Capivaras causam prejuízos e dor de cabeça para agricultores no Ceará

Sem predadores naturais, capivaras se multiplicam, destroem plantações e viram dor de cabeça no Ceará

Em alguns casos, agricultores desistiram de plantar a passaram a depender da renda de programas sociais.

Agricultores de Maranguape deixam de plantar após invasão de capivaras

Agricultores de Maranguape deixam de plantar após invasão de capivaras

Na zona rural de Maranguape, no Ceará, agricultores enfrentam uma dificuldade crescente. Há alguns anos, capivaras começaram a aparecer no local e, desde então, a população desses animais só aumenta.

O problema é que as capivaras têm destruído plantações, deixando muitos produtores rurais sem renda. Órgãos ambientais buscam soluções para preservar a espécie sem prejudicar a economia local. Em algumas situações, agricultores perderam as condições de plantar.

A região, localizada aos pés da serra, é banhada por pelo menos cinco grandes açudes. Às margens desses reservatórios, é comum ver dezenas de capivaras reunidas. João Araújo do Nascimento, agricultor que vive na área há mais de 50 anos, conta que viu o animal pela primeira vez há cerca de cinco anos.

“No início, deixávamos os bichinhos comerem e achávamos bonito, pois só víamos capivaras na televisão ou no zoológico. Mas hoje, não sabemos de onde apareceu tanta capivara,” relatou.

João faz parte das 1.800 famílias de produtores rurais do município que sofreram prejuízos. Ele produzia milho e feijão, mas desistiu após perder a plantação para os animais. Atualmente, sobrevive com auxílios do governo e ajuda familiar.

SEM PREDADORES NATURAIS

A ausência de predadores naturais contribuiu para o crescimento descontrolado das capivaras. Cada fêmea pode gerar de um a oito filhotes por gestação. Em menos de três anos, a reprodução acelerada transformou o ecossistema local. As capivaras agora ocupam cerca de 200 hectares, cercando plantações e reservatórios de água.

Segundo Marcelo Bandeira, zootecnista e diretor da Estação de Piscicultura do Dnocs, “elas devastam plantações de capim, cana, gramíneas e leguminosas, causando perdas significativas.”

Além do impacto econômico, há preocupação com a saúde pública, já que as capivaras são hospedeiras do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. Até o momento, não há registros da doença em Maranguape. A prefeitura, o estado e o IBAMA discutem estratégias para o problema, mas ainda não chegaram a uma solução definitiva.

“Precisamos de uma ação conjunta entre agricultores, municípios e o governo federal, recuperando áreas de proteção para garantir a convivência harmoniosa com a espécie,” defendeu Juca Alencar, chefe da divisão de fiscalização do Ibama no Ceará.

Enquanto aguardam medidas concretas, os agricultores tentam proteger suas plantações com cercas reforçadas, mas enfrentam altos custos. Francisco Benúzio gastou R$ 10 mil para cercar dois hectares. “Esperamos uma solução, pois vivemos da agricultura e, sem ela, não teremos nada,” lamentou o agricultor.

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