Última atualização 23/03/2021 | 18:30
Nesta segunda-feira, 22, o Diário do Estado entrevistou a médica Franscine Leão, que dirige o Sindicato dos Médicos de Goiás, para comentar sobre esta nova fase da Covid-19. “O esgotamento de serviços, o esgotamento de pontos de oxigênio e de pontos de assistência para os pacientes com necessidades de UTIs, ou atendimentos especializados… isso nós estamos vivendo desde o começo de janeiro”, conta a médica. “A morte dos nossos pacientes nos afeta muito. É visível que os profissionais que estão na assistência direta, como os técnicos de enfermagem, estão mais acometidos pelo esgotamento mental e psicológico”, aponta a profissional.
Diante dos desafios, Franscine admite: “Não é fácil estar no fronte. E sobre mortalidade dos médicos, a gente percebe que teve um declínio. Fomos vacinados com prioridade, e precisamos nos preservar. O exército está cansado, isso eu posso dizer para vocês”, desabafa. “Estamos esgotados, para falar a verdade. Quando nós nos dispomos, nós acabamos deixando os nossos expostos também, e isto não é fácil”, conclui.
Comparando com o ano passado, a médica descreveu que “a primeira onda foi muito diferente da segunda onda. Realmente, na primeira, foram pacientes idosos, comórbidos… e na segunda onda não é isso. Estamos vendo muitos pacientes jovens indo a óbito, porque o vírus sofreu mudança”, destaca. “Isso nos fragiliza enquanto profissionais de saúde, porque estamos aqui para lutar com vocês. Nós fomos formados para salvar. Para preservar a vida, mas a sensação hoje é de impotência”, lamenta a presidente do Simego.
Sobre a capacidade do sistema de saúde, ela alerta: “No último mês a gente observa um total esgotamento dos serviços de saúde. Os pacientes estão ficando 15, 14, 12 dias internados das UPAs. Isso afoga o serviço de pronto atendimento, causa um desgaste e dificulta o acesso a que precisa de um lugar no oxigênio. Até atendimentos privados já fecharam suas portas diante da situação caótica. Não está tendo dinheiro que resolva”, observou a entrevistada.
Diante de polêmicas, a especialista se posicionou como contrária à politização do vírus, mas defendeu que a medicação escolhida para o tratamento da nova doença (que é envolta em dúvidas) deve ser firmada por meio de acordo entre paciente e médico. A entrevistada citou ainda alguns medicamentos que estão sendo usados nas fases mais graves da doença, como Heparina e Clexane, na tentativa de combate aos coágulos sanguíneos e à trombose, já que, segundo a médica, “o que mata não é diretamente o vírus, mas as suas complicações“, explicou.