Universitários trocam ‘trote’ de início das aulas por marca-página com cartilha
que identifica ciclo da violência contra a mulher: ‘Acontece aos poucos’
Além de elencar situações violentas, o material, chamado de ‘Violentômetro’,
divulga números telefônicos de órgãos que podem ser acionados pelas vítimas em
Sorocaba (SP).
Estudantes de faculdade de Sorocaba (SP) criam cartilha que ajuda a identificar
o ciclo da violência contra a mulher. Calouros do curso de direito de uma faculdade de Sorocaba (SP) deixaram de lados os trotes universitários e decidiram fazer como atividade para iniciar a vida acadêmica um projeto que conscientiza as pessoas sobre a violência contra as mulheres.
Uma cartilha, que foi chamada de “Violentômetro”, classifica situações que
servem como sinais de alerta para as mulheres identificarem comportamentos
violentos. Júlia Castro, estudante que participou do projeto, relata que a proposta da criação da cartilha foi feita pelo Centro de Integração da Mulher (CIM) de Sorocaba, que desde 1997 oferece diversos serviços de acolhimento às vítimas de violência.
“Quando o CIM Mulher chegou para a gente com a ideia de uma cartilha, a gente
pensou que o certo seria procurar modos mais discretos de se comunicar com a
vítima para que não alarmasse o agressor, gerando uma briga, uma confusão. Em
muitos dos casos, as mulheres têm medo de procurar ir em instituições ou nem
sequer sabem para onde ir. Chegamos à conclusão de fazer um marca-página”,
explica. Projeto voluntário de estudantes de direito de Sorocaba cria ‘violentômetro’.
Conforme Maria Clara Nogueira Silva, outra estudante que participou da ação, a
comunicação no marca-página visa mostrar para mulheres que nem sempre a
violência é somente a agressão física, e que há violências camufladas em
situações comuns.
Ao elencar situações violentas, o material divulga números telefônicos de
órgãos que podem ser acionados pelas vítimas. O professor de direito e orientador do projeto, Gilberto Montenegro, que também é delegado da Polícia Civil em Salto de Pirapora (SP), diz que, durante a pandemia da Covid-19, notou um aumento no número de casos de violência contra a mulher.
“Números mais atuais mostram que a violência contra as mulheres só aumentou em 10
anos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em apenas três
meses de 2025 foram registrados 22 casos de feminicídio no estado de São Paulo. No interior paulista, foram 12 mortes.”
O Brasil é o 5º país do mundo onde as mulheres mais são vítimas de violência, de
acordo com o Mapa da Violência de 2015. No ano passado, 253 mulheres perderam a vida nas mãos dos agressores; 160 delas viviam no interior de São Paulo. A presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Sorocaba, Bruna Natale, ressalta que discutir medidas para combater a violência contra a mulher também é papel dos homens.
A psicóloga Ariane Toubia ressalta que identificar um comportamento violento
logo no início pode permitir que a vítima busque ajuda e consiga romper o
relacionamento com o agressor em potencial. “Comportamentos como, por exemplo, excesso de controle, intimidação, ameaças, perseguições… Tudo isso é importante identificar porque inicialmente pode ser confundido com cuidado, com zelo, com proteção. É importante identificar comportamentos que se tornam obsessivos e que, infelizmente, podem ter o feminicídio como o final desse ciclo.”
A educação é vista como a ‘chave’ para combater a violência contra a mulher. A presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB Sorocaba destaca a importância da igualdade de gênero desde a educação básica e a promoção de medidas educativas e palestras sobre o tema. Mostrem que não são atitudes de proteção, de amor, mas atitudes que estão sufocando e privando a mulher de ter a sua liberdade de ir e vir. As mulheres sofrem violência nas áreas afetivas, psicológicas e também sexuais. Forçar a mulher a ter relação sexual, forçar um aborto ou tentar controlar
quando a mulher pode ou não engravidar são sinais de violência e abuso por parte
do agressor.
Por meio de projetos como o desenvolvido pelos estudantes de direito em Sorocaba, é possível disseminar informações sobre a violência contra a mulher e buscar formas de prevenção, conscientização e apoio às vítimas. A educação, aliada à atitude e iniciativa, pode ser um passo importante na luta contra esse tipo de violência. O diálogo e a informação são essenciais para promover a igualdade de gênero e combater comportamentos violentos desde o início, antes que se tornem fatais.