Após risco de despejo, casal com 104 gatos se muda com ajuda de vaquinha em Valinhos
Tutores conseguiram novo espaço e realizaram a mudança entre domingo e segunda; para pegar alguns dos felinos, casal chegou a levar 3 horas.
Parte dos 104 gatos na residência em Valinhos (SP) — Foto: Bianca Garutti/ de
O casal de tutores de 104 gatos que enfrenta um processo de despejo por atraso nos aluguéis conseguiu, enfim, um novo lar em Valinhos (SP). Com o dinheiro obtido por uma vaquinha virtual, eles alugaram uma nova residência e completaram, no início da semana, a mudança. Ricardo Eduardo Machado Ugolini explica que a chegada ao novo espaço só foi possível com o pagamento de três aluguéis de caução e outros quatro antecipados. Com isso, deixou o antigo endereço antes do término do prazo judicial.
Mas as dificuldades não acabaram com a obtenção de um novo endereço. Levar todos os gatos foi um desafio, conta o tutor. “A mudança foi bem difícil. De todos os gatos, uns 30, 40 são medrosos, assustados. E para pegar um gato assustado dentro de casa é um absurdo, um Deus nos acuda. Teve gato lá que a gente levou quase três horas para pegar, porque ele ficava fugindo, dando baile na gente”, explicou Ugolini.
Segundo o tutor, ele, a esposa e mais duas pessoas participaram da mudança, que levou 24 horas para ser concluída entre a manhã de domingo (5) e a manhã de segunda (6). “Estava com medo, por conta do prazo judicial. Foi um desespero, direto, sem parar. Chegou uma hora que eu e minha esposa sentamos na calçada e começamos a chorar, porque achamos que o prazo ia estourar. Mas, no fim, deu tempo de fazer tudo”, relatou.
Liminar na justiça
A indefinição sobre o futuro dos gatos era objeto de preocupação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que ingressou com ação na Justiça para garantir o devido acolhimento dos animais durante o despejo dos tutores. Em decisão proferida na segunda (7), a juíza da 1ª Vara de Valinhos concedeu liminar determinando que o município promova o acolhimento dos 104 animais do antigo endereço, pelo risco do despejo, mas os tutores já providenciaram a mudança. O de questionou o MP sobre qual medida seria adotada, uma vez que o objeto da ação já não existe, sendo que os gatos estão abrigados em novo endereço. Por nota, a assessoria informou apenas que “o MPSP não pode se manifestar sobre futuras investigações”. Em nota, a Prefeitura de Valinhos informou que ainda não foi notificada pelo TJSP, mas destacou que “irá se manifestar no processo para comunicar a Justiça que o tutor dos felinos informou à Secretaria do Verde e da Agricultura que já havia conseguido se instalar em um novo imóvel juntamente com seus 104 gatos”.
Entenda o caso
O impasse começou quando o proprietário do imóvel processou os tutores por falta de pagamento do aluguel. A Justiça concedeu a ordem de despejo com prazo extra de 30 dias, mas, devido à quantidade de gatos, o Ministério Público solicitou que a prefeitura interviesse para evitar abandono. Segundo Ricardo, ele resgata animais há cerca de 30 anos e sempre manteve os gatos com recursos próprios. Após a mãe sofrer dois AVCs e morrer em 2021, passou a ter dificuldades para pagar o aluguel e cuidar dos 104 gatos. Em agosto, o de mostrou que o Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA) da Prefeitura de Valinhos operava no limite da capacidade e buscava parcerias com municípios vizinhos e ONGs. A prefeitura afirmou que acolher todos os 104 gatos seria inviável sem apoio externo, devido à falta de estrutura e recursos. A decisão ressalta que a prefeitura pode cumprir a medida com parcerias de organizações de proteção animal, mas deve garantir condições dignas aos gatos. Os tutores devem colaborar no processo de realocação e manejo dos animais. O processo seguirá em andamento após a execução das medidas emergenciais. Caso o município não apresente contestação dentro de 15 dias úteis, haverá revelia — ou seja, as alegações do Ministério Público serão consideradas verdadeiras.