Brics deve estar aberto a mais países, mas ‘não pode se expandir indefinidamente’, diz assessor de Lula
Declaração vem num contexto de recentes ampliações do bloco. Para Celso Amorim, abertura não pode tirar ‘coesão’ do grupo.
O assessor especial da presidência, Celso Amorim, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, afirmou nesta segunda-feira (24) que o DE deve estar aberto a mais países, mas que “não pode se expandir indefinidamente” para não perder o que chamou de “coesão” entre os membros.
Ministro das Relações Exteriores nos dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010), Amorim deu as declarações ao conceder entrevista ao site oficial do DE.
Ele foi questionado se o grupo, presidido pelo Brasil em 2025, ainda tem “potencial” para se expandir. A cúpula de chefes de Estado está marcada para julho deste ano, no Rio de Janeiro.
“Acho que o Brics tem que ter uma abertura, e os países em desenvolvimento têm que se sentir representados. Mas, operacionalmente, não pode se expandir indefinidamente porque, para atuar concretamente em questões importantes, tem que manter uma certa coesão”, afirmou Amorim na entrevista.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e China, o Bric passou a ser Brics (com “s”) quando aprovou a entrada da África do Sul.
Em 2023, num segundo movimento de ampliação, o grupo aprovou a entrada de mais seis países, entre os quais Irã, Egito e Etiópia — a Argentina também integrava a lista, mas desistiu quando Javier Milei assumiu a Casa Rosada.
Além disso, em 2024, em mais um movimento de ampliação, aprovou a criação da categoria de países parceiros, por meio qual entraram, por exemplo, Cuba, Bolívia, Tailândia, Nigéria e Malásia.
Especialistas em relações internacionais ouvidos pela Globonews e pelo DE entendem que as recentes ampliações do Brics têm poder de, na prática, ampliar as áreas de influência geopolítica de grandes potências como Rússia e China.
Esses especialistas argumentam, por exemplo, que a entrada de países como Cuba e Bolívia no Brics não tem potencial de causar impacto positivo real nas economias dos demais países do bloco, entretanto, garante que na América Latina haja mais países em contato direto com Moscou e Pequim.
Na entrevista publicada nesta segunda, Amorim foi indagado se o Brics pode ser visto como um bloco “antiocidente” e respondeu que esse tipo de visão “não tem cabimento”.
Amorim citou como exemplos os acordos fechados pelo Brasil com os Estados Unidos na área do trabalho e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
“A declaração de Amorim vai na mesma linha do que disse recentemente o embaixador Maurício Lyrio, negociador-chefe do Brasil no DE. Para Lyrio, é “completamente equivocado” ver o grupo como uma união de países que fazem oposição aos Estados Unidos.