A recente viralização de um vídeo mostrando uma festa no Rio de Janeiro, regada a “cacau puro” e acompanhada por um set de músicas xamânicas, trouxe à tona a intrigante cerimônia do cacau. Com mais de seis milhões de visualizações em uma plataforma de redes sociais, vídeo sobre o evento despertou a curiosidade em torno do uso do cacau alucinógeno, uma tradição ancestral das Américas Central e do Sul.
Pedro Belini é um dos jovens que participaram da inusitada “Festa Seiva”, em maio deste ano, e que relatou sua experiência. O objetivo, de acordo com ele, seria “baixar a frequência da mente e sintonizá-los em uma vibração mais elevada”.
Assista ao vídeo:
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A tradição milenar tem encontrado novos adeptos em pleno ano de 2023. O evento viralizado nas redes sociais, com jovens desfrutando do “cacau puro” e imersos em músicas xamânicas, lança luz sobre essa prática.
Durante os rituais que envolvem a ingestão da bebida, os participantes são convidados a entrar em um estado meditativo. A teobromina, um composto químico presente no cacau, age diretamente no sistema nervoso central, promovendo uma sensação de tranquilidade.
Diferentemente da cafeína, a teobromina induz um estado relaxante, melhorando o humor e promovendo a vasodilatação. Terapeutas holísticos têm se destacado nas redes sociais ao oferecer cursos que exploram a “Arte de Tomar Cacau Puro”. Segundo esses especialistas, o consumo regular de cacau puro tem dupla finalidade: auxiliar na eliminação de toxinas do corpo e facilitar o processo de autoconhecimento.
A quantidade de teobromina presente no cacau pode variar significativamente, dependendo das condições de cultivo e processamento. A concentração dessa substância pode influenciar os efeitos resultantes do consumo, desde sensações de calma até a melhora do humor.
Em adultos saudáveis, os efeitos da teobromina podem se estender por até sete horas após o consumo. No entanto, o exagero, geralmente acima de 25 a 30 miligramas por quilo de peso, pode levar a náuseas, dores de cabeça e tremores. Vale ressaltar que a teobromina não é capaz de provocar alucinações.
A ciência por trás do fruto
O professor de química Alisson Sant’ Ana Rodrigues desvendou a teobromina enquanto investigava a concentração de cacau no chocolate industrial. A partir dessa descoberta, sua pesquisa se concentrou nos níveis de teobromina encontrados no chocolate, culminando em seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Como parte da família dos alcaloides, a teobromina confere o característico amargor ao cacau e, por consequência, ao chocolate. Sendo o alimento mais consumido globalmente, o chocolate é a principal fonte de teobromina. Essa substância age no cérebro bloqueando os receptores de adenosina, resultando em uma sensação de alerta e calma, em contraste à ação estimulante da cafeína.