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Preço e facilidade impulsionam ensino à distância, mas vale a pena?

Última atualização 08/08/2022 | 01:06

A pandemia fez muitas pessoas perderem renda ou terem que trabalhar mais. Para algumas delas, cursar uma faculdade se tornou uma possibilidade somente pela modalidade à distância. Apesar da dificuldade em se adaptar e de algumas críticas, esse tipo de ensino ganha espaço com mensalidades imbatíveis e praticidade para estudar em qualquer lugar e a qualquer hora.  O Centro-Oeste é o terceiro do país em número de matrículas no sistema à distância, de acordo com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes). 

Para a estudante Hayna Sperling, a troca de curso a obrigou a migrar para a graduação à distância.  A instituição onde estuda oferece a faculdade de Design de Interiores apenas com aulas presenciais e não seria possível conciliar com o horário do trabalho. A diferença de preço cobrado como mensalidade também foi bastante atrativo: a universitária deixou de pagar R$800 e começou a custear os estudos por R$300 mensais. Apesar da praticidade, ela relata estar enfrentando alguns obstáculos pessoais.

“Com o EaD, eu tenho mais facilidade, posso estudar quando quiser, não preciso me deslocar até a faculdade e perder tempo ou ter estresse com o trânsito. É só acessar à Internet e estudar. Por outro lado, achei que seria mais fácil. Confesso que estou tendo dificuldade em me concentrar nos estudos e em me esforçar. Eu preciso ir atrás, ter a rotina de abrir as aulas online até para não ganhar falta.  Não é a mesma coisa que ir a uma aula e o professor me explicar o conteúdo”, detalha.

As estatísticas da Abmes são relativas ao primeiro ano da pandemia, em 2020, período que “forçou” muitos alunos a aderirem a aulas não presenciais. No entanto, investimentos em tecnologia e novas abordagens de ensino-aprendizagem ajudaram a impulsionar o hibridismo fazendo com que no primeiro semestre deste ano o número de novas matrículas em cursos superiores semipresenciais e híbridos subisse 43% em comparação com mesmo período do ano passado. 

“A pesquisa mostra que os dois anos da pandemia mudaram a cabeça dos estudantes a respeito da oferta de EaD. O interesse deles pelas graduações não presenciais quase dobrou. Continuamos percebendo que os cursos a distância vão continuar crescendo mais rápido do que os tradicionais. Os jovens ‘provaram’ do modelo híbrido e gostaram e, portanto, hoje têm mais interesse nessa modalidade não presencial do que tinham antes da pandemia”, pontua o  diretor presidente da ABMES, Celso Niskier. 

Ensino à distância, bom somente para alguns

A coordenadora pedagógica e de gestão Moodle da Universidade Federal de Goiás (UFG), Janice Lopes, explica que a adesão ao EaD nos últimos tempos está relacionada à possibilidade de o estudante organizar tempo e espaço de estudo com maior flexibilidade que em um curso presencial frente às dificuldades financeiras e à necessidade de trabalhar. 

“O que compromete a qualidade do curso não é a sua modalidade de oferta, mas a forma como estas ofertas são realizadas (as condições estruturais e técnicas, como Internet e física dos polos dos cursos). De tal forma que também na modalidade presencial encontramos cursos oferecidos com qualidade bastante questionável”, explica.

Na perspectiva dela, o aluno do EaD acaba tendo que se esforçar mais porque a modalidade apresenta um novo modo de organização e sistematização dos estudos, da relação professor-aluno, das relações aluno-aluno. “Isso requer também um tempo de adaptação. Adaptação esta que nem sempre ocorre, nem todos se adaptam com esse modelo didático-pedagógico”, destaca.

Ela acredita que o sucesso de um curso à distância depende do perfil, objetivos e organização do aluno. Janice pontua que a flexibilidade e autonomia exigem mais “jogo de cintura” que  podem se tornar vilãs, caso o estudante acumule muitas demandas do ensino, em alguns casos de forma irreversível. Apesar disso, a especialista não acredita em uma competição entre os sistemas online  e presencial porque têm públicos diferentes entre si.

“Se a oferta de cursos na modalidade a distância está no esteio da necessária democratização do acesso à educação de qualidade por todos, direito constitucional e ainda distante de ser garantido a grande parte da população brasileira, também é preciso garantir que essa oferta seja de qualidade”, defende.

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