Certidão de óbito de prefeito de Balneário Camboriú assassinado na ditadura é retificada como causada pelo estado brasileiro – 1º prefeito terá sepultamento com honras de estado

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Certidão de óbito de prefeito de Balneário Camboriú assassinado na ditadura é retificada como ‘causada pelo estado brasileiro’

Primeiro prefeito da cidade no Litoral Norte de Santa Catarina, Higino João Pio foi assassinado por agentes do estado após ser preso e mantido na escola de Aprendizes Marinheiros em Florianópolis em 1969.

A certidão de óbito de Higino João Pio, morto na ditadura militar brasileira em março de 1969, foi atualizada 56 anos depois. Primeiro prefeito de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, ele foi assassinado por agentes do estado após ser preso e mantido na Escola de Aprendizes Marinheiros em Florianópolis.

Inicialmente, a causa da morte do político foi atribuída como suicídio. Porém, a versão forjada foi desmentida anos depois após o trabalho das Comissões Estadual e Nacional da Verdade, em 2014. Agora, a mudança no documento acontece após cinco décadas do crime e representa um alívio para os descendentes.

A alteração na certidão de óbito, com data de 14 de março de 2025, acontece por uma determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Conforme o órgão, o documento informa agora que a morte do prefeito ocorreu de forma violenta, causada pelo Estado, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política, durante o regime ditatorial instaurado em 1964.

Morto pela ditatura, 1º prefeito de Balneário Camboriú terá certidão de óbito retificada.

Além da retificação na causa da morte, João Higino Pio terá um sepultamento com honras de estado em Balneário Camboriú, o que não ocorreu em 1969. Os restos mortais serão transferidos da vizinha Itajaí, onde foi sepultado em um caixão lacrado por ordem dos militares, para a cidade onde foi prefeito.

O traslado vai acontecer em 20 de julho, data do aniversário de Balneário Camboriú, informou a prefeitura da cidade. A cerimônia terá presença de autoridades, como ex-prefeitos vivos, desfile em carro aberto, forças de segurança, familiares e protocolo fúnebre de estado.

As mudanças acontecem em meio à repercussão do filme “Ainda Estou Aqui”, que conta o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva pelos golpistas. Em 2 de março, a obra recebeu o prêmio de Melhor Filme Internacional.

Higino João Pio é uma das 434 pessoas assassinadas ou desaparecidas pelo regime no Brasil, e o único morto em Santa Catarina. Natural de Itapema, cidade vizinha a Balneário Camboriú, ele era hoteleiro e dono de terras, e tornou-se o primeiro prefeito eleito da cidade, em 1965, pelo Partido Social Democrático (PSD) na coligação com Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), assim que o município se descolou de Camboriú.

Seu corpo foi colocado, “após a rigidez cadavérica haver se instalado”, pendurado com arame no pescoço, amarrado na torneira e com os pés próximos ao chão, em uma cena de teatro montada. A informação consta no relatório final da comissão, que tem mais de 1,9 páginas entre laudos, fotos e depoimentos.

Os relatórios estadual e nacional das comissões são considerados marco na democracia do país. Em Santa Catarina, o trabalho concluiu que ao menos 698 pessoas sofreram lesões aos direitos humanos naquele período no estado. A principal vitória do grupo, porém, foi “desmentir a mentira criada em torno da morte do Higino”, resume Machado.

Mesmo com o arquivamento do caso na esfera criminal, a família busca reparação por meio de uma ação indenizatória contra a União. Em primeiro grau, a Justiça Federal reconheceu a causa da ação mobilizada pelos advogados da família Carlos Eduardo Serpa e Alexandre Blasi. A família, porém, buscou esferas superiores para aumentar o valor da sentença.

O processo agora aguarda recurso especial no Supremo Tribunal Federal (STJ).

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