Cidade: Conheça as mulheres homenageadas nas ruas de Juiz de Fora, do Diário do Estado à líder espiritual. Redescubra suas histórias!

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Diário do Estado, enfermeira, beata, primeira-dama e líder espiritual: Conheça mulheres que dão nome a ruas de Juiz de Fora

De um total de 4.877 endereços, apenas 536 são dedicados a mulheres na cidade, segundo o Projeto vi.Elas, desenvolvido por estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Quem são as personalidades femininas que dão nome às ruas de Juiz de Fora? Roza Cabinda, símbolo de luta e resistência, Darcy Vargas, primeira-dama do Brasil, e Anna Nery, pioneira da enfermagem brasileira, são algumas das mulheres que são homenageadas na cidade, que completa 175 anos neste sábado (31).

Apesar disso, dos 4.877 endereços do município, apenas 536 são dedicados a mulheres, segundo levantamento do Projeto vi.Elas, desenvolvido por estudantes de comunicação, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Sob a orientação da professora Kérley Winques, alunos do 5º período do curso de Jornalismo apresentaram uma série de reportagens sobre as mulheres que dão nome às ruas da cidade, a partir da coleta de dados e informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Prefeitura.

“A ideia do projeto surgiu a partir de uma percepção minha, mas também das alunas de que quando a gente caminhava no Centro não víamos nomes das mulheres nas placas. Pensamos em construir um projeto que descobrisse onde estão as ruas com nomes de mulheres na cidade e a partir dessa descoberta dar visibilidade para essas histórias, através de um site e do Instagram. Contudo, foi muito difícil achar registros, como aconteceu com a Rua Diva Garcia, que deve ter sido uma líder comunitária”, explica Kérley Winques.

Veja abaixo as histórias de algumas mulheres que são homenageadas com nomes de ruas, avenidas e viadutos em Juiz de Fora.

CENTRO

Viaduto Roza Cabinda: história de luta pela liberdade

Roza Cabinda foi uma mulher negra escravizada em Juiz de Fora, que se destacou por sua luta pela liberdade no século XIX. Originalmente pertencente ao comendador Henrique Halfeld, só obteve sua alforria em 2 de julho de 1873, após uma batalha judicial, na qual precisou comprar sua liberdade.

Sua história de resistência e determinação tornou-se um símbolo na cidade. Em reconhecimento, organizações feministas locais criaram a Medalha Roza Cabinda, destinada a mulheres que contribuíram significativamente para o avanço do município.

O Largo Roza Cabinda, localizado no cruzamento das ruas Moacyr Amado dos Santos e Professor Lander, no Bairro Vitorino Braga, leva seu nome, perpetuando sua memória. Além disso, o viaduto na Rua Benjamin Constant, no Centro de Juiz de Fora, foi batizado com seu nome, sendo o primeiro da cidade a receber o nome de uma mulher.

Rua Kátia Falconi, uma história de solidariedade e amor à comunidade

Kátia Falconi era terapeuta naturalista em Juiz de Fora, utilizava métodos naturais para promover saúde e bem-estar com práticas que respeitam o equilíbrio do corpo e da mente junto com seu marido, Armando Falconi.

Em 1987, o casal criou a Fundação Espírita Allan Kardec, mais conhecida como FEAK. A organização conta atualmente com uma sede no bairro Cascatinha e reúne a comunidade para o planejamento de ações solidárias voluntárias para pessoas necessitadas.

Segundo a Câmara Municipal de Juiz de Fora, a terapeuta construiu 40 casas para moradores do Bairro Dom Bosco. No dia 11 de agosto de 2005, Kátia veio a falecer após ser atropelada por uma kombi.

Dois anos depois, a extensão da rua Silvério da Silveira, ou rua E, no Bairro Dom Bosco recebeu o nome de Kátia Falconi.

ZONA SUL

Darcy Vargas: muito além de primeira-dama, um legado de solidariedade

Darcy Sarmanho Vargas (1895–1968) foi uma figura marcante na história do Brasil, conhecida por seu papel como primeira-dama durante os mandatos de seu marido, Getúlio Vargas, e por sua dedicação às causas sociais. Nascida no Rio Grande do Sul, Darcy casou-se aos 15 anos com Getúlio Vargas, com quem teve cinco filhos.

Em 1930 ela organizou a Legião da Caridade, um grupo formado por mulheres da elite gaúcha para confeccionar roupas para os revolucionários e distribuir alimentos às suas famílias. Com a consolidação de Vargas na presidência, Darcy expandiu sua atuação filantrópica, principalmente com crianças e famílias em situação de vulnerabilidade social, com a Fundação Darcy Vargas e a Legião Brasileira de Assistência (LBA).

No dia 7 de outubro de 1968, pela Lei N.º 3.057, deu nome à Avenida Darcy Vargas a antiga Rua “A”, que liga o Bairro Ipiranga ao Bairro São Geraldo.

Anna Nery: pioneira da enfermagem brasileira

Anna Justina Ferreira Nery foi uma enfermeira pioneira brasileira, considerada a patrona da enfermagem no Brasil. Ela nasceu em 13 de dezembro de 1814, na Bahia, e faleceu em 20 de maio de 1880, no Rio de Janeiro.

Quando o Brasil entrou na Guerra do Paraguai, os filhos de Ana Nery foram convocados para a batalha. Para não ficar longe deles, ela escreveu uma carta ao presidente da província e se voluntariou para cuidar dos feridos durante o conflito. Ela atuou como enfermeira junto aos feridos nos campos de batalha e hospitais militares no sul do Brasil e no Paraguai, mesmo sem formação formal, oferecendo cuidados com grande dedicação.

Após a guerra, foi homenageada pelo imperador Dom Pedro II e pelo governo brasileiro, recebendo várias honrarias por sua dedicação. Em 1923, foi fundada a Escola de Enfermagem Anna Nery, vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No dia 4 de novembro de 1968, por meio do projeto de lei n° 3.073 passou a denominar a Rua Enfermeira Ana Nery a antiga rua “G”, que se inicia na Rua Ingrácia Pinheiro, no Bairro Santa Luzia, pelo governo municipal do prefeito Itamar Franco.

ZONA NORTE

Cléa Gervason Halfeld: democratização da literatura

Cléa Gervason Halfeld foi uma escritora brasileira natural de Juiz de Fora, reconhecida por sua contribuição à literatura local, especialmente por meio de crônicas, contos e poesias. Sua produção literária foi amplamente divulgada em periódicos da cidade, como a revista O Lince e jornais diários, consolidando-a como uma voz ativa na cena cultural juiz-forana.

Ela fez parte de 16 Academias Literárias, incluindo a Academia Nacional de Letras e Artes e a Academia Brasileira de Jornalismo. Cléa nunca fez de suas produções um investimento financeiro, uma vez que doava as obras para as escolas.

Faleceu no dia 9 de maio de 1999. Hoje ela dá nome a uma rua no Bairro Santa Cruz, na Região Norte de Juiz de Fora.

Maria Geny Barbosa: do luto nasceu a caridade

Maria Geny Barbosa (1929–2019) foi uma líder comunitária do Bairro Santa Cruz, médium espírita e fundadora de importantes iniciativas sociais em Juiz de Fora.

Nascida em Ubá, Dona Geny perdeu um filho pequeno por afogamento. A partir de um processo de sofrimento intenso, ela relatou experiências espirituais que a levaram a desenvolver sua mediunidade. Após orientação espiritual recebida na Fazenda Velha, em Sobral Pinto (MG), ela iniciou sua trajetória como médium, dedicando-se a trabalhos de assistência espiritual e caridade.

Na década de 1970, mudou-se para Juiz de Fora e fundou, junto com seu marido Antônio Barbosa, a Associação Espírita Padre Antônio Vieira e a Creche Comunitária Antônio e Maria Geny Barbosa, que hoje recebe 106 alunos.

Dona Geny faleceu em 3 de abril de 2019, aos 89 anos, deixando um legado de amor, fé e serviço ao próximo. Após seu falecimento foi homenageada com a denominação de um logradouro público no Bairro Santa Cruz, por meio da Lei Municipal nº 14.022, de 19 de março de 2020.

Clementina de Jesus: Rainha do Partido-Alto

Dona de uma voz forte e de uma rua no Bairro Benfica, Clementina de Jesus da Silva (1901-1987), conhecida como Quelé, foi uma das mais importantes cantoras da música popular brasileira, reconhecida por sua voz singular e por preservar e difundir as raízes afro-brasileiras no samba e em outros gêneros tradicionais.

Nascida em Valença, no interior do Rio de Janeiro, Clementina era neta de ex-escravizados e cresceu em um ambiente permeado por cantos tradicionais africanos, mas foi apenas aos 62 anos, em 1963, que sua carreira artística teve início, quando foi descoberta pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho enquanto cantava em um bar na Glória.

Considerada a “rainha do partido-alto”, que é um subgênero do samba, seu nome ecoou pelos palcos, teatros e até na Europa, cantando no Festival de cinema de Cannes, e ainda foi homenageada pela escola de samba Beija-Flor de Nilópolis.

ZONA SUDESTE

Helena Petrovna Blavatsky: O lado oculto e espiritual

Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) foi uma escritora, mística e ocultista russa, reconhecida por fundar a Sociedade Teosófica em 1875, nos Estados Unidos, ao lado de Henry Steel Olcott, que encoraja o estudo de Religião Comparada, Filosofia e Ciência. Sua obra teve grande influência no pensamento esotérico moderno, que busca compreender o lado oculto, espiritual.

Em 1905, a sociedade foi estabelecida legalmente, com sede internacional na cidade de Chennai, na Índia, mas se espalhou para o mundo com cerca de cem filiais. Sua filosofia chegou em Juiz de Fora, no ano de 1988 por meio de um grupo de estudo liderado por Tereza de Freitas Carvalho e que, posteriormente, foi transformado na Loja Estrela D’alva.

Em 1998, seu trabalho foi reconhecido pela lei de n° 9231, que rebatizou a antiga rua sem saída do Bairro Vila Ideal, em sua homenagem.

Mulheres Garcia: Mãe e filhas dão nome às ruas do bairro de Lourdes

Nascida no dia 31 de outubro de 1866, Florentina Amélia Garcia foi uma das principais responsáveis pela fundação do Bairro Nossa Senhora de Lourdes. Filha de Joaquim Gomes do Nascimento e Idalina Gomes do Nascimento, foi criada no município de Santa Rita do Ibitipoca, onde se casou, aos 23 anos, com o jovem José Francisco Garcia.

Pouco tempo depois, o casal se mudou para a cidade de Juiz de Fora, onde José exerceu diversos cargos públicos e Florentina se dedicou à realização de diversas atividades filantrópicas. No dia 4 de setembro de 1968, por meio da lei de nº 3013, a rua “Y” do Bairro de Lourdes foi rebatizada com o nome de Florentina.

Além de continuar o legado da mãe, Alzira seguiu a carreira de professora e foi proprietária dos terrenos onde se estabeleceu o bairro Nossa Senhora de Lourdes, contribuindo diretamente para o crescimento da região.

Já a irmã, Maria Garcia, foi uma modista talentosa, fundando um ateliê na cidade e tornando-se referência na costura. Ambas tiveram seus nomes eternizados em ruas do bairro, deixando o legado da família Garcia na formação do local e suas contribuições para a comunidade juiz-forana.

ZONA CENTRO-OESTE

Helena Bittencourt: a voz feminina no rádio e na política

Helena Bittencourt, conhecida carinhosamente como a “mineirinha de voz de ouro”, foi uma das figuras mais marcantes do rádio e da política em Juiz de Fora. Dona de uma voz inconfundível, protagonizou programas com seu próprio nome e se consolidou como líder absoluta de audiência nos horários em que era transmitida.

Nascida em Coimbra, Helena se mudou para Juiz de Fora e foi eleita vereadora pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em 1973. Ela foi a segunda mulher a ocupar uma cadeira no Palácio Barbosa Lima, sede da Câmara Municipal da cidade. Durante sua trajetória pública, também assumiu a Secretaria de Cultura.

Com sua presença marcante no rádio e na política, Helena Bittencourt se tornou um nome inesquecível na história de Juiz de Fora, deixando um exemplo de dedicação à comunicação e ao serviço público. Em sua homenagem, uma rua no Bairro Carlos Chagas e a Rádio Câmara levam seu nome.

ZONA LESTE

Luzia dos Santos Carriço: História de solidariedade e dedicação

Luzia dos Santos Carriço foi uma imigrante italiana que se casou, em 1912, com João Gonçalves Carriço, um dos pioneiros do cinema brasileiro e figura marcante na história cultural de Juiz de Fora. Em 1927, ela e o marido criaram o Cine Popular, um cinema voltado para a população de menor renda.

Em 1966, doou ao Museu Mariano Procópio um acervo da produtora de seu marido, a Carriço Filmes, incluindo filmes históricos e equipamentos antigos que documentam cerca de 40 anos da história social, política e cultural da cidade.

Seu nome foi homenageado na cidade com a denominação de uma rua localizada no Bairro Vila Alpina.

Celina Bracher: Uma vida pela arte

Celina Bracher foi uma artista plástica e escritora de destaque em Juiz de Fora. Membro da influente família Bracher, conhecida por sua significativa contribuição à cultura local, Celina teve uma vida breve, falecendo precocemente aos 30 anos.

Em sua homenagem, seus irmãos — incluindo os também artistas Carlos, Nívea e Décio Bracher — fundaram a Galeria de Arte Celina no final de 1965, no segundo andar da Galeria Pio X, no Centro da cidade. Este espaço tornou-se um marco cultural, sendo considerado por críticos como o primeiro centro cultural do Brasil, por integrar exposições de arte, teatro, cinema, cursos e debates em um único local.

Na residência da família, o “Castelinho dos Brachers”, na Rua Antônio Dias, 300, surgiu o Coral Pio XII, que, em 1967, foi um dos originários do Coral da UFJF. Seu nome foi dado para uma rua no Bairro Linhares.

ZONA OESTE

Itália América Franco: Homenagem à pátria

Itália América Liria Cautiero Franco, conhecida como Itália Cautiero Franco, foi mãe do ex-presidente Itamar Franco. Nascida em 15 de setembro de 1898, na então vila de Taruaçu, Distrito de São João Nepomuceno, na Zona da Mata mineira, era filha de imigrantes italianos.

O nome “Itália América” refletia uma homenagem à pátria de origem de seus pais e ao novo continente que os acolheu. Mais tarde, a família mudou-se para Juiz de Fora, buscando melhores oportunidades educacionais para as filhas.

Em 2011, as cinzas de Itamar Franco foram depositadas no túmulo de sua mãe, no Cemitério Municipal de Juiz de Fora, em uma cerimônia restrita a familiares e amigos, com honras militares. Seu nome hoje está gravado na história e na memória da

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