China impõe tarifas de 84% sobre produtos dos EUA após novas sanções de Trump

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O Ministério das Finanças da China anunciou, nesta quarta-feira, 9, a imposição de tarifas de 84% sobre produtos importados dos Estados Unidos. A medida entra em vigor já nesta quinta-feira, 10, e é uma resposta direta às sanções comerciais anunciadas pelo governo americano no dia anterior, que incluíam taxas de até 104% sobre itens chineses.

O anúncio chinês foi feito no mesmo dia em que começou a valer uma tarifa adicional de 50% sobre as importações chinesas nos EUA, somando-se aos 34% anunciados na semana passada e aos 20% decretados por Donald Trump em fevereiro. Com isso, todos os produtos chineses exportados para os Estados Unidos passam a enfrentar uma tributação mínima de 104%.

A reação de Pequim não agradou a Washington. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, criticou a decisão e afirmou, em entrevista ao canal Fox Business Network, que “é lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional”.

Também nesta quarta-feira, a União Europeia decidiu retaliar as tarifas americanas ao aprovar a aplicação de taxas que variam entre 10% e 25% sobre cerca de € 21 bilhões (R$ 133 bilhões) em produtos dos EUA, como soja, frango e motocicletas. A medida será implementada em três etapas, entre os dias 15 de abril e 1º de dezembro, e responde às tarifas de 25% impostas por Trump sobre € 28 bilhões em aço e alumínio europeus.

A Comissão Europeia informou que novas propostas de retaliação devem ser apresentadas na próxima semana, mirando especialmente as chamadas tarifas “recíprocas” dos EUA, que incidem sobre mais de € 370 bilhões em exportações da UE.

Antes mesmo do anúncio oficial, a China já havia demonstrado preocupação com a escalada da guerra comercial em um comunicado enviado à Organização Mundial do Comércio (OMC). “A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa séria preocupação e firme oposição a esse movimento imprudente”, disse o governo chinês à entidade.

Segundo a agência Reuters, o Banco Popular da China orientou os principais bancos estatais a reduzir as compras de dólares norte-americanos para tentar conter a pressão sobre o iuan, que enfrenta desvalorização após o aumento das tarifas dos EUA e a reação de Pequim. Além disso, as instituições financeiras foram instruídas a reforçar as verificações em ordens de compra de dólares feitas por clientes, numa tentativa de coibir operações especulativas.

As medidas anunciadas por Trump afetam não só a China e a União Europeia, mas também outros 56 países — incluindo o Brasil, que passou a ser alvo de uma tarifa extra de 10% sobre seus produtos desde o último sábado (5).

Especialistas apontam que essa ofensiva comercial pode ter reflexos negativos na própria economia americana. Estima-se que famílias nos EUA devem perder, em média, US$ 3.800 (cerca de R$ 21.900) neste ano devido ao aumento nos preços de produtos tarifados, com impacto direto em setores como o de vestuário, que pode registrar aumento de até 17% nos preços.

Além disso, os novos encargos ameaçam investimentos que somam quase US$ 2 trilhões. A forma como as tarifas foram calculadas também tem sido alvo de críticas, já que utilizam o déficit comercial bilateral como base, o que gerou distorções como a inclusão do Lesoto, um dos países mais pobres do mundo, que agora será taxado em 50%.

Na última semana, após as primeiras sobretaxas anunciadas pelos EUA, a China havia prometido retaliação e reafirmou sua disposição de “lutar até o fim” contra o que chamou de chantagens tarifárias de Trump.

Apesar das críticas — inclusive dentro do Congresso americano, onde parlamentares republicanos defendem limitar o poder do presidente sobre tarifas — Trump voltou a defender sua política. Em discurso a aliados, declarou “saber o que está fazendo” e afirmou que as tarifas estão fortalecendo a economia americana e atraindo países para renegociações. “Eu realmente acho que a guerra com o mundo… que não é uma guerra de fato, porque todos estão vindo para cá negociar”, disse o presidente, citando o Japão como exemplo.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que os aliados continuarão a ser priorizados nas negociações. Segundo ela, a equipe comercial dividirá os países para firmar acordos sob medida com cada um.

Enquanto isso, a União Europeia reiterou sua posição. “As tarifas americanas são injustificadas e prejudiciais. Elas causam danos econômicos a ambas as partes e à economia global”, afirmou a Comissão Europeia. A nova rodada de retaliações do bloco inclui taxas sobre milho, trigo, cevada, arroz, motocicletas, aves, frutas, madeira, roupas e até fio dental — importações que, em 2024, somaram cerca de € 21 bilhões (R$ 140,17 bilhões), valor inferior ao total de € 26 bilhões em exportações de metais da UE afetadas pelas tarifas dos EUA.

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