Cão de serviço impedido de embarcar em voo foi treinado por 2 anos para atender a comandos e ficar até 24 horas em jejum
Companhia aérea proibiu cachorro de viajar 3 vezes em avião, a primeira delas ao lado de criança autista. Menina embarcou com a família e, desde então, sofre com a ausência do animal. ‘O impacto dessa ausência pode ser o aumento do estresse e volta dos sintomas’, diz psiquiatra.
Família de menina autista é impedida de levar cachorro de serviço do Rio para Portugal na cabine de avião pela 2ª vez
O cão de serviço Tedy, que desde o dia 8 de abril tenta embarcar em voo para Portugal, recebeu treinamento durante dois anos para atender a comandos específicos e, especialmente, ficar até 24 horas em jejum, evitando a necessidade de urinar ou defecar.
O animal é um cão de assistência de uma menina autista de 12 anos e foi impedido de embarcar para Portugal pela companhia aérea TAP. Como o pai estava indo para o país a trabalho, a criança teve que entrar no voo sem Tedy.
“Foi um cão treinado para fazer exatamente essa função, que é de prevenir as crises dela e acompanhá-la em qualquer lugar que ela for. Eles já viajaram de avião juntos. Ele vai no pé do assento, foi treinado para estar ali daquela forma. Ele aguenta até 24 horas em jejum para não comer, para não se hidratar, porque aí, consequentemente, ele também não urina e não defeca”, explica Hayanne Porto, irmã de Alice.
Segundo especialistas, o impacto dessa ausência pode acarretar problemas para a criança autista e para o animal.
“O impacto dessa ausência pode ser desde o aumento do estresse, de ambos os lados, do lado da criança como do lado do animal, pode ser a volta dos sintomas que a gente chama de sintomas desafiantes, uma irritabilidade, inquietude, mau humor”, diz o psiquiatra Fábio Pinato Sato, especializado em Transtorno do Espectro Autista.
A primeira tentativa foi na viagem de mudança da família para Portugal a trabalho. A criança autista estava com os pais, quando o animal foi impedido de embarcar pela companhia aérea TAP pela primeira vez.
“É um cão de assistência. Ele ajuda a família na terapia da Alice, que é uma menina autista com nível 2 para 3 de suporte. E, portanto, ela depende de vários recursos para as tarefas dela do dia a dia. A Alice passou a ser dependente dele, em especial em situação de maior estresse”, explica Renato Sá, pai da menina.
Há mais de 45 dias sem o cachorro, Alice voltou a ter oscilações emocionais e entrar em crises.
Neste sábado (24), em mais duas tentativas e com uma liminar judicial que garantia o embarque do animal, A TAP informou à família que não transportaria o cão na cabine e sugeriu que o animal fosse no bagageiro, mas a passageira não concordou.
Se acordo com a família, o cão de serviço não pode ser manipulado por outras pessoas e não suportaria o estresse da viagem.
Um gerente da empresa chegou a ser autuado pela Polícia Federal por desobediência e o voo que aconteceria na tarde de sábado precisou ser cancelado. Hayanne continuou no aeroporto para tentar embarcar com Tedy em um voo previsto para 20h30. O voo atrasou e decolou na madrugada de domingo (25), sem Hayanne e Tedy.
“Nem a justiça, nem nós pedimos isso. Então fica aqui as desculpas para essas pessoas porque, de fato, não queríamos isso. Queríamos que o voo tivesse acontecido e o cão tivesse vindo conosco e a irmã da Alice também”, diz Renato se referindo ao primeiro voo que precisou ser cancelado.
De acordo com a família, a menina de 12 anos não se comunica verbalmente, o que dificulta o real entendimento do que está acontecendo, provocando ainda mais ansiedade na menina.
“Temos dificuldade de extrair dela o que está acontecendo. Ela se comunica através de um aplicativo. A gente vai explicando que foi um imprevisto, mas não dá para explicar essa situação de liminar e o real motivo do cachorro não ter embarcado”, diz o pai.
A validade do Certificado Veterinário Internacional (CVI), que também autoriza a viagem do animal, expirou neste domingo (25). No sábado, quando a jovem tentou embarcar com o cachorro, o certificado estava em vigor.