HÁ VINTE ANOS – No funeral do Papa, cardeais brasileiros batem boca
Dom Scheid, conservador, explica. Dom Hummes, progressista, defende o presidente. Polarização é coisa antiga
Os cardeais dom Eusébio Oscar Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro, e dom Cláudio
Hummes, arcebispo de São Paulo, procuraram explicar nesta quarta-feira, em Roma,
declarações feitas anteriormente por Scheid a respeito do catolicismo de Lula.
À mesa do refeitório do Colégio Pio Brasileiro, onde está hospedado com Hummes e
dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília, Scheid apresentou uma
declaração por escrito para explicar a afirmação que fizera de que Lula não era
católico, mas caótico.
“Quando se apontou a autoridade do nosso presidente sobre o assunto, reagi – o
que teria sido melhor não ter feito – que não era o senhor Lula que deveria
falar sobre a questão, ‘sendo a escolha do papa uma escolha iluminada pelo
Espírito Santo’. Não me parecia que o assunto do Espírito Santo fosse da alçada
do nosso senhor presidente, dado que nas matérias de fé, de moral e de ética da
nossa igreja, ele me parecia mais confuso, ambíguo (‘caótico’) do que lídimo e
claro, isto é, não suficientemente ‘católico’” – disse Scheid.
Hummes, considerado um forte candidato a sucessor de João Paulo 2º, disse que
Lula se declara católico e “tem comungado mais vezes comigo. Eu tenho mais vezes
dado a comunhão a ele, sobretudo no 1º de Maio. Para mim, é católico como todos
os outros católicos do Brasil. Não como todos, porque os católicos são
diferenciados na sua prática. Eu o considero católico”.
Em sua nota, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro deu a entender que não
pretendia ter feito os comentários que fez na chegada à capital italiana: “Faço
questão de sublinhar que jamais desrespeitei a autoridade constituída ou
legitimamente eleita. A entrevista que concedi, como que forçada por diversos
repórteres e emissoras, deu-se em ambiente impróprio, no barulho da saída do
Aeroporto de Roma, após longa e cansativa viagem.”
Ninguém, muito menos um cardeal, deveria sentir-se forçado a dar entrevista em
“ambiente impróprio”. Deu porque quis. Arrependeu-se depois. Será perdoado por
Deus, mas por Lula, não.