Por SARA ANDRADE
O medo é uma coisa engraçada. Sim, apesar do susto e do pavor que domina o momento, as coisas que nos amedrontam acabam um dia virando história de mesa de bar. Mas, enquanto você sofre com palhaços assassinos, criaturas do além e aquela barata indecente que passa correndo sem pedir licença, Xi Jinping, líder chinês que também ocupa o cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da China, tem outro medo oculto, que acaba de ser revelado: os cristãos.
Em entrevista ao JMNotícia, um contato da ONG Portas Abertas contou que durante grandes eventos nacionais, como as próximas Olimpíadas de Inverno na China, os líderes religiosos são avisados para “se comportarem” e “ficarem quietos”. Agora pensemos, como é que exatamente um cristão se “descomporta”? O quanto realmente ele pode ser perigoso e qual o mais ousado dos seus atos de loucura? Talvez, colocar o Padre Marcelo no último volume com “Noites traiçoeiras”? Rezar um terço de joelhos? Pregar a foto do velhinho (o Papa) na parede? Pior ainda: e se o bastardo resolve sair com uma bíblia debaixo do braço? “Precisamos detê-lo!”.
E se minha fonte te parece fraca, vamos recorrer ao que você acredita. Apesar do Portas Abertas ser uma ONG nascida nos anos 50 e estar presente em mais de 60 países ao redor do mundo, vamos consultar uma revista brasileira. Em 14 de novembro de 2017, a Veja publicou: “Chineses são obrigados a trocar imagens de Cristo por Xi Jinping”. O texto vai adiante e explica que o governo quer que ninguém dependa “de Jesus, mas do Partido Comunista”.
Ora, eles creem demasiadamente! Qualquer comunista chinês me parece ter mais fé que um bando de cristãos debaixo duma árvore lendo o Sermão da Montanha. Para praticarem tamanha repressão, é preciso crer que ali há algum poder que ameace o partido. É preciso ter pelo menos receio, e um certo tipo de respeito. E é por isso que repito: enquanto você molha as calças com “O exorcista”, Xi Jinping não apaga a luz de noite, com medo de que apareça para ele a sua avó, que fica o dia inteiro na TV Aparecida, orando e observando a beleza dos padres.
Certa vez li um depoimento de um bispo Chinês que me marcou. Ele contava que, entre os itens proibidos nos aeroportos da China (como bombas e drogas), estava um bem incomum: a imagem de Nossa Senhora de Fátima, especificamente. Uma imagem de santo proibida como se fosse material cortante! Este relato muito é poderoso, e eu explico o porquê: Fátima é uma aparição reconhecida pela Igreja Católica da Virgem Maria, na cidade portuguesa de mesmo nome, em 1917. Maria teria revelado a três crianças um segredo para o próximo século, cuja última parte foi mantida oculta até o ano 2000, e só foi revelada com a autorização de João Paulo II.
Neste segredo, há uma frase da Santa que atinge o cerne da ideologia comunista: “Se não atenderem meus pedidos (de conversão), a Rússia espalhará seus erros pelo mundo!”. Mas, quais são estes “erros da Rússia”? Pois no mesmo ano da aparição sobrenatural, o país se torna o primeiro do mundo a instaurar o Comunismo, mudando seu nome para “União Soviética”. Foi a “Revolução Bolchevique”, protagonizada por figuras como Lênin, Stálin, Trotsky e todos esses homens cujo fim a história já determinou. Portanto, não é tão sem sentido que a imagem de Fátima seja proibida na China: os chineses acreditam serem eles mesmos os “erros espalhados”.
Andrew Garfield, de o “Espetacular Homem-Aranha”, e “Liam Neeson”, da “Lista de Schindler”, protagonizaram no cinema o filme “Silêncio”, lançado em 2016 com direção de Martin Scorcese. É a história de dois padres portugueses que viajam ao Japão no século XVII, na época em que o catolicismo foi banido da nação. Não é a China, mas dá uma boa noção do que já passaram e ainda passam muitos no Oriente, em locais sem liberdade religiosa onde direitos humanos não passam de piadinhas de fim de expediente.
Mas o mundo a Leste não é o único que parece assustado. Não raro, católicos ocidentais são expulsos da frente de clínicas de aborto, onde, sentados em silêncio e sem chamar atenção, rezam o rosário, como lembro de ler sobre um velhinho europeu, ou algumas amigas americanas. Sem esquecer do idoso internado com Covid-19, espancado até a morte por um jovem que teve “um excesso de raiva” quando o colega de quarto fez uma oração. É semelhante àquela musiquinha: “um cristão incomoda muita gente…”. Mesmo sentado. Mesmo calado. Mesmo sem falar de sua fé a ninguém. O simples fato de tê-la para si, como convicção interior… ah, Como irrita!
Precisamos, agora, com uma tremenda sinceridade, em tom de confissão para consigo, descobrir o porquê. Ou, quem sabe, somente admitir algumas coisas feias dentro de nós que vivemos a negar. A China, em 2022, ocupa o 17º lugar na lista de países mais perigosos para um cristão, num levantamento da já citada P.A. Pois que o Deus em que eles tanto creem e por quem tanto sofrem, tenha misericórdia!