Cinco municípios de São Paulo investiram R$ 218 milhões com dinheiro da previdência de servidores no Banco Master, alvo de uma operação da Polícia Federal na terça-feira (17). O dono da instituição, Daniel Vorcaro, foi preso no aeroporto de Guarulhos quando tentava fugir do país em um avião particular para a Europa. No mesmo dia da operação, a instituição teve a liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central.
Meses antes, em abril deste ano, a Procuradoria do Ministério Público de Contas de São Paulo (MPC-SP) já tinha manifestado preocupação junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) com os vultosos investimentos feitos por institutos de previdência no banco e o risco de perda de patrimônio no caso de possível decretação de falência do banco. Segundo a apuração do MPC-SP, os institutos de previdência de Cajamar, Araras, Santa Rita d’Oeste, Santo Antônio de Posse e São Roque investiram cerca de R$ 218 milhões em títulos de renda fixa do Master, a maior parte dessas aplicações feita em 2024.
Do montante total, foram investidos: R$ 87 milhões pelo Instituto de Previdência Social dos Servidores de Cajamar; R$ 29 milhões pelo Serviço de Previdência Social do Município de Araras; R$ 2 milhões pelo Instituto de Previdência Municipal de Santa Rita d’Oeste; R$ 7 milhões pelo Instituto de Previdência Municipal de Santo Antônio de Posse; R$ 93,150 milhões pelo Instituto de Previdência Social dos Servidores Municipais de São Roque.
A reportagem pediu posicionamento à Prefeitura de Cajamar, ao Instituto de Previdência Social dos Servidores de Cajamar e ao TCE-SP, mas não havia obtido resposta até a última atualização deste texto. Em nota, o instituto de Santo Antônio de Posse afirmou que não é possível “antecipar impactos financeiros” neste momento e que aguarda informações sobre “eventuais recuperações de valores”. O São Roque-Prev informou que a compra foi realizada seguindo os ritos legais e técnicos e que acompanha o cenário econômico para adotar medidas a fim de resguardar os servidores municipais.
Daniel Vorcaro foi alvo de uma operação que mira a venda de títulos de crédito falsos. A instituição emitia CDBs com a promessa de pagar ao cliente até 40% acima da taxa básica do mercado. No entanto, esse retorno era irreal. Segundo a PF, o esquema pode ter movimentado R$ 12 bilhões. O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um investimento de renda fixa onde você empresta dinheiro para um banco e, em troca, recebe juros sobre o valor investido.
Na manhã de terça, o BC emitiu um comunicado decretando a liquidação extrajudicial do Master e a indisponibilidade dos bens dos controladores e dos ex-administradores da instituição. Com isso, qualquer negociação de compra em andamento é automaticamente interrompida. O negócio com o grupo Fictor teria a participação de investidores dos Emirados Árabes Unidos e previa um aporte imediato de R$ 3 bilhões para reforçar o caixa do Master, que passa por dificuldades financeiras. A compra ainda precisaria da aprovação do Banco Central do Brasil e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).




