Benefícios

A médica explica que os estudos são importantes para ajudar a desmistificar o preconceito que ainda existe ao redor do consumo da planta, mesmo em tratamentos comprovadamente eficazes. Segundo a médica, o cenário de pesquisas se beneficiou da decisão da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, de dezembro de 2020, que retirou a cannabis da lista de entorpecentes mais perigosos, reconhecendo assim as propriedades medicinais da planta, ainda que seu consumo para fins recreativos continue proibido. Ela também ressalta a importância dos estudos para dar mais credibilidade aos tratamentos, já comuns em várias áreas.

“Atualmente, a maioria dos tratamentos com cannabis é off-label, baseado em efeitos percebidos em estudos e testes com animais, ou tratamentos prévios. Porém, para se fazer medicina hoje, deve-se basear em evidências, então precisamos dos estudos que sustentam a prática clínica”, explica.

No entanto, a profissional alerta para a importância do uso responsável da substância.

“Não estamos falando de uso recreativo. Qualquer tratamento nesse sentido deve ser acompanhado por médicos com formação especializada em cannabis medicinal, um remédio que oferece inúmeros benefícios para a saúde da população”, finaliza.

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Sobrecarga de trabalho eleva risco de depressão entre mães cientistas

A porcentagem de mães cientistas com sintomas de depressão foi quase o dobro da verificada entre pais com a mesma carreira, segundo pesquisa apresentada como dissertação de mestrado em Ciências Biomédicas da Universidade Federal Fluminense. Entre as mães entrevistadas, 42% apresentaram sinais da doença, em comparação a 22% dos pais.

A pesquisadora Sarah Rocha Alves acredita que esse adoecimento está relacionado com a sobrecarga de trabalho doméstico e de cuidado.

“Historicamente, as mães têm assumido uma responsabilidade desproporcional na criação dos filhos, e os resultados da pesquisa confirmaram o que já era esperado”, avalia.

Dados complementares da pesquisa reforçam essa conclusão, ao mostrar, por exemplo, que a proporção de mães solo com sintomas foi cerca de 11 pontos percentuais maior do que a daquelas que dividem a criação dos filhos. A diferença foi semelhante entre as mães sem rede de apoio e as que contam com alguma ajuda. Além disso, quase 60% das mães de crianças com deficiência apresentaram alta probabilidade de ter depressão, assim como mais de 54% das mães negras.

De acordo com Sarah, os entrevistados responderam a um questionário chamado PHQ-9, amplamente utilizado para diagnosticar sintomas de depressão. A pesquisa foi realizada em março e junho de 2022, período de arrefecimento da pandemia da covid-19 no Brasil.

“Já estávamos no retorno parcial das atividades, mas essas mulheres ainda estavam sobrecarregadas, conciliando trabalho doméstico, cuidados das crianças e atividades acadêmicas, o que acabou sendo mais complicado para elas. Mas a pandemia só exacerbou o que já era esperado”, argumenta a pesquisadora.

Carreira

Além das consequências para a saúde mental, Sarah acredita que essa sobrecarga também impacta a carreira dessas pesquisadoras. “As mulheres são maioria na graduação e pós-graduação, mas a medida que elas vão avançando, têm uma limitação porque elas não têm políticas de apoio para serem aceitas e conquistarem cargos superiores”.

Levantamento do movimento Parent in Science estima que as mulheres vivenciam uma queda na produtividade que pode durar até 6 anos, após o nascimento dos filhos, o que não acontece com os homens que se tornam pais. Isso provoca um efeito conhecido como “teto de vidro”, que descreve a maior dificuldade que as mulheres têm de ascender em suas carreiras.

Por isso, a pesquisadora defende mudanças na cultura acadêmica e cita como bons exemplos uma iniciativa da própria Universidade Federal Fluminense, que dá créditos a pessoas com filhos nas suas seleções acadêmicas, e os editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro exclusivo para cientistas mães. Ela também considera um avanço a lei sancionada em em julho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que prorroga o prazos de conclusão na educação superior para pessoas que tiverem filhos.

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