Cartazes que prometem “trazer amor verdadeiro” escondem segredo obscuro

Cartazes que prometem “trazer amor verdadeiro” escondem segredo obscuro

Eles estão por todo lado, seja no ponto de ônibus, nas paredes do viadulto e até nos postes. Os cartazes que prometem trazer o “amor verdadeiro” e “fazer ou desfazer” qualquer tipo de trabalho espírita escondem um segredo obscuro. Acontece que alguns desses anúncios têm como pano de fundo uma espécie de clínica de aborto espiritual, onde a cliente que não deseja seguir com a gestação pode contratar os serviços – cujo preço varia de acordo com o mês de gravidez.

A reportagem do Diário do Estado conversou com uma dessas supostas clínicas de Goiânia por meio do WhatsApp. Se passando por cliente, o repórter negociou com a secretária da mulher responsável por fazer o trabalho. Perguntada se ela realizava abortos, a mulher respondeu que sim e que o serviço seria realizado “pelas entidades”, como se fosse um aborto espontâneo. O valor cobrado foi de R$ 1.565 à vista, para que realizasse o procedimento de uma gestação de três meses. A mulher ainda afirma “está no tempo ideal, não pode demorar muito”.

Para realizar o serviço, ela pediu apenas o nome completo da grávida e uma foto, alegando que o trabalho seria feito no mesmo dia. Caso a pessoa prefira, ela também pode ir ao local por sua conta e risco.

Crime

No entanto, a prática um tanto curiosa, pode configurar em quatro crimes, mesmo não sendo realizada de forma física: aborto, estelionato, charlatanismo e curanderismo. O aborto que é proibido no Brasil, pode ser realizado apenas em três ocasiões, segundo o delegado Paulo Ludovico: quando as mulheres correm risco de vida, nas situações de gravidez por estupro e, recentemente, na presença de anencefalia fetal.

A pena para quem pratica o abordo induzido pode chegar a 3 anos de detenção para a gestante, e de um a quatro anos de reclusão para o médico ou qualquer outra pessoa que realize o procedimento de retirada do feto.

“Caso alguém pague para outra pessoa para fazer um abordo mediante reza e de fato acontecer, o fato pode se configurar em crime. Já se o aborto não acontecer, mesmo que a pessoa pague pelo serviço, a pessoa que realizou o trabalho pode responder por estelionato. Porém, o estelionato depende de representação. Ou seja, a pessoa que pretendia fazer o aborto e levou o golpe teria que se apresentar a polícia para fazer a denúncia”, explicou Paulo.

Charlatanismo e curanderismo

Já em relação aos crimes de curandeirismo e charlatanismo, que se aproximam dos crimes de estelionato e exercício ilegal da medicina, o investigador diz que eles também podem estar presentes na prática do aborto espiritual.

“O charlatanismo é quando alguém anuncia que pode curar um terceiro por meio secreto ou infalível, já o curandeirismo, por sua vez, nada mais é do um indivíduo que exerce a profissão de curandeiro prescrevendo, ministrando ou aplicando habitualmente alguma substância ou diagnostico. Todos esses crimes podem se enquadrar neste aborto oferecido por meios espirituais, já que o trabalho pode de fato ser realizado ou não”, concluiu.

Diálogo

Para entender melhor como é a prática, o jornalismo do DE entrou em contato com uma dessas pessoas que prometem o aborto espontâneo. Veja a conversa abaixo:

Repórter: Bom dia! Minha namorada está grávida e queremos abortar. Me disseram que você pode ajudar.

Clínica: Bom dia! Me chamo Divina sou secretária da dona Laurinda. De quantos meses sua namorada está?

Repórter: Bom dia! Está de 3 meses.

Clínica: Esse trabalho fica 1,565,00.

Repórter: Beleza. Mas como que é? Não risco para a minha namorada não?

Clínica: Não.

Repórter: Beleza

Clínica: Tem que ser logo.

Repórter: Como é o trabalho?

Clínica: É feito com as entidades.

Repórter: Beleza. Precisamos levar alguma coisa?

Clínica: Nome dela completo e uma foto.

Repórter: Beleza. Precisamos ir até vocês?

Clínica: Se você quiser pode vir. Se não você pode só mandar para a Dona Laurinda que ela faz no mesmo dia.

Repórter: Beleza. O pagamento é parcelado?

Clínica: Não.

Repórter: Tá bom. Estou conversando com a minha namorada. Não tem risco de dar errado não?

Clínica: Não. Dá certo. Que dia você quer começar? Só não demora porque não pode passar muito. Três meses é ótimo.

Repórter: Estou vendo com a minha namorada que dia fica melhor. É apenas uma sessão ou tem mais de uma? Aí é tipo abordo espontâneo?

Clínica: Uma sessão só. Sim, espontâneo.

Repórter: Tá bom.

Clínica: Quer marcar?

Repórter: Estou vendo com a minha namorada direitinho. Ela tem medo de prejudicá-la.

Clínica: Não vai não.

Repórter: Vocês ficam aonde?

Clínica: Em Goiânia, no Jardim América.

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Quatro estudantes da PUC-SP são desligados após se envolverem em atos racistas durante jogo

Quatro estudantes de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foram desligados de seus estágios em escritórios de advocacia após um vídeo viralizar nas redes sociais, mostrando atos de racismo e aporofobia cometidos durante uma partida de handebol nos Jogos Jurídicos Estaduais. O incidente ocorreu no último sábado, 17, em Americana, interior de São Paulo. Nos registros, os alunos ofenderam colegas da Universidade de São Paulo (USP), chamando-os de “cotistas” e “pobres”.

As demissões foram confirmadas por meio de notas oficiais enviadas às redações. O escritório Machado Meyer Advogados, por exemplo, anunciou a demissão de Marina Lessi de Moraes, afirmando que a decisão estava alinhada aos seus valores institucionais, com o compromisso de manter um ambiente inclusivo e respeitoso. O escritório Tortoro, Madureira e Ragazzi também confirmou a dispensa de Matheus Antiquera Leitzke, reiterando que não tolera práticas discriminatórias em suas instalações. O Castro Barros Advogados fez o mesmo, informando que Arthur Martins Henry foi desligado por atitudes incompatíveis com o ambiente da firma. O escritório Pinheiro Neto Advogados também comunicou que Tatiane Joseph Khoury não faz mais parte de sua equipe, destacando o repúdio ao racismo e qualquer forma de preconceito.

Repercussão do caso

O episódio gerou forte indignação nas redes sociais e foi amplamente criticado. O Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os alunos da Faculdade de Direito da USP, se manifestou, expressando “espanto, indignação e revolta” com as ofensas racistas e aporofóbicas proferidas pelos alunos da PUC-SP. A instituição ressaltou que o incidente representou uma violência contra toda a comunidade acadêmica.

Em resposta, a reitoria da PUC-SP determinou a apuração rigorosa dos fatos pela Faculdade de Direito. Em comunicado, a universidade afirmou que os responsáveis serão devidamente responsabilizados e conscientizados sobre as consequências de suas atitudes. A PUC-SP reiterou que manifestações discriminatórias são inaceitáveis e violam os princípios estabelecidos em seu Estatuto e Regimento.

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